Nascente 1052
Editorial
A verdade sobre o lucro
Uma das lutas históricas dos trabalhadores e das trabalhadoras é a que busca desconstruir uma ideia corrente de que apenas capitalistas podem gerir o capital, de que só empresários entendem de empresas, ou de que só banqueiros são capazes de analisar a situação dos bancos. Quem, no dia a dia, ergue com o seu suor cada um desses edifícios exuberantes sabe muito mais sobre tudo isso do que qualquer um deles.
Sempre esteve na base desse preconceito um tipo comum de crítica, da grande mídia, às empresas estatais que mantiveram ex-sindicalistas em seus cargos de gestão ou em conselhos deliberativos. E foi também enganada por esta falsa premissa que a opinião pública habituou-se a tomar as “análises dos especialistas do mercado”, ou os relatórios das empresas, como verdades absolutas ou, no mínimo, muito difíceis de serem colocadas em dúvida.
No movimento sindical brasileiro, algumas iniciativas importantes contribuíram para disputar espaço nesta opinião qualificada pelos dados e pelas pesquisas, quase sempre desmascarando o discurso oficial. Uma das mais importantes foi a da criação do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em 1955. Mas há uma outra, recente, da categoria petroleira, que começa a fazer história neste mesmo caminho: a criação do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra), em 2017.
Foi com base em suas análises qualificadas que a FUP derrubou, poucas horas depois, a versão da Petrobrás para o lucro anunciado de R$ 10 bilhões neste segundo trimestre de 2018. “Apesar do mercado e do governo continuarem reforçando a ladainha de que os resultados da empresa são fruto da recuperação da empresa, a variação do dólar e do preço médio do barril de petróleo é que foi determinante para o lucro”, pontuou a Federação, que acrescentou: “como no trimestre anterior, o principal fator determinante para o resultado positivo da Petrobras continua sendo o preço médio do barril de petróleo, que aumentou 50% nos últimos 12 meses, saltando de US$ 49,8, no segundo trimestre de 2017, para US$ 74,5, no mesmo período deste ano”.
Espaço aberto
Lucro é fruto da luta
Tadeu Porto**
Eu sei que é um pouco complicado trazer destaque para a luta da sua própria categoria (no meu caso a petroleira) afinal pode soar um pouco como soberba e autopromoção. Contudo, há coisas que acontecem no dia a dia dos enfrentamentos que nos fazem encarar o desafio de tentar destacar as boas consequências de se resistir nesse cenário tão adverso. É o caso, por exemplo, da relação entre a luta dos petroleiros e petroleiras com o lucro que a empresa apresentou no segundo semestre deste ano: o bom resultado de R$ 10 bilhões, o mais alto desde 2011.
Objetivamente, a pauta de luta da categoria no que diz respeito às refinarias ganhou a disputa política e, quando foi implementada, mudou consideravelmente o lucro da companhia (para melhor). Um texto do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis José Eduardo Dutra para a Carta Capital apresenta, com os próprios números do balanço da Petrobrás, a prova de que essa nova política de refino representou um acréscimo no lucro da companhia:
Apesar do impacto positivo da exploração, sem dúvida a mudança mais abrupta dos resultados deste trimestre ocorreu no abastecimento, onde os lucros cresceram 72% em relação ao trimestre anterior (2,2 bilhões de reais a mais), e são resultados de uma mudança na estratégia do refino. Ou seja, a Petrobrás reverteu a política que vinha aplicando, de ociosidade na produção de suas refinarias, e o resultado foi um aumento considerável no seu lucro.
E com certa tranquilidade os petroleiros e petroleiras podem dizer que tal fato é consequência da luta da categoria. Numa visão mais geral, podemos dizer que trabalhadores e trabalhadoras podem, sim, discutir os rumos das empresas onde trabalham com a mesma propriedade que a os “donos” do negócio.
* Editado em razão de espaço. Íntegra publicada originalmente no blog O Cafezinho, em bit.ly/2ALGwuC, sob o título “Bom lucro da Petrobrás é fruto da luta dos petroleiros”.
** Diretor do Sindipetro-NF e da FUP.
Capa
Partiu dar um basta!
Povo nas ruas nesta sexta-feira contra privatizações, contra corte de direitos e por democracia. Campos e Macaé terão protestos no final da tarde. Participe!
A CUT e demais centrais sindicais estão convocando a população para o Dia Nacional do Basta, em 10 de agosto. O objetivo dessa data é dizer basta de desemprego, de retirada de direitos, de privatizações, de aumentos abusi-vos nos preços dos combustíveis e de sofrimento para o povo brasileiro.
Em Macaé, a Frente Maca-ense de Luta convoca a população para participar de um ato às 17h, na Praça Veríssimo de Melo. Já em Campos dos Goytacazes, a atividade é convocada pela CUT, e começa às 16h, no Calçadão. O Sindipetro-NF participa dos dois protestos e estimula a presença da categoria petroleira.
“Temos que mostrar para o restante do país, que nós não aceitaremos os ataques aos trabalhadores e ao povo mais pobre. Precisamos de um país mais justo e igualitário, por isso convocamos a todos e todas a estar nas ruas no dia 10, nos atos que estão sendo convocados. Vamos dar um Basta!”, convoca o coordenador do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.
Contra a privatização
Em nota conjunta, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo destacaram que “os trabalhadores também protestam contra a política de preços da Petrobrás e o aumento do gás de cozinha, a política de privatização e os cortes promovidos pelo governo do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) nas políticas sociais, além da liberdade do ex-presidente Lula e seu direito de concorrer à Presidência da República nas eleições de outubro”.
“É o dia para dizer que não aguentamos mais esse governo golpista e queremos que os nossos direitos sejam respeitados. E para que isso aconteça é fundamental que todos participem das atividades neste 10 de agosto em todo o país”, também conclama o presidente da CUT, Vagner Freitas.
Insegurança crônica
Vazamento na P-31 e morte em Santos
Das Imprensas do NF e da FUP
O Sindipetro-NF recebeu a denúncia de que, na segunda, 6, houve vazamento de óleo para o mar na Plataforma P-31, no campo de Albacora, na Bacia de Campos. De acordo com as informações iniciais, o vazamento foi provocado por uma trinca no tanque de carga no costado do navio.
O NF também apurou que esse é o segundo tanque de carga que está com problema na embarcação, e que por pouco não houve outro vazamento. Esse mesmo tanque, agora, segundo a categoria, está com problemas de falta de controle na entrada de água do mar — o que é grave por atrapalhar o trabalho do lastro.
O sindicato entrou em contato com o SMS da Petrobrás, mantém contatos com a categoria e segue acopanhando o caso.
Morte em SP
Em nota divulgada à imprensa, a Petrobrás comunicou mais um acidente fatal de trabalho. A vítima foi o mergulhador Athayde dos Santos Filho, 57 anos, da empresa Fugro, que presta serviços para a petrolífera no projeto de expansão da produção da Plataforma de Mexilhão, na Bacia de Santos. O acidente ocorreu na manhã da última sexta, 3, quando o trabalhador realizava um mergulho, a cerca de 170 metros de profundidade, para manobras de instalação de tubulação no leito marinho.
Segundo petroleiros do Litoral Paulista, a mangueira de oxigênio foi degolada do equipamento de respiração do mergulhador devido a um problema que estava ocorrendo no flutuador da tubulação da plataforma. Dois trabalhadores que estavam com Athayde ainda tentaram salvá-lo.
PRESSÃO EM BRASÍLIA
O coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra (terceiro da direita para a esquerda), que integra o grupo de trabalhadores e trabalhadoras que pressionou, nesta semana, em Brasília, os senadores contra a votação do projeto que permite à Petrobrás abrir mão de 70% dos cinco bilhões de barris de petróleo da Cessão Onerosa do Pré-Sal, informa que o movimento conseguiu uma grande vitória: fazer o projeto rodar por pelo menos três comissões e não ter aprovada a urgência de votação. Também está prevista a realização de uma audiência pública sobre o tema. Em sua avaliação, os entreguistas não terão condições de votar o projeto antes das eleições de outubro. Ele destaca ainda a necessidade de um bom resultado nas urnas, para os trabalhadores, para que o projeto não seja votado na próxima legislatura. A pressão sobre senadores e deputados também pode ser feita pelo site www.napressao.org.br.
VII Plenafup
Categoria aprova apoio a Lula
Da Imprensa da FUP
Com participação de cerca de 200 petroleiras e petroleiros, terminou neste domingo, 05, no Rio de Janeiro, a VII Plenária Nacional da FUP, que deliberou sobre questões fundamentais para a categoria. Além de definir um amplo calendário de lutas contra a privatização do Sistema Petrobras e a entrega do Pré-Sal, a Plenafup apontou uma série de encaminhamentos para preservar direitos dos trabalhadores e impedir o desmonte de conquistas históricas, como a Petros, AMS e o Acordo Coletivo.
A VII Plenafup também deliberou que uma das lutas centrais dos petroleiros deve ser a eleição de Lula e de um congresso representativo dos trabalhadores. A plenária aprovou por unanimidade o apoio às candidaturas de petroleiros para ampliar a defesa do Sistema Petrobras e do Pré-Sal como alicerces da retomada do projeto popular e democrático de soberania e desenvolvimento nacional.
Petroleiras
Em reunião na Plenária, o Coletivo Nacional de Mulheres (CNMP-FUP) aprovou apoios às candidaturas de petroleiras que disputam vagas no parlamento e nos fóruns de representação da categoria. Outro apoio importante definido pelo Coletivo é a reeleição da petroleira Fabiana dos Anjos, atual representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Transpetro. O Coletivo defenderá que a VII Plenafup aprove o apoio à candidatura de Fabiana.
O Coletivo também apresentou às delegações da Plenafup as resoluções do último Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras, realizado em abril em Natal, no Rio Grande do Norte, com participação recorde de petroleiras e petroleiros. A diretora da FUP e coordenadora do Coletivo, Rosângela Maria, ressalta a importância do crescimento da participação feminina nos fóruns e espaços de representação dos petroleiros. “O Encontro do Rio Grande do Norte foi um marco para nós. Reunimos 70 petroleiras, um número de participação recorde, que prova que nosso trabalho está avançando”, destacou.
Venda de plataformas
NF NA JUSTIÇA CONTRA ENTREGA
O Sindipetro-NF ajuizou na última sexta, 3, uma ação contra a entrega de campos de petróleo e plataformas na Bacia de Campos. Essa ação tem a ver com o anuncio feito pela Companhia em julho de 2017, que envolve 14 plataformas colocadas à venda pela gestão da Petrobrás. Elas fazem parte de um conjunto de 74 áreas de exploração e produção anunciadas para venda em todo o País.
De acordo com um levantamento feito pelo Dieese em 2017, a produção total destas unidades da Bacia de Campos é de aproximadamente 53 mil barris diários de petróleo. Além da produção, as unidades são estratégicas pela localização, algumas delas interligando as demais por fibra ótica.
“O último programa político aprovado pela população, em 2014, reafirmava o papel da Petrobrás como indutora do desenvolvimento nacional. Destruindo este programa, e o Brasil, o Golpe não só exporta empregos, pesquisa e desenvolvimento (como simboliza o FPSO gigante inteiramente importado, P-67), como agora quer entregar campos e plataformas com décadas de produção viável pela frente, e nas quais os investimentos necessários já estão amortizados há muitos anos”, argumenta o Jurídico do NF na ação.
A ação denuncia esta violação da ordem econômica, protegida pela Constituição, e propõe a suspensão da venda das unidades.
“As vendas são mais um passo do golpe, diretamente ligado à privataria tucana que voltou agora ao poder no País. Os passos que os golpistas queriam dar são exatamente esses. Quando assumiram logo mudaram a lei do pré-sal para retirar da Petrobrás a condição de operadora única, com participação mínima de 30%, depois aprovaram o projeto da terceirização, inclusive podendo terceirizar a atividade fim”, explica o Coordenador do NF, Tezeu Bezerra.
Normando
Você, sozinho, contra o capital
O capitalismo sempre pretendeu explorar o trabalhador sem entraves. Intervenções do Estado, da Igreja, e de quaisquer outras forças, sempre foram tachadas pelo Patrão como “retrocessos”, “anacronismos”, “freios ao desenvolvimento”.
Independentemente do desenvolvimento tecnológico, o trabalho humano é o insumo essencial do capitalismo, e sua remuneração pelo mais baixo valor necessário à sobrevivência do trabalhador é o ponto ideal. Essa, sim, é uma ideia retrógrada, de fins do século XVIII. Mas é ainda a visão dominante, vendida como “moderna”.
Por sua vez, o meio pelo qual se realiza o “menor custo humano” é o individualismo, o núcleo central de todo o maquinário capitalista.
Algemas invisíveis
Como toda ideia destinada a manter o gado no curral, é preciso vender as vantagens do individualismo revestindo-as de ouro. A religião de nossa era, o consumo, foi para isso forjada, e conta com doutrinadores eficazes e templos maravilhosamente sedutores. É interessante como alguns perceberam esse potencial desde o início.
Debruçado sobre o problema da necessidade de dominação do 3° Mundo, o economista conservador Walt Whitman Rostow (não confundir com libertário poeta do século XIX) defendia, há quase 60 anos, que tudo o que os EUA precisavam fazer era levar a TV até os lares desses povos.
Obviamente, a mensagem deve ser anticomunitária e desagregadora. Assim, no mundo do trabalho, é necessário afirmar continuamente que tudo o que o trabalhador conquista se deve exclusivamente a seus méritos pessoais. Já as derrotas…
A culpa é dos sindicatos
A mera existência de sindicatos é uma ameaça potencial. Somente por isso os missionários do Patrão sempre pregarão que “os sindicatos só querem seu dinheiro”. O que não deixa de ser irônico, posto que o Patrão é que depende, e persegue incessantemente, o dinheiro do trabalhador.
Se o sindicato, além de meramente existir, desenvolver a luta economicista, cuidando apenas dos interesses corporativos da categoria, passará ser chamada de “baderneiro”, “criador de problemas”, e responsabilizado pelo desemprego.
Porém, se o sindicato realmente travar a luta de classes, e desfraldar bandeiras de interesse de toda a classe trabalhadora, aí será chamado de “bandido” e “terrorista”.
E você, que agora apedreja o sindicato, invertendo o verso de Augusto dos Anjos, cobrirá os sindicalistas de afagos quando se defrontar com as consequências de seu próprio individualismo.
Curtas
PETROS
Aposentados e pensionistas, ontem, em frente ao Tribunal de Justiça, no Rio, na pressão em ação contra o equacionamento da Petros. O juiz decidiu retirar o processo de pauta. Para ontem à noite, após o fechamento desta edição do Nascente, estava prevista reunião geral da categoria para discutir o tema, na sede do NF em Macaé.
RMNR-1
O Departamento Jurídico do NF adverte: “Os petroleiros que aderirem a ações individuais de RMNR estarão renunciando aos efeitos das ações coletivas do sindicato. Não por opção do Sindipetro-NF, mas por entendimento do Judiciário. Os efeitos da decisão do TST estão suspensos por liminar do ministro Toffoli, do STF, como divulgamos no último Nascente [bit.ly/2Mve9lU]”, explica o advogado Normando Rodrigues.
RMNR-2
Normando também chama a atenção os riscos para os trabalhadores das promessas ilusórias de advogados particulares. “Não foram esses escritórios abutres que construíram as ações bem sucedidas de RMNR. Nem foram eles que conquistaram o entendimento unificado do TST. Mas nada podemos fazer, quanto aos petroleiros que insistem em perder dinheiro”, afirma.
Ação das carteiras
O NF convoca os trabalhadores e trabalhadoras que entregaram as carteiras de trabalho para correta assinatura, dentro da ação judicial de nº 0213000-10.2004.5.01.0481, a comparecerem à sede do sindicato, em Macaé, para retirada do documento. A devolução será feita ao titular do documento, ou a terceiros, desde que tenham autorização expressa do titular. A entidade venceu a ação sobre a retroatividade da assinatura para 115 trabalhadores admitidos entre 2002 e 2003.
Erramos
Diferentemente do que foi publicado pela edição passada do boletim Nascente (1051), foi por meio de informação da gerência de SMS da Petrobrás, e não por meio de denúncia da categoria, que a entidade tomou conhecimento da queda no mar de um montador de andaime da empresa Imetame, por volta das 15h30 do último dia 31, na plataforma de Garoupa (PGP-1), na Bacia de Campos.