João Antônio Felicio [foto], Antonio Lisboa e Ariovaldo de Camargo*
Hoje é o Dia Mundial do Trabalho Decente encampado pela Confederação Sindical Internacional (CSI) e suas organizações regionais. O sonho da classe trabalhadora em todo o planeta é transformar esta data num momento de comemoração, de uma conquista, da efetivação de um projeto de justiça social acalentado por gerações. Infelizmente, pelos descaminhos que a globalização neoliberal têm nos conduzido, ainda precisaremos lutar muito contra o capital para barrar o retrocesso e construir um novo tempo.
Os ataques movidos pelas corporações transnacionais, pelo sistema financeiro e por governos cada vez mais submissos à cartilha do grande capital têm aprofundado ainda mais a crise política e econômica causada pela lógica excludente da concentração. E nem poderia ser diferente, pois para garantir um padrão de vida cada vez mais nababesco a seus altos executivos, as transnacionais têm cortado salários e direitos dos seus trabalhadores, ampliado a precarização, colocado em risco a saúde e a segurança do meio ambiente e dos locais de trabalho, multiplicando lesões, mutilações e mortes. Nossa luta, portanto, passa a ser de resistência, por nossos direitos humanos, por nosso direito à vida.
Como falar em trabalho decente quando vemos centenas de milhares de homens e mulheres forçados a se jogar nas águas do mar em busca de um horizonte mais seguro para suas famílias? Como falar em trabalho decente quando as grandes potências erguem muros e cercas, cavam fossos materiais e judiciais para barrar a entrada de imigrantes que nada mais querem do que vender a sua força de trabalho?
Do campo inimigo, os ataques não vêm apenas com bombas, drones, balas e cacetes. O grande capital se utiliza principalmente dos seus grupos de pressão, corrupção e chantagem para aliciar e submeter parlamentares e governos, transformando a democracia em um circo ao fazer com que o poder do dinheiro se sobreponha ao Estado de direito. As mesmas superpotências que turbinam seus lucros às expensas da exploração de mão de obra barata ou escrava, que fomentam as guerras e disputas fratricidas, são as que fecham suas fronteiras diante do macabro resultado de sua política.
Por outro lado, o simples respeito à lei obrigaria as grandes empresas a prestarem contas sobre os seus desmandos sociais e trabalhistas, mas também sobre a evasão fiscal e a terceirização desenfreada que contamina o conjunto da cadeia produtiva, aprofundando a informalidade.
Em nosso país, o governo interino e golpista tenta impor reformas como a previdenciária e a trabalhista, cujo único objetivo é a retirada de direitos, em total afronta ao projeto aprovado pelas urnas.
A única resposta possível para barrar e reverter tamanho retrocesso, ao qual se soma agora a adoção de “ajustes fiscais” profundamente contrários não só ao interesse como à própria sobrevivência da população, é a adoção de um novo modelo de desenvolvimento com redistribuição de renda, que fortaleça o mercado interno e rompa com a camisa de força da dependência, imposta contra a soberania e a própria democracia.
É nesta luta que estamos profundamente envolvidos e irmanados. Como já disse um grande batalhador: “É preciso sonhar, mas com a condição de observar a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles!”
* João Antonio Felicio é presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI). Antonio Lisboa é secretário de Relações Internacionais da CUT. Ariovaldo de Camargo é secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT.