Alexandra Kollontai: a mulher que incendiou o planeta

*Por Daniela França Chagas Valente

Uma tarefa de todas as socialistas hoje é manter viva a história das revoluções e intervenções socialistas que muitas vezes estão à mercê da guerra ideológica que o capitalismo promove, colonizando nossas memórias.

 Em 2017, ano em que se comemoram os 100 anos da revolução russa, é fundamental resgatar as memórias subterrâneas deste período, dimensionar, atribuir a real importância daquele movimento que abalou o mundo e foi sem sombra de dúvidas o mais profundo processo revolucionário da Europa. Neste sentido, um viés que tem sido destacado é a participação das mulheres nesse processo, revelando a estreita ligação entre o processo revolucionário e o dia internacional das mulheres.

Neste contexto destacou-se a militante Alexandra Kollontai, bolchevique, figura revolucionária que participou da conferência de Copenhague que aprovaram a construção do “primeiro dia da mulher”. Kollontai sempre destacou que o voto das mulheres era uma garantia de um parlamento mais democrático e falava da necessidade de ampliar a participação feminina na política.

Uma das únicas mulheres na direção do partido bolchevique, Kollontai deixou um legado de formulações sobre a vida das mulheres, debates que ainda mostram-se necessários. Ela foi figura fundamental na implementação de políticas públicas voltadas para as mulheres, como creches, restaurantes e a legalização do aborto e a abolição da prostituição. Além disso, Kollontai questionou a moral sexual vigente na época.

Kollontai sempre destacou a importância da construção de um “dia das mulheres trabalhadoras” como ela mesma afirma em seu manifesto de 1920: Esse devia ser um dia de solidariedade internacional na luta por objetivos comuns e um dia para revisar a força organizada das mulheres trabalhadoras sob a bandeira do socialismo (KOLLONTAI, 2010,p.193). Ela defendia que a questão da opressão da mulher deveria ser central na construção de uma sociedade igualitária.

Ler Alexandra Kollontai hoje é manter vivo o projeto do feminismo socialista, reafirmar valores da militância e da camaradagem, fundamentais para um feminismo ligado à esquerda. Num momento em que os direitos das mulheres trabalhadoras vêm sendo ameaçados com a reforma da previdência, ir às ruas e resgatar a tradição de luta do dia internacional das mulheres torna-se primordial.

 

*Daniela Valente é graduada em Letras e militante da Marcha Mundial de Mulheres de Minas Gerais.