Nascente 1099

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EDITORIAL

O santo do pau oco

Não há consenso entre os pesquisadores sobre a origem da expressão “santo do pau oco”. Há histórias não confirmadas de que ela teria nascido com a utilização de estátuas sacras de madeiras, nas Minas Gerais do Brasil Colônia, para esconder ouro e fugir da cobrança de impostos pela Coroa. Há também a versão do folclorista Luiz Câmara Cascudo, de que esse era o modo popular como eram chamadas imagens vindas de Portugal com dinheiro falso em seu interior. E há ainda a explicação menos lúdica de que as estátuas de madeiras são ocas apenas para ficarem mais leves mesmo.

De todo modo, todos concordam que a expressão é utilizada para designar alguém hipócrita, farsante, dissimulado, que faz cara de santo em público mas que urde nos bastidores as mais sórdidas conspirações.
Depois das novas mensagens divulgadas nesta semana pela Vaza Jato, essa designação não parece apropriada para o impoluto procurador Deltan Dallagnol?

Além de ultrapassarem limites legais para manter uma ação parcial contra o ex-presidente Lula, ele e seu bando se organizaram para obter lucros pessoais com a operação Lava Jato.

Essa já era uma flor que não cheirava bem aos petroleiros e petroleiras. Pela tentativa de administrar montantes bilionários (mais precisamente R$ 2,5 bilhões), Dallagnol foi denunciado pela FUP em ação popular ainda em tramitação.

Mas, como ensinava a clássica fonte oculta do caso Watergate (a investigação jornalística que levou à queda do presidente Nixon, nos Estados Unidos), basta seguir o dinheiro.

Com a popularidade nas alturas, surfando o apoio midiático da onda do Golpe, os deslumbrados de Curitiba pensavam estar cometendo o crime perfeito, pouco importando que estivessem quebrando empresas nacionais e desempregando milhares de trabalhadores. E importando menos ainda que um ex-presidente da República estivesse sendo condenado por crimes jamais comprovados.

Que continue a iluminar essa história o anjo Glenn Greenwald.

 

ESPAÇO ABERTO

Despedida da economia nacional*

Marcio Pochmann**

Enquanto na primeira metade da década de 2010, por exemplo, a economia brasileira cresceu 3,2% como média anual, na segunda metade registra queda média de 1% ao ano. No período de 2010-14, a expansão econômica nacional se traduziu em 67% dos municípios do país com crescimento acima da média do país (3,2% ao ano), representando 47% do PIB nacional e 56% da população.

Destaca-se ainda que quase 31% dos municípios brasileiros (18,6% do PIB nacional e 21,3% do total da população) registraram expansão média superior a 6% ao ano.

No que diz respeito ao período de 2015-19, de regressão econômica, a diferenciação no desempenho econômico dos municípios agravou-se ainda mais. Somente nos anos mais graves da recessão nacional (2015-16), cuja queda acumulada do PIB foi superior a 7%, identificou-se que 50,1% dos municípios do país (28% do PIB nacional e 29,8% da população) tiveram desempenho positivo nas suas economias locais.

Dessa parcela com elevação da produção no território nacional, constata-se ainda que 15,2% dos municípios (16,8% do PIB nacional e 14,3% da população) apresentaram crescimento econômico acima de 6% ao ano. Por outro lado, 49,9% da totalidade dos municípios, representando 72% do PIB nacional e 70,2% do total dos brasileiros, conviveram a gravidade da recessão econômica entre os anos de 2015 e 2016.

Diante disso, percebe-se como o Brasil vem consolidando o quadro geral de fragmentação da economia no território nacional.

O abandono da industrialização segue acompanhado pela ampliação da heterogeneidade do território permeado por desempenhos diversos das economias locais, sem capacidade de articular e integrar-se ao todo o país, conforme vigorava durante o passado dos ciclos econômicos antecedentes da Revolução de 1930.

* Trecho de post do autor em seu Blog da Rede Brasil Atual, sob o título “O governo Bolsonaro e a despedida da economia nacional”, disponível em bit.ly/2JCl6Ta. ** Professor da Unicamp.

 

GERAL

Categoria em ponto de greve

Os petroleiros e petroleiras da base de Imbetiba, em Macaé, têm assembleia hoje, às 13h, para avaliar pautas da Campanha Reivindicatória. Nas plataformas, as assembleias foram prorrogadas e poderão ser realizadas até esta sexta, 19, com retorno das atas no sábado, 20. Os resultados parciais, com quase todas as bases de terra e a maioria das unidades marítimas, mostram que a categoria está, novamente, dando um massivo “não” à contraproposta da Petrobrás para o Acordo Coletivo de Trabalho. Até a tarde de ontem, foram 929 votos a favor do indicativo do sindicato (99,57%), três contrários (0,32%) e uma abstenção (0,11%).

Para o Sindipetro-NF, a categoria precisa estar preparada para a realização de uma grande greve, pois não há expectativa de que a gestão bolsonarista da Petrobrás irá recuar em sua tentativa de extinguir dezenas de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. A entidade também mantém o chamado para que todos combatam o desmonte da companhia, que está retirando do País a possibilidade de fortalecer a Petrobrás e o Setor Petróleo para promover desenvolvimento, geração de empregos e justiça social.

Além de rejeitar a contraproposta, a categoria está aprovando manifesto (íntegra ao lado) que denuncia os ataques aos trabalhadores e o fatiamento da empresa. “Nossa empresa está sendo vendida fatiada para o mercado internacional. Plataformas e refinarias, unidades estratégicas para produção e distribuição do petróleo no país foram ofertadas sem pensar na soberania nacional. A atual gestão da empresa, capitaneada por Roberto Castello Branco, ao vender esses ativos coloca o Brasil na contramão das estratégias internacionais, pois acaba com a possibilidade de regulação de mercado”, afirmam os trabalhadores.

Manifesto dos petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense

Nós, petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense denunciamos à sociedade que a Petrobrás, o movimento sindical petroleiro e a classe trabalhadora estão sofrendo um dos piores ataques dos últimos tempos.

Nossa empresa está sendo vendida fatiada para o mercado internacional. Plataformas e refinarias, unidades estratégicas para produção e distribuição do petróleo no país foram ofertadas sem pensar na soberania nacional. A atual gestão da empresa, capitaneada por Roberto Castello Branco, ao vender esses ativos coloca o Brasil na contramão das estratégias internacionais, pois acaba com a possibilidade de regulação de mercado. Não queremos ser apenas exportadores de óleo cru! Queremos ser independentes e não ficar expostos às mudanças do preço internacional do barril de petróleo.

No cenário nacional, a aprovação da Reforma da Previdência pela da maioria conservadora no Congresso Nacional destrói o sonho de milhões de brasileiros de ter o direito à aposentadoria e à Previdência Social. Com ela, aumenta o tempo de contribuição e reduz os valores dos benefícios. Quem quiser ganhar seu benefício integral terá que trabalhar 40 anos. Mas não é hora de desistir é preciso prosseguir e intensificar a resistência, o enfrentamento e a luta contra a reforma da Previdência, agora no Senado Federal.

Organização da categoria

Nas mesas de negociação ficou clara a perseguição que está sendo feita às organizações dos petroleiros. Eles querem destruir nossas entidades para facilitar a entrega da empresa e a implantação de seu projeto de subserviência ao capital internacional.

A postura dura da gestão nas mesas só mudou depois que nós demos uma resposta à empresa, rejeitando em assembleias sua contraproposta. Pela primeira vez, todas as unidades marítimas da Bacia de Campos disseram NÃO à empresa, além das bases de terra.

Em nível nacional, a categoria petroleira já demonstrou ser uma das mais organizadas do País, por isso a intenção do governo é de nos quebrar. Mas não deixaremos isso acontecer, porque vamos resistir e mostrar que nossa luta é em defesa da classe trabalhadora, de uma empresa de petróleo brasileira e que defenderá os interesses do povo e do seu desenvolvimento.

Macaé, 11 de julho de 2019
Diretoria Colegiada do Sindipetro-NF

 

Palestra sobre Porto de Macaé

“O Porto de Macaé e a região Norte Fluminense” é o tema de uma palestra que será proferida pelo Professor Roberto Moraes na próxima terça, 23, às 18h30, no Teatro do Sindipetro-NF em Macaé. O acesso à palestra é gratuito e aberto ao público, com local limitado a 180 lugares.

O palestrante vai falar sobre a instalação do Terminal Portuário de Macaé (Tepor), quais impactos que a cidade pode sofrer e quais possibilidades de desenvolvimento, relacionando com a experiência do Porto do Açu, que está localizado também na região Norte Fluminense.

Moraes é engenheiro e professor titular do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ). Pesquisador atuante nos temas: Petróleo-Porto; Espaço-Economia e Geopolítica da Energia e membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política.

Segundo a organizadora, a coordenadora do departamento de Formação do Sindicato, Conceição de Maria, “desde 2015, Macaé discute a possibilidade da vinda do Porto para o município. Durante um dos Congressos da categoria petroleira, o professor disse que se tratava de mera especulação e interesses dos governantes, além disso, ambientalistas macaenses se manifestaram contra a instalação do Porto”.

 

Edinc: Após alerta do NF, fechamento é confirmado

Após publicação de matéria no site do Sindipetro-NF sobre a desocupação do prédio do Edinc, em Macaé, a Petrobrás confirmou a “descontinuidade” das atividades no edifício, que reúne cerca de 1.700 petroleiros e petroleiras. A empresa afirma que as demais bases administrativas da região, Imbetiba e Imboassica, passaram por adaptações para receber este contingente de trabalhadores. O sindicato alerta que não há garantias de que isso de fato vai ocorrer.

A entidade criticou ter tomado conhecimento do encerramento das atividades no Edinc, até dezembro de 2020, por meio de relatos da categoria e por pedido de entrevista sobre o assunto feito pela Agência Reuters — que, por sua vez, havia tomado conhecimento do assunto por meio de Fato Relevante divulgado ao mercado pela XP Corporate Macaé Fundo de Investimento Imobiliário, que administra o prédio.

O coordenador do NF afirma que telefonou para todos os gerentes de recursos humanos da região, e que nenhum deles sabia sobre a desocupação do Edinc. “Eles não estavam sabendo de nada sobre a movimentação. Isso é muito grave, porque mostra que não há planejamento. Mostra a falta de compromisso da alta gestão da empresa até com os seus gestores [locais]”, afirma Bezerra, que acabou por confirmar o fechamento do Edinc junto a gerências mais elevadas no organograma da empresa.

“O que temos de concreto é mais uma mostra de desmonte da empresa. Já vimos como aconteceu no fechamento do Edisp (Edifício Sede da Petrobrás em São Paulo), quando o gerente executivo de RH, Claudio Costa, afirmou que quem sobrasse ia para a rua”, adverte o sindicalista.

Rumo à Marcha das Margaridas

O Sindipetro-NF realiza nos próximos dias duas plenárias para debater a participação das mulheres da região na Marcha das Margaridas. A primeira será nesta sexta, 19, às 14h, na sede de Macaé. A segunda, na próxima quinta, 25, às 10h, na sede de Campos dos Goytacazes. Essas plenárias são abertas a todas as pessoas interessadas em participar da Marcha das Margaridas em Brasília.

Com o lema “Margaridas na luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”, acontece nos dias 13 e 14 de agosto de 2019, em Brasília, a maior ação organizada por mulheres do campo, da floresta e da cidade, a Marcha das Margaridas 2019.

O Sindipetro-NF disponibilizará dois ônibus para a Marcha e essas plenárias são para repassar orientações, falar sobre seu significado e definir quem poderá participar dessa atividade.

Realizada desde o ano 2000, a Marcha recebe o nome da líder sindical e trabalhadora rural Margarida Maria Alves, assassinada no dia 12 de agosto de 1983, em Alagoa Grande (PB), porque lutava pelos direitos de trabalhadores e trabalhadoras explorados por usineiros e latifundiários da região do Brejo Paraibano.

Mulheres negras no Rio

Diversas entidades dos movimentos das mulheres negras realizaram no último domingo, na sede de Campos dos Goytacazes do Sindipetro-NF, atividade Pré-Marcha das Mulheres Negras — o evento nacional que acontece no dia 28 de julho e terá comitivas da região. A marcha, que acontece em Copacabana, no Rio, terá como tema “Mulheres negras resistem: em movimento por direitos, contra o racismo, o sexismo, e todas as formas de violência”.

 

CURTAS

Modec

O NF recebeu, da empresa Modec, pedido de resposta a matéria publicada no site da entidade sobre a interdição parcial do FPSO Campos dos Goytacazes, em 4 de julho. A empresa afirmou repudiar a afirmação de que “as vidas humanas são consideradas baratas para as empresas”, contida na matéria. O sindicato publicou democraticamente a versão da Modec sobre os acontecimentos (bit.ly/2XX9iim), mas, também, nota da entidade onde reafirma a sua opinião acerca do comportamento das empresas.

Mais ataques

Não há limites. O governo de extrema direita em curso no Brasil abriu as porteiras para o aprofundamento dos ataques aos trabalhadores. Medida Provisória de Bolsonaro, número 881, quer se tornar lei para trazer ainda mais retrocessos para a legislação trabalhista brasileira. Um dos principais ataques é a liberação do trabalho aos domingos e feriados sem remuneração diferenciada ou escala especial de folgas.

O óbvio

Matéria publicada nesta semana no Portal da CUT traz a avaliação, feita pelo ex-ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, de que ao contrário do que prega o governo de Jair Bolsonaro (PSL/RJ), a reforma da Previdência não promoverá crescimento econômico, nem geração de empregos. “A reforma da Previdência vai retirar dinheiro de circulação, porque os trabalhadores, aposentados e pensionistas terão menor renda para consumir”, afirma Berzoini.

Setor privado

O NF realizará a primeira mesa de negociação do Acordo Coletivo dos trabalhadores da Baker/GE na próxima quinta, 25. Essa mesa estava marcada para amanhã, mas foi adiada por solicitação da empresa. Os trabalhadores da Baker/GE aprovaram a proposta de pauta de reivindicações em assembleias nas bases de Macaé nos dias 26 e 27 de junho e agora devem acompanhar as negociações por meio das notícias da Imprensa do NF.

 

NORMANDO

O idiota frenético

Normando Rodrigues*

Na “mostra internacional de chauvinismo” (reunião do G20, em Osaka), EUA e China chacoalharam sabres, Rússia e Reino Unido ensaiaram burlar a União Europeia, e o anfitrião Japão aproveitou para declarar que voltará a caçar baleias.

Se o meio é calhorda, o pior dos canastrões fica à vontade. E, assim, Bolsonaro teve no evento seu ponto de virada, em atuação absolutamente afinada com o espírito de seu tempo.

Ao fim, todos professaram fé cega no Deus Mercado. E Bolsonaro, com sua aprovação consolidada no terço reacionário (33%), retomou a iniciativa política.

Os ricos

Dentre os riquinhos do Brasil, a aprovação do presidente aumentou de 41% para 52%. E isto, aliado à virada no G-20, teve reflexos imediatos.

A destruição da Previdência Social foi aprovada em 1° turno da Câmara dos Deputados (10 de julho), com o maior placar a favor de uma emenda constitucional desde a redemocratização de 1988: 379 votos.

A destruição da Previdência, por sua vez, reavivou a sanha frenética contra Estado. Um verdadeiro frenesi fascista. Cardume de tubarões na carcaça de uma jubarte.

A sanha do dia 11

Num só dia o fascismo colecionou a aprovação em comissões do projeto de lei para demitir servidores públicos; e da MP 881, que aprofunda ainda mais a Reforma Trabalhista, com direito a rasgados elogios em editorial do “Estadão”.

No embalo da votação do dia anterior, o Idiota-Mor anunciou: a criação de 108 escolas militarizadas, para doutrinação da “juventude bolsonarista”; a nomeação de um futuro ministro do STF que atenda ao critério de ser evangélico-terraplanista; e a redução das áreas de proteção ambiental dos estados ou da União.

Ainda no dia 11, em duas votações na ONU, o Brasil primeiro se omitiu, no Conselho de Direitos Humanos, quanto a investigar assassinatos sistematicamente cometidos por policiais filipinos, sob ordens do presidente Rodrigo Duterte, de quem Bolsonaro se declara fã. Depois, ao apreciar uma resolução contra o casamento forçado infantil, votamos para excluir uma referência “ao direito à saúde sexual e reprodutiva”, conceito utilizado pela Organização Mundial de Saúde, e para retirar a recomendação a favor da educação sexual “de acordo com a maturidade apropriada”.

Constrói-se um Brasil de miseráveis, governado por lideranças muares que odeiam seu povo, e se deslumbram com o que há de mais medieval e atrasado.

Em meio a isso tudo, a nomeação de Dudu Bolsonaro como embaixador na Trumpelândia é pinto. Aliás… pintinho.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]