Nascente 1003

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 Nascente 1003

 

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EDITORIAL

Reagir ou reagir

Agora eles têm hegemonia nos poderes executivo, judiciário, legislativo e midiático. A ponto de nem mais fazerem questão de, ao menos a curto prazo, se preocuparem com a legitimidade que só pode surgir por meio do poder popular. Estão aproveitando uma trágica “janela de oportunidade” para atuarem em todas as frentes que sonham desde os anos 90, implementando agenda entreguista que foi interrompida nos governos Lula e Dilma.

Mas alguém poderá lembrar que eles também tinham essa hegemonia, em todas as áreas citadas, nos governos até FHC. Mas há algumas diferenças: a primeira delas é a de que, por ainda não ter ocupado o poder central, a esquerda não carregava o desgaste e a desconstrução descomunal feita em relação às suas lideranças. Agora, a população desconfia até mesmo de quem está e sempre esteve ao seu lado, o que é altamente compreensível dado o bombardeio diário das TVs abertas, especialmente a Globo, contra Lula, o PT e todos os vermelhos.

Outra diferença crucial é a de que naqueles nefastos anos 90 – que, lembremos, não levou a Petrobrás por completo, mas levou a CSN e dezenas de outras empresas públicas – havia algum constrangimento mesmo em alguns setores nacionalistas de Direita em entregar o patrimônio nacional e colocar a soberania em risco. Mesmo entre os setores conservadores não havia consenso sobre essa agenda neoliberal.

Hoje eles perderam qualquer pudor. São vendilhões que traem a Pátria sem cerimônia, e se aliam de modo subserviente aos interesses das multinacionais pensando apenas nos seus projetos de poder e nos ganhos do mercado financeiro. Não têm, nem de longe, a mais pálida sombra de algum projeto nacional que promova um desenvolvimento inclusivo.

O anúncio feito pela Petrobrás na última sexta-feira foi um gesto ousado da gestão da empresa, que não ocorreria se não houvesse a crença de que não haverá reação popular, em virtude da apatia cultivada em ambiente de instabilidade política e quebra do pacto democrático, que leva as pessoas a voltarem perigosamente para si mesmas, afastando-se de qualquer engajamento coletivo que ultrapasse os limites da sua família.

Mas não há outro caminho senão reagir. Ousaram testar a categoria petroleira naquilo que ela tem de mais precioso: o comprometimento histórico com a defesa da Petrobrás. Eles não podem vencer. Não deixaremos. Todos à luta.  

 

ESPAÇO ABERTO

As entranhas do País*

Há pouco mais de um ano a presidenta Dilma Rousseff era defenestrada do cargo sob “crime” de “pedaladas fiscais”. Tida como uma presidente incapaz de negociar com o Parlamento, hoje os deputados mostraram a que tipo de “diálogo” são de fato condescendentes.

Por sua vez, acusado de favorecimento pessoal em cifras milionárias com toda sorte de provas inquestionáveis, Michel Temer foi gabaritado por seus comparsas no reality show da corrupção nossa de cada dia. É a manifestação cristalina do que politicamente nesse país se entende por “justiça”.

Para piorar, uma vez que a nossa justiça, ela própria, é política, simplesmente não temos justiça, temos só política. E dessa qualidade.

Mas para que nem tudo seja leite derramado, queira ou não, na mixórdia desses tempos, a absolvição de Temer por essa gente é a mais gloriosa amostra da honestidade inquebrantável que acompanhou Dilma Rousseff durante todo esse período em que violentamente foi, em vão, cooptada a corromper-se.

Particularmente, nada me honraria mais do que ser considerado culpado se os que estivessem a me julgar fossem essa corja de corruptos.

Seja como for, acostumados a uma política sem lei numa lei sem justiça, está provado que somos um país com uma terrível vocação para a vassalagem.

Se por um lado é natural que a Casa Grande não queira perder seus privilégios, por outro é inconcebível que a senzala faça questão de querer permanecer senzala.

Por mais absurdo que possa parecer, a realidade de nossos dias comprova o quão subalternos somos enquanto povo. E não, os movimentos de esquerda não estão isentos de culpa.

Rasgaram à faca da traição a soberania desse país. Das entranhas expostas que restaram a nossa majestade, é triste perceber o quanto também é horrível a matéria de que essa nação é feita.

 

GERAL

Campos à venda e greve à vista

Delegações petroleiras de todo o País participam até o próximo domingo do XVII Confup (Congresso da Federação Única dos Petroleiros), em Salvador. Na manhã de ontem, os representantes da categoria realizaram um grande ato no portão da Refinaria Randulpho Alves, na capital bahiana. Lideranças de todo o País denunciaram a privatização da Petrobrás, que está entregando terminais, refinarias e, agora, campos de petróleo em águas rasas.

“A categoria petroleira mais uma vez abre o seu Confup com um ato de luta numa base da Petrobrás. Porque é importante passar para a categoria, tanto próprios quanto terceiros, o que está acontecendo nesse desmonte da companhia e do estado brasileiro”, disse o coordenador geral da FUP, José Maria Rangel.

Até às 9h30 todos os acessos à refinaria foram fechados. A categoria protestou contra o desmonte da Petrobrás e do estado brasileiro. Na última sexta, 28, a companhia anunciou a oferta de venda de 74 áreas de produção de petróleo em águas rasas, 14 delas na Bacia de Campos. De acordo com o Sindipetro-NF, apenas nesta região o prejuízo anual para a empresa ultrapassará US$ 1 bilhão se as concessões forem vendidas, com estimativa de perda de 10 mil empregos.

A delegação do NF teve uma presença maciça no ato. O coordenador geral do sindicato, Tezeu Bezerra, afirmou que estas atividades serão cada vez mais constantes para impulsionar a categoria petroleira rumo a uma forte reação contra a entrega do patrimônio dos brasileiros. Ontem, durante participação em audiência pública sobre a situação da companhia, na Assembleia Legislativa da Bahia, Bezerra afirmou que os petroleiros e petroleiras devem realizar uma grande greve neste ano.

“O petroleiro é referência em todo o lugar que ele está. Temos que usar isso para levar para a sociedade o que está acontecendo. Nós produzíamos 1,5 milhão de barris de petróleo por dia há 14 anos, hoje estamos em 3 milhões, e isso foi obra nossa, foi trabalho nosso. Em 2015 nós fizemos uma greve histórica, mas foi um ensaio. Paramos no início do movimento 500 mil barris, mas neste ano nós vamos ter que fazer uma bem maior”, disse Bezerra.

O coordenador do Sindipetro-BA, Deyvid Bacelar, encerrou o ato também com um chamado à realização de uma grande greve, destacando que o movimento da categoria petroleira deve ser o início de uma greve geral no País. Ele também lembrou o simbolismo da realização do Confup na Bahia. “É simbólico fazermos esse Confup aqui, onde, em 1938 foi perfurado o primeiro poço de petróleo do País”, disse Bacelar.

 

Trancaço inicia resistência

Mesmo com a agenda apertada entre o anúncio, na calada da noite da última sexta, 28, e a necessidade de seguir com a delegação do Norte Fluminense para o XVII Confup (Congresso da Federação Única dos Petroleiros) nesta semana, a diretoria do Sindipetro-NF dedicou a segunda, 31, e a terça, 01, para a realização de atos de conscientização da categoria petroleira sobre a gravidade da entrega de ativos anunciada pela companhia. Foram realizados trancaços na base de Imbetiba e nos aeroportos da região.

Em Imbetiba, o trancaço para carros foi realizado em todos os acessos à unidade, em protesto que durou das 6h às 9h, da segunda-feira..“Estamos aqui em Imbetiba fechando todos os acessos para que a categoria petroleira perceba a gravidade deste anúncio. Precisamos enfrentar esses entreguistas e construirmos uma nova greve geral”, disse o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

Nos aeroportos, a ação sindical aconteceu na terça-feira. Diretores do Sindipetro-NF amanheceram em todos os pontos de embarque da região para esclarecer a categoria sobre a real situação da empresa nesse momento. Em todos os aeroportos os voos foram atrasados para que a direção pudesse dialogar com os trabalhadores. No Farol de São Tomé o movimento seguiu até o período da tarde. “Os golpistas estão cumprindo o papel ao qual foram designados de entrega do patrimônio nacional, de nossas reservas de petróleo e de acabar com a sustentabilidade e soberania de nosso país” , afirmou Bezerra.

O anúncio da Petrobrás foi o de que estão ofertadas ao mercado 74 áreas de produção de petróleo em águas rasas, em cinco estados, sendo 14 delas na Bacia de Campos. De acordo com levantamento da assessoria do Dieese no Sindipetro-NF, somente em Enchova, uma das áreas colocadas à venda, a produção é de R$ 500 milhões em óleo e gás. No total das áreas da região, o impacto da privatização seria de uma perda de receita de U$$ 1,3 bilhão anual para a companhia e a perda de cerca de 10 mil empregos.

 

Trabalhador morre em PRA-1

O cozinheiro Francisco Barros da Silva Neto morreu na noite da última segunda, 31, após passar mal a bordo da embarcação Skand Amazonas, na Bacia de Campos. O trabalhador foi transferido para a plataforma de PRA-1, onde recebeu cuidados do técnico em enfermagem. Ele chegou a passar por um processo de reanimação e, após o atendimento na enfermaria da plataforma, com acompanhamento de um médico em terra por vídeo conferência, foi solicitado o apoio aeromédico. Mas na chegada do médico a bordo foi constatada a morte.

O Sindipetro-NF foi informado sobre o caso apenas no dia seguinte, e manifestou condolências à família e registrou o questionamento à companhia pelo atraso no repasse de informações – que só foram enviadas em razão de a entidade ter recebido denúncia de trabalhadores e ter feito contato com a empresa. “O NF solicita a todos os trabalhadores que continuem trazendo as denuncias ao sindicato, pois vocês são os nossos olhos e ouvidos”, afirmou o diretor sindical Alexandre Vieira.

 

CURTAS

Fora Temer

Em rápida retrospectiva, o governo Mishell Temer conseguiu impor várias medidas que impactam diretamente os petroleiros e o povo brasileiro, como a entrega do pré sal, a intensificação das vendas de ativos da Petrobrás, a dificuldade para fechamento de termo aditivo do acordo 2016 (fato inédito em décadas de negociação sindical), a reforma trabalhista e a iminente reforma previdenciária. Uma tragédia que levará muitos anos para ser revertida.

No Dia do Fico

Apesar de rejeitado por 95% dos brasileiros, Mishell Temer ganhou sobrevida no cargo por ele usurpado, na Presidência da República. Na vergonhosa sessão na última quarta-feira, a Câmara dos Deputados rejeitou, por 263 votos a 227 e 2 abstenções, a autorização para o STF abrir processo criminal contra o golpista mor. Só as ruas poderão responder.

É contra você

“É emblemático que Temer e Parente queiram, justamente agora que nosso país vive o segundo Golpe em pouco mais de meio século, acabar com as mesmas Plataformas que foram protagonistas nas greves dos anos 80, que culminou na derrubada da ditadura militar que perdurou por 21 anos”. A lembrança em tom de denúncia do NF foi feita em texto da entidade publicado após o anúncio de venda de áreas da Bacia de Campos. Íntegra em bit.ly/2u0WE3x.

Fora Feijó

Questão de honra para os trabalhadores e trabalhadoras: parlamentar que vota a favor das reformas e de Mishell não pode ser reeleito. Há uma relação completa de como votaram os deputados nesta semana que salvou a pele do golpista em bit.ly/2wplRpp. Do Norte Fluminense, estrelando ele, sempre ele, Paulo Feijó (PR).

 

NORMANDO

Casa tomada

Normando Rodrigues*

A partir da excelente alegoria do conto de Julio Cortázar, talvez possamos contribuir para o que efetivamente importa, uma reflexão sobre a acelerada destruição da Petrobrás.

A casa dava gosto, orgulho. Cresceu sob o governo popular, e passou a significar mais de 13% do PIB. Desvios e problemas existiam. Os mesmos de sempre. E deveriam ter sido enfrentados. Não o foram.

Por sua própria grandeza e complexidade, a casa continha bandidos gerenciais históricos, como Paulo Roberto Costa. Pior ainda, a casa valorizava “cabeças-de-planilha”, do tipo Graça Foster, que rigorosamente eram e são contra a existência… da própria casa!

Predominaram então os administradores que, tal como Graça Foster, por miopia estratégica, ou má-fé tática, desenharam o futuro da casa como uma empresa de planejamento e gerenciamento na qual a integralidade da area operacional fosse terceirizada.

Até aí você, morador da casa, encolhia a cabeça entre os ombros, e se movia como se o mal nunca lhe fosse chegar. Tomaram-lhe cozinha e sala dos fundos. Porém, atrás de portas fechadas, você esperava continuar a viver no seu canto, adaptando-se às mudanças.

Então, tomaram os quartos! Assaltou a casa um falso administrador falso (duplico intencionalmente), que se orgulhava de ter sido office-boy, por um lado, e de ter sustentado socialites com dinheiro do Banco do Brasil, por outro. Bendine era homem de confiança dos irmãos Batista da JBS, e não de Lula, Dilma ou Aécio. Mais um fruto daquele estranho 2014, no qual o PSDB perdeu a eleição mas ganhou o governo.

Com Bendine houve uma conjunção. Os “cabeças-de-planilha”, hegemônicos na ideologia liberal dominante na casa, aliaram-se rapidamente aos assaltantes (invertebrados costumam ser muito flexíveis). Agora era possível realizar o sonho privatista de destruir o motor do desenvolvimentismo. E eis que entra sob fogos de artifício o Parente de FHC.

Parente, tal como Bendine, não queria assustar os moradores da casa. Apregoou que venderia o que não funciona, para manter “o foco”. E você, a morar nos quartos e cozinha improvisados no que antes eram sala e biblioteca, agarrou-se com fé cega a essa tábua de salvação.

Sexta passada a casa foi anunciada à venda. Você, que poderia ter resistido, preferiu acreditar em quem lhe pretendia despejar.

É verdade que sempre há tempo para a luta. Contudo, a dimensão da luta pela retomada da casa do povo brasileiro será, agora, do tamanho da própria casa.

*Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.  [email protected]