CLIPPING: Petrobrás é acusada de usar plataformas inacabadas para ajudar governo

Sabrina Valle, da Agência Estado

RIO – Última plataforma da Petrobrás a ser entregue, em cerimônia em dezembro com a presença da presidente Dilma Rousseff, a P-62 saiu do estaleiro incompleta. Não foi a primeira, segundo sindicalistas. Por pressão política, para melhorar o saldo da balança comercial e para dar satisfação ao mercado, as plataformas são inauguradas inacabadas e depois finalizadas em mar – o que é mais caro e lento para a empresa, além de menos seguro para trabalhadores.

“Precisam justificar ao mercado que a empresa vai ter capacidade de produção nos próximos meses, tem muita pressão”, diz o representante dos trabalhadores no conselho de administração da Petrobrás, José Maria Rangel, que levará o assunto a discussão na reunião do órgão no próximo dia 25.

O diretor de segurança e saúde do Sindipetro-NF, Norton Almeida, credita o lançamento ao mar de plataformas ainda não operacionais a pressão política. No início do mês, ele embarcou na P-62 e conferiu pessoalmente os problemas. O sindicato diz que o sistema náutico saiu do estaleiro sem um cabo de ré, sem uma das amarras do sistema de ancoragem de bombordo (lado esquerdo) e sem o sistema elétrico pronto, entre outros itens.

O cabeamento de energia incompleto forçou, por exemplo, a instalação de um gerador de energia que pegou fogo em janeiro, quando a plataforma navegava em direção ao campo de Roncador, na Bacia de Campos. Foram 40 minutos para controlar o incêndio, ao lado de um tanque de diesel, segundo Almeida. A unidade chegou à locação com duas semanas de atraso.

O sindicato diz que se a plataforma ficasse mais alguns dias no Estaleiro Atlântico Sul (EAS, Pernambuco) muitos dos problemas poderiam ter sido resolvidos, já que em terra milhares de operários podem trabalhar simultaneamente, enquanto em mar a legislação internacional limita a tripulação. A P-62 está com 160 homens embarcados e 20 em barco de apoio. Além disso, a instabilidade marítima traz riscos para manipulação de itens pesados e a distância torna toda a logística mais cara e lenta. Hoje, qualquer parafuso precisa viajar 125 km da costa para chegar ao destino final

“Não é um cálculo nada matemático, mas um serviço em mar pode levar dez vezes mais tempo do que em terra, e custar dez, quinze vezes mais. Tudo fica mais difícil”, disse Almeida. O lançamento ao mar no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em 30 de dezembro, fez cumprir, em calendário, o compromisso da Petrobrás de pôr na água nove plataformas em 2013.

Em 31 de dezembro, foi lançada ao mar também a P-61, que saiu do estaleiro BrasFels, na baía de Angra dos Reis (RJ), para o campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos. Também no último dia do ano a P-55 entrou em produção, às 22h30m, depois de ter sofrido reparos em mar.

Depois de concluída, a plataforma se enquadra num benefício tributário (Repetro). As embarcações passam ao guarda-chuva de uma subsidiária da Petrobrás na Europa e podem ser contabilizadas pelo País como exportação, mesmo sem sair do país. Só no quarto trimestre, quatro plataformas tiveram impacto de US$ 5,3 bilhões na balança comercial, maior valor já contabilizado num trimestre.

As nove plataformas têm potencial para adicionar capacidade de até 1 milhão de barris/dia e são apresentadas pela Petrobrás como a promessa da empresa para tirar a produção de petróleo da estagnação. Mesmo com o pré-sal, há quatro anos a produção não descola dos 2 milhões de barris/dia.

O Sindipetro lembra que o problema não acontece com plataformas construídas por terceiros e afretadas (alugadas) pela Petrobrás. Estas só vão ao mar prontas, mesmo quando construídas em estaleiros brasileiros.

“Em maior ou menor grau, isso (ir ao mar inacabada) aconteceu com as últimas 12 plataformas próprias da Petrobrás”, disse Almeida, citando a P-43, P-48, P-50, P-51, P-52, P-53, P-54, P-55, P-56, P-57, P-58 e P-63. Procurada, a Petrobrás não se manifestou até o fechamento dessa matéria.