“O despreparo e o descuido com a vida humana da gestão da UTGCAB (antiga TECAB) hoje se resume nesta frase: “muda-se o dono, porém a forma de enxergar as prioridades não muda”. O desabafo é do diretor do Sindipetro-NF, Claudio Nunes, que participou ontem de reunião extraordinária da Cipa da Unidade de Tratamento de Gás de Cabiúnas.
O sindicato considera insatisfatórias medidas relatadas pela gerência da Petrobrás para sanar pendências de segurança registradas na comissão. A entidade vai acionar órgãos de fiscalização para que os fatores que expõem os trabalhadores a risco sejam resolvidos.
A situação mais grave é a de relatos desde março de 2016 de mal estar e tonturas entre trabalhadores que atuam próximos a unidades que recebem ou enviam o gás do pré sal ou um dos seus derivados (C5+).
De acordo com Nunes, há suspeita de que o departamento de saúde da empresa não registrou os relatos dos trabalhadores. Também não houve emissão de CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) e, mesmo com o alertas dos membros da Cipa e do Sindipetro-NF — de que mal estar ou tonturas em trabalhadores na área operacional podem causar acidentes e mortes — a gestão não agilizou medições para detecção qualitativa dos compostos que os trabalhadores estão sendo expostos.
Após reuniões tensas na Cipa da unidade, a empresa afirmou que haveria a análise, mas apenas em um ponto. Após a divulgação do relatório da medição, que foi quantitativa, foi chamada uma reunião extraordinária, conforme orientação do sindicato, para o dia 22 de dezembro, que acabou por ser remarcada para ontem.
De acordo com a empresa, em observação registrada em ata, o reagendamento da reunião ocorreu “devido o indicativo de greve emitido pelo sindicato local”. Nunes lembra que havia também um aviso de greve protocolado no dia 26 de dezembro, dando conta de que a greve seria a partir do dia 28, e nem por isso foi cancelada a reunião extraordinária novamente.
“Houve desrespeito da NR-05 no que se refere à independência da Cipa em relação à gestão da empresa, como também da obrigação da empresa de dar suporte à Cipa para realizar seu trabalho, não influenciando negativamente com cancelamento de reunião extraordinária, convocada por que a comissão considerou que haveria risco grave iminente de acidente” explica o sindicalista.
Medidas insatisfatórias
Alguns membros da Cipa contestaram muitos pontos de um Informe SMS que saiu para os trabalhadores no dia 23 de dezembro, sobre medidas mitigatórias das consequências da exposição aos químicos, porém a posição da gestão é aguardar outras análises para confirmar o que os trabalhadores estão sendo expostos.
O Sindipetro-NF alertou que o olfato do trabalhador não pode ser o único alarme de problemas, para depois tomar outras ações, pois o olfato é suscetível à perda de sensibilidade após exposições prolongadas ao “odor”. Além disso, cada trabalhador tem um olfato com nível de sensibilidade. Este questionamento foi baseado trechos do Informe SMS: “1 – Caso seja sentido odor desagradável e esse esteja causando algum sintoma anormal…”. E ainda: “Se o odor estiver presente em salas…”.
Para o NF, o correto era interromper a operação destas unidades suspeitas de emissão desses gases que estão provocando estes acidentes, até a apuração do agente causador e adoção de medidas que realmente preservem a saúde do trabalhador, como é dito na NR-09: “…visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais”.
O sindicato também denuncia que a gestão insiste em liberar o acesso ao relatório somente vista dos trabalhadores, inclusive para a Cipa, sem fornecer cópia para um melhor estudo. “Isso dificulta o acesso, pois a empresa mostra que não há interesse de transparência e, por consequência, tenta segurar qualquer tentativa dos trabalhadores de cobrar de uma forma qualificada melhores condições de trabalho”, protesta Nunes.
Ainda assim, a entidade teve acesso a uma relação dos compostos encontrados na avaliação feita e que estão no relatório. São os seguintes: Sulfeto de Carbonila, Dimetilsulfeto, Etil-Metil-Sulfeto, Dietil-Sulfeto, Etil-Metil-Dissulfeto, DietilDissulfeto.
Sobre o Sulfeto de Carbonila, por exemplo, sabe-se que tratar-se de produto que “pode ser fatal caso inalado. Causa paralisia respiratória por depressão do sistema nervoso central. Superexposição pode causar dor de cabeça, vertigem, confusão, náusea, vômito, diarréia, inconsciência e morte. Rinites, faringites, bronquites (irritação das passagens do nariz e garganta), pneumonites, cianose (coloração azulada da pele devido à falta de oxigênio) e edema pulmonar (fluido nos pulmões), também podem ocorrer”.
O diretor destaca que esta descrição do produto químico coincide com os sintomas que os trabalhadores tem relatado. Porém mesmo assim a empresa insiste em manter os trabalhadores expostos.
Ainda na reunião de ontem da Cipa, foi declarado para os representantes da gestão local, pelo Sindipetro-NF, e registrado em ata, que a empresa não pode aguardar um trabalhador ter que morrer por causa da intoxicação para que realmente seja feita algo.
“Será um assassinato premeditado. Porém ainda tem como resolver de uma forma que preserve centenas de vidas humanas que trabalham em Cabiúnas, é para ficar fora de operação as unidades suspeitas destas emissões, e verificar os agentes, e construir formas (procedimentos, inclusão de tecnologias e etc) para que elimine esta exposição. Sem esquecer dos pontos fugitivos (flanges, válvulas, ventes e drenos) existente em todo terminal”, relatou Nunes.