Tadeu Porto*
Eu sei que é um pouco complicado trazer destaque para a luta da sua própria categoria (no meu caso a petroleira) afinal pode soar um pouco como soberba e autopromoção. Contudo, há coisas que acontecem no dia a dia dos enfrentamentos que nos fazem encarar o desafio de tentar destacar as boas consequências de se resistir nesse cenário tão adverso.
É o caso, por exemplo, da relação entre a luta dos petroleiros e petroleiras com o lucro que a empresa apresentou no segundo semestre deste ano: o bom resultado de R$ 10 bilhões, o mais alto desde 2011.
Objetivamente, a pauta de luta da categoria no que diz respeito às refinarias ganhou a disputa política e, quando foi implementada, mudou consideravelmente o lucro da companhia (para melhor).
Um texto do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis José Eduardo Dutra para a Carta Capital apresenta, com os próprios números do balanço da Petrobrás, a prova de que essa nova política de refino representou um acréscimo no lucro da companhia:
Apesar do impacto positivo da exploração, sem dúvida a mudança mais abrupta dos resultados deste trimestre ocorreu no abastecimento, onde os lucros cresceram 72% em relação ao trimestre anterior (2,2 bilhões de reais a mais), e são resultados de uma mudança na estratégia do refino.
Ou seja, a Petrobrás reverteu a política que vinha aplicando, de ociosidade na produção de suas refinarias, e o resultado foi um aumento considerável no seu lucro.
E com certa tranquilidade os petroleiros e petroleiras podem dizer que tal fato é consequência da luta da categoria.
Por exemplo, em junho do ano passado, a categoria petroleira realizou uma greve por tempo indeterminado contra a baixa carga das refinarias.
Essa reivindicação continuou – concomitante à luta contra o Golpe e pela democracia – e atingiu o ápice na greve dos petroleiros de 72H, aquela que gerou a maior atitude antissindical do Estado dos últimos anos, que também teve como eixo a volta da capacidade das refinarias.
Por fim, veio a derrubada de Pedro Parente, conquista da greve petroleira e da mobilização popular ocasionada pelo movimento dos caminhoneiros.
Como consequência, a Petrobrás voltou a retomar o protagonismo no refino dos combustíveis nacionais e a importar mais derivados (tirando a importação das empresas privadas) e aumentando sua fatia no mercado nacional. A nota destaca:
Segundo, notou-se um forte crescimento das importações de derivados (97%), o que significa que a Petrobras tem buscado reassumir o controle da distribuição de derivados no mercado interno, deslocando as importadoras.
Como efeito dessas duas medidas, o volume de vendas cresceu 9% (subiu de 1.648 para 1.791 mil barris/dia), ampliando tanto o market share quanto a margem da companhia no abastecimento.
Resumo: a categoria petroleira escolheu uma pauta, foi a luta por ela, conseguiu uma aplicação parcial da mesma e o resultado é o engrandecimento da empresa, tal como foi pensado na construção da luta.
Numa visão mais geral, podemos dizer que trabalhadores e trabalhadoras podem, sim, discutir os rumos das empresas onde trabalham com a mesma propriedade que a os “donos” do negócio.
Um fato que parecia distante, tão quanto a de um operário virar o melhor Presidente da República.
*Diretor do Sindipetro-NF e da FUP. Publicado originalmente na coluna do autor no blog O Cafezinho (aqui)