Para a grande maioria da população, não interessa se a culpa é da esquerda ou da direita, se foi golpe ou foi impeachment, se é Lula livre ou Lula preso. Essas são noções difusas, volúveis, difíceis de aferir, e altamente influenciáveis pela grande mídia. Sobre elas, o trabalho é contínuo, de formação política, de militância, o que tem sido feito e sempre será insuficiente, como é próprio do processo histórico e leva mais tempo para que se tenha uma virada no jogo — que virá, sem dúvida, pois é certo que este momento será lembrado daqui a algumas décadas como Golpe e que Lula estará no panteão dos grandes estadistas brasileiros.
Mas há algo mais tangível que precisa ser explorado de modo imediato: a percepção geral é a de que a vida piorou no País. E não apenas porque os números sociais e da economia o demonstram no atacado, mas porque cada brasileiro e cada brasileira sabe disso pela sua própria experiência.
É possível que muitos ainda se lembrem quando, na campanha para a Prefeitura de São Paulo em 2012, Fernando Haddad utilizou didaticamente um marketing que mostrava a diferença entre a vida de dentro e a vida de fora da casa. Ele mostrava que, dentro da casa, a vida havia melhorado — melhoria na alimentação, mais acesso a eletrodomésticos, carro na garagem —, mas havia muitos problemas fora da casa — transporte público, segurança, atendimento nos serviços municipais. Atualmente o que há é uma pior na vida de dentro e na vida de fora da casa.
Não surtiu efeito o clima que a grande mídia tentou criar após o Golpe de 2016, quando, de uma hora para a outra, fomentou pautas que simulavam um certo clima de confiança, de “agora vai”, mas que logo se diluiu diante de uma sequência de medidas impopulares, cortes de direitos sociais e trabalhistas, queda no emprego e na renda. A Globo bem que tentou, mas não foi possível criar um mundo de fantasia.
O trabalhador, ou a trabalhadora, começou a entender que seu dia-a-dia ficou mais difícil. Que não batia com o que a televisão dizia. É como diz a velha máxima: não é possível enganar a todo mundo o tempo todo. A ficha caiu.
Agora, o desafio é canalizar esse descontentamento para a retomada de um projeto de país que priorize o povo — cuidando para que a descrença da população não descambe para amalucados retrocessos autoritários.