Editorial do Nascente: Resistência pela militância cultural

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A militância cultural, os debates em torno de questões que envolvem comportamento e moralidade, o papel das religiões, os preconceitos, são muitas vezes tratados como ingredientes do cotidiano que dizem respeito apenas a decisões individuais, íntimas, que não se relacionariam com as estruturas de poder e de luta de classes.

É preciso pensar sobre isso nestes tempos em que, por um lado, o que há de mais organizado no movimento sindical resiste de modo quase solitário aos ataques nas áreas trabalhistas e previdenciárias, enquanto, por outro, movimentos vigorosos resistem ao recrudescimento das relações e à cultura do ódio. É urgente unir as duas agendas.

Quando um sindicato diz que o golpe foi contra o trabalhador, o faz porque é nítido para ele as perdas colossais que o patronato está impondo neste momento em que este surfa uma estabilidade precária numa aliança que reúne o mercado financeiro, a mídia, o Congresso Nacional, o Judiciário e a Presidência da República tomada pelo golpista MiShell.

Mas o golpe também é contra as políticas públicas para todos os setores mais vulneráveis da sociedade, inclusive para aqueles que vinham experimentando avanços, como comunidades quilombolas, indígenas, mulheres, negros e LGBTs.

Muitas das conquistas da história recente foram feitas quando movimentos com diferentes prioridades se uniram para enfrentar inimigos que, no fundo, são muito semelhantes.

O entreguista que quer privatizar a Petrobrás, porque acha que o Estado não tem que se meter na economia, é o mesmo que acha que o Estado também não deve se meter na sua “liberdade” de exalar ódio e preconceito. São os opressores de sempre, que atuam tanto contra os “insurgentes” do trabalho quanto contra os “desviados” dos costumes.

A luta de classes não se restringe à produção, à economia. Não está desconectada do ambiente cultural em que ela se desenvolve. Estejamos atentos a todas as formas de opressão, tomando o cuidado para não engrossarmos fileiras ditas moralizantes que, no fundo, apenas reforçam o traço reacionário de velhos mandatários.

[Nascente 1008]