21º Congrenf: Análise de Conjuntura abre Congresso com reflexões profundas sobre os desafios da categoria e do país

A mesa de Análise de Conjuntura abriu, nesta terça-feira (10), o 21º Congresso Regional dos Petroleiros do Norte Fluminense (Congrenf), em um momento essencial para entender o cenário político, econômico e social que impacta diretamente a categoria petroleira e o Brasil. A atividade foi conduzida pelo coordenador do Sindipetro-NF, Sérgio Borges, e pela diretora do NF e da FUP, Bárbara Bezerra.

Os palestrantes convidados foram Ricardo Berzoini, ex-ministro de Estado dos governos Lula e Dilma e Normando Rodrigues, advogado trabalhista, assessor jurídico da FUP e do Sindipetro-NF.


A disputa do orçamento e os limites do governo

Berzoini destacou que, apesar dos avanços conquistados, o atual governo opera em uma correlação de forças extremamente limitada. Segundo ele, apesar dos avanços conquistados desde a ascensão do campo popular ao poder executivo, o Brasil ainda está distante de uma verdadeira democracia representativa. Ele destacou que ocupar o Executivo não significa ter o poder real, pois há um Legislativo em grande parte conservador e um Judiciário que, segundo ele, também expressa traços históricos de atraso e alinhamento com o status quo.

“Chegar ao chefe do Poder Executivo é um passo importante, mas não é a chegada ao poder. Ainda temos um Judiciário extremamente conservador e um Legislativo dominado por um centrão que atua como mediador entre os interesses populares e os setores mais retrógrados, ligados a milícias, ao fundamentalismo religioso e ao capital financeiro”, afirmou.

Berzoini criticou o que chamou de “enfraquecimento do Executivo”, resultado direto do golpe contra Dilma Rousseff e da ascensão de Jair Bolsonaro, que aumentou o poder das emendas parlamentares e do chamado “centrão”. Para ele, o atual governo precisa deixar de lado a timidez e passar a dizer “o que precisa ser dito”.

O ex-ministro chamou atenção para a disputa pelo orçamento público como campo de batalha da luta de classes. “Não há neutralidade na alocação de recursos. O orçamento é política pública. Quando se entrega quase metade para o pagamento de juros da dívida, o que sobra para educação, saúde e políticas sociais é insuficiente para reverter desigualdades históricas”, afirmou.

Berzoini também criticou a falsa ideia de estabilidade promovida por alguns setores e lembrou que o bolsonarismo não é um fenômeno superado. “A extrema direita segue articulada, bem financiada e com forte presença institucional. Não basta derrotar Bolsonaro, é preciso enfrentar o projeto autoritário e ultraliberal que ele representa”.


A face do fascismo contemporâneo

Com uma fala contundente e recheada de metáforas, Normando Rodrigues fez uma profunda análise da crise estrutural do capitalismo e seus reflexos na política brasileira. Ao citar um episódio real envolvendo crianças brigando por uma bola em um clube tradicional, ele mostrou como as disputas cotidianas revelam a lógica de exclusão social.

“Essa não é uma briga qualquer. É um episódio da luta de classes: entre o clube e a babá, entre quem tem poder e quem não é nem considerado parte do jogo”, afirmou. Para Normando, essa metáfora expõe o processo de desumanização e exclusão das classes trabalhadoras e periféricas, potencializado pela automação, pela financeirização da economia e pela ascensão de valores fascistas.

O assessor jurídico da FUP também alertou para o avanço do fascismo como resposta do capital às suas crises internas. “Quando o sistema não consegue mais se sustentar pela democracia liberal, opta pelo fascismo como modo de controle. A babá pode levar um soco na cara, porque não é mais vista como cidadã, como eleitora, como sujeito político”.

Normando criticou duramente o papel das instituições nos últimos anos e lembrou que o fascismo não é uma ideologia a mais, mas uma negação da política por meio da violência. “É preciso entender que Bolsonaro foi apenas o fantasma da vez. A elite brasileira fez uma escolha consciente pelo fascismo, e ele não será vencido apenas com discursos ou processos judiciais”.

 

Luta de classes e consciência política

Ambos os palestrantes reforçaram que é no movimento sindical que a classe trabalhadora precisa se reconhecer e se organizar para enfrentar esses desafios. “Classe social só se identifica como tal quando se confronta com outra”, ressaltou Normando. Já Berzoini lembrou que “a disputa política não se dá apenas nas eleições, mas principalmente nas ruas, nos locais de trabalho e nos espaços públicos de debate”.

Ao final da mesa, o recado foi claro: é hora de radicalizar a luta democrática e a defesa dos direitos da classe trabalhadora. A análise de conjuntura do 21º Congrenf cumpriu seu papel ao provocar reflexão crítica e fortalecer a consciência coletiva da categoria petroleira diante dos dilemas do presente.

 

Regimento Interno

A mesa de conjuntura iniciou logo após a avaliação e votação do Regimento Interno do Congresso que acontece de 10 a 12 de junho, na sede do Sindipetro-NF em Macaé. Conduziram a mesa os diretores Guilherme Cordeiro e Bárbara Bezerra e o Coordenador do NF, Sergio Borges, com assessoria Jurídica de Carlos Eduardo Pimenta.