Um dos momentos mais importantes da história recente da organização petroleira foi a greve de 2015. Entre tantos motivos, porque retomou a centralidade da pauta política nas reivindicações sindicais. Foi uma reação contundente a uma tese que vez por outra ganha alguma visibilidade na categoria, a de que entidades como o Sindipetro-NF deveriam ser “apolíticas”.
Por “apolítica”, entendem estes o seguinte: sindicato é para reivindicar aumento de salário e melhorias nas condições de trabalho. Não deve se meter com políticos e partidos. Não deve se envolver com a disputa de projetos estratégicos para o País. Não deve querer interferir na gestão da Petrobrás.
Qualquer militante, independentemente do seu perfil ideológico, reconhece que estas premissas são irrealizáveis, uma vez que mesmo que se ativesse ao circunscrito pela pauta do “aumento de salário e melhorias na condições de trabalho”, estaria conectado a uma rede decisória que se relaciona com a grande política e, em última análise, está abrigado na luta de classes.
Querer que sindicatos sejam “apolíticos” é uma renúncia a um direito básico de expressão política, uma espécie de autocastração no direito de participar da vida pública e de mudar a realidade. Seria como querer calar a própria voz e reduzir o papel da entidade a um hipotético papel técnico que, de fato, não existe — muito embora alguns políticos espertinhos e marketeiros gostem de surfar a onda da rejeição à política para se autoproclamarem “técnicos”, quando na verdade servem a um projeto ideológico quanto qualquer outro, de modo consciente ou não.
Esse equívoco do “perfil técnico” também fez estragos na Petrobrás, com a eleição de uma conselheira para o Conselho de Administração da companhia que está aprovando tudo o que a gestão Mishell/Parente quer.
Agora, quando mais do que nunca se tornam nítidos os ataques aos trabalhadores, com origens claramente identificadas e fartamente denunciadas, a turma da “apolítica” deve estar afônica. Não há um só alerta dado pela entidade há pelo menos dois anos que não esteja sendo concretizado neste momento de continuidade voraz dos efeitos do golpe, dentro e fora da Petrobrás.
A próxima vez que alguém vier com essa conversa de “apolítico” para o seu lado, desconfie. Há muito de político nessa opção.
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