EDITORIAL
Chegou a calmaria: sqn
Como se diz nas redes sociais, só que não. Não há calmaria possível para a classe trabalhadora em um país sob tantos ataques aos direitos, às políticas públicas e ao patrimônio nacional. E não há calmaria possível para a categoria petroleira que, mesmo proletária como outra quaisquer, tem como especificidade atuar em um setor estratégico para a soberania nacional, que está sendo desmontado para saciar o apetite dos tubarões multinacionais do petróleo.
Horas depois da assinatura do Acordo Coletivo todo Conselho Deliberativo da FUP se reuniu. Os sindicalistas discutem os próximos passos de mobilização contínua que terá como missão impedir a privatização da Petrobrás, assim como ser solidária na luta contra todas as demais privatizações de empresas estratégicas para o País.
Também mal encerrava a Campanha Reivindicatória, a Federação e seus sindicatos, como o NF, estavam em um grande ato no Rio, contra o leilão de áreas de petróleo do pré-sal — que, no final das contas, mostrou-se um fracasso para as intenções do governo, pois só a Petrobrás, em consórcio com uma estatal chinesa, participou. Aparentemente as gigantes do petróleo queriam condições entreguistas ainda mais favoráveis para “investir” em um país governado por um bando de desequilibrados.
Tudo indica que estamos chegando a um fim de ano que vai impor muita mobilização da categoria. E não apenas em razão dos temas relacionados à Petrobrás e ao petróleo, mas também em relação à situação do país.
O pacotaço enviado pelo governo Bolsonaro ao Congresso, se aprovado, vai aprofundar a desigualdade social ao priorizar a redução do estado, com a eliminação do aumento real do salário mínimo e a elevação da concentração de renda. Atualmente, 13 milhões de brasileiros já vivem na miséria, em cenário de reversão da redução que havia sido conseguida nos governos Lula. De acordo com o Dieese, o pacote do governo vai agravar este quadro.
Não há outro caminho a não ser seguir na luta. Para tempos de turbulência a calmaria não é receita, é omissão e covardia. A categoria petroleira vai continuar atuante e presente.
ESPAÇO ABERTO
A briga não acabou
Andressa Delbons*
Vamos recapitular: não começamos a discutir o Acordo Coletivo agora. A direção da FUP está negociando o ACT desde abril. A negociação foi antecipada, por iniciativa da FUP, por conta do fim da ultratividade do acordo. Diante do impasse negocial (ou seja, a negociação direta com a Petrobrás estava esgotada), a empresa solicitou ao TST a mediação do acordo. Ambas as federações concordaram em participar dessa mediação.
Desse processo de mediação surge uma nova proposta, no dia 19/10. Todos os sindicatos do Brasil, tanto da FUP quanto da FNP, levaram essa proposta às assembleias. Cada um do seu jeito. A FUP aprovou uma contraproposta em suas bases e condicionou o início da greve à não continuidade da negociação, e a FNP indicou a simples rejeição, sem contraproposta.
O que a gente teve de resultado? A maior base da Petrobrás, que é o Sindipetro-RJ, responsável por 1/3 dos trabalhadores da empresa, aceitou. Dois sindicatos (um da FUP e um da FNP) não aprovaram greve. E alguns desses sindicatos que aprovaram a greve, aprovaram com resultado apertado. Na sequência, a FUP apresenta ao TST a contraproposta aprovada nas assembleias, que foi parcialmente acatada pelo tribunal com o envio de uma nova proposta em 25/10.
Diante desse panorama nacional, a direção da FUP se reúne pra discutir os próximos passos. E o coletivo nacional dos sindicatos da FUP indica que o caminho é a aprovação da proposta.
A proposta está uma maravilha? Não está não. Não é melhor ir para greve e para o dissídio?
A avaliação do jurídico da FUP é que o dissídio não garante avanço, muito pelo contrário. Porque quem vai arbitrar um possível dissídio em caso de greve é esse próprio TST que já fez essa proposta do dia 25/10 e já disse que é a última. E passando esse capítulo do ACT a briga não acabou não: a gente vai ter o GT para regrar as horas extras, vai ter que negociar a nova tabela de turno, a PLR… E a principal: a briga pelos nossos empregos e contra a privatização.
* Diretora do Sindipetro-Caxias e da FUP.
GERAL
Luta não para em todo o Brasil
Das Imprensas da FUP e do NF
A FUP e seus sindicatos assinaram nesta segunda, 04, o Acordo Coletivo de Trabalho, em cerimônia realizada no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que mediou o processo de negociação com a Petrobrás e subsidiárias. A categoria petroleira encerra de cabeça erguida esta importante batalha contra o desmonte do ACT e recomeça uma luta muito mais árdua, que é barrar as privatizações em curso na empresa e defender os empregos.
O projeto do governo Bolsonaro e dos seus gestores na Petrobrás é privatizar por completo a empresa, como já deixaram claro. O Acordo Coletivo de Trabalho dos petroleiros era um dos obstáculos que precisavam remover. Com luta e organização, a categoria resistiu aos assédios dos gestores e impediu o esfacelamento do ACT.
Agora a luta é mais dura e exigirá de cada petroleiro e petroleira coragem e disposição para enfrentar a maior batalha da história da categoria. Este é um enfrentamento que exigirá estratégia e uma ampla aliança com setores importantes da sociedade organizada, mas cujo protagonismo pertence aos trabalhadores do Sistema Petrobrás.
Logo após a assinatura, a FUP reuniu o seu Conselho Deliberativo, na quarta, 5, e na quinta, 6, para definir os encaminhamentos e estratégias de grande greve nacional dos petroleiros em defesa da maior empresa do Brasil. Também nesta semana, sindicalistas haviam participado de protestos, no Rio, contra o lelão de áreas de petróleo e os ataques do governo Bolsonaro.
NF nas ruas
Na manhã de ontem, no Calçadão de Campos dos Goytacazes, diretores do Sindipetro-NF participaram de ato público, junto ao Sindicato dos Bancários, para conscientizar a população sobre os impactos negativos das privatizações da Petrobrás e dos Bancos Públicos. O coordenador geral do NF, Tezeu Bezerra, foi um dos diretores que falaram. Ele explicou o que está por trás dos leilões do petróleo.
“A real intenção do governo não é aumentar o emprego. Não é tirar o Brasil da crise. A real intenção desse governo é privatizar as empresas públicas para beneficiar os bancos (…). Aquele leilão que aconteceu ontem foi um roubo a nós, brasileiros. Aquele petróleo já era da Petrobrás por meio de lei feita em 2013. E aí esses deputados e senadores, junto com o presidente que assinou, mudaram a lei, abriram novo leilão e a própria Petrobrás teve que comprar”, disse Bezerra.
Pior para Guedes, melhor para País
Das Imprensas da FUP e do NF
Com poucas propostas e sem concorrência, o megaleilão realizado nesta quarta-feira, 06, de quatro áreas do Pré-Sal na região da chamada Cessão Onerosa, foi dominado pela Petrobras e arrecadou R$ 69,9 bilhões, 65% dos R$ 106,5 bilhões esperados.
Das 14 empresas habilitadas, metade nem compareceu ao leilão. A área de Búzios, a mais cobiçada da oferta, foi arrematada pela Petrobras em consórcio com 90% de participação da estatal brasileira e 10% de duas estatais chinesas. Outra área de grande interesse, a de Itapu, só teve proposta da Petrobras. Outras duas áreas não tiveram ofertas.
Não fosse a luta que a FUP e seus sindicatos travaram em 2015 e em 2016 contra o desmonte da Lei de Partilha, a Petrobrás não teria como exercer a preferência sobre estas duas áreas nobres do Pré-Sal, onde já tem, inclusive, investimentos realizados.
Ontem, em nova rodada, a expectativa do governo novamente se frustrou. Apenas o consórcio formado pela Petrobrás e a chinesa CNODC apresentou proposta.
P-31: Vazamento provoca parada
O Sindipetro-NF foi informado pela categoria que ocorreu um vazamento de gás na P-31 no campo de Albacora, na Bacia de Campos, na manhã desta terça, 5. De acordo com relatos da categoria, houve rompimento na parte submersa de um duto e o gás vazou para o Turret. Os trabalhadores ficaram mais de uma hora no ponto de reunião. A produção chegou a ser parada.
Os petroleiros acionaram as válvulas de dilúvio internas do Turret, para evitar qualquer tipo de ignição. Por consequência, a P-25 também teve a produção parada. Foi acionado um barco de ROV para inspecionar as linhas e verificar se foram danificadas.
Mais uma vez a gestão não avisou ao sindicato do ocorrido, provavelmente por uma política de tentar excluir o movimento sindical do acompanhamento dos fatos, mas por conta da grande organização da categoria petroleira as denúncias chegaram e o sindicato acompanhará os próximos passos.
Caso anterior
Em maio desse ano, aconteceu um vazamento de óleo na mesma plataforma a partir de uma linha de drenagem que transpassava o tanque de carga da plataforma. O Sindipetro-NF participou da comissão de investigação através do diretor da CUT Nacional, Vitor Carvalho.
Um vazamento de óleo para o mar aconteceu no dia 6 de agosto de 2018, devido a um trinca no tanque de carga no costado do navio, que estava com problemas de falta de controle na entrada de água do mar. Na época o NF averiguou que esse era o segundo tanque de carga que estava com problemas, e que por pouco não houve outro vazamento no passado.
Reunião hoje sobre Petros 1
Participantes do Plano Petros 1 têm reuniões hoje, na sede do Sindipetro-NF em Campos dos Goytacazes, sobre a proposta Alternativa da Petros ao atual plano de equacionamento (PED), incluindo o já programado PED 2020. Serão duas reuniões: uma às 14h, especificamente para pensionistas do PP1; e outra às 18h, para todos os participantes do PP1. Será disponibilizado transporte entre Macaé e Campos, com saída da sede do Sindipetro-NF em Macaé às 15h.
O Departamento de Aposentados do NF informa que estas serão as últimas reuniões antes das Assembleias de avaliação da proposta alternativa da Petros. Por isso, “é uma grande oportunidade para tomar conhecimento sobre essa proposta, que poderá ter influência sobre toda sua vida e de seus dependentes”, convoca o departamento.
Participarão da reunião para prestar esclarecimentos à categoria o conselheiro eleito da Petros, Norton Cardoso, e os assessores Luís Felippe (Atuarial) e Marcello Gonçalves (Assessor Jurídico).
CURTAS
Novembro azul
O NF participa das atividades do Novembro Azul, no Centro Cultural do Legislativo, em Macaé, que começaram nesta quarta, 6, com a abertura da mostra fotográfica Sorriso Negro, do fotógrafo Luiz Bispo, que esteve em cartaz na entidade. A diretora do sindicato, Conceição de Maria Rosa, proferiu a palestra “Identidade negra”. O Novembro Azul é uma campanha mundial em defesa da saúde do homem. Na próxima terça, 12, o sindicato vai realizar um Face to Face sobre o tema.
Juvandia
O Sindicato dos Bancários de Campos e Região promove na próxima terça, 12, às 19h, na sede da entidade (Marechal Floriano, 129, Centro), debate sobre as mudanças no mundo do trabalho, reforma sindical e como tirar o Brasil da Crise Econômica. A debatedora será a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (ContrafCUT), Juvandia Moreira. A atividade é aberta.
FLIC e FDP!
O Sindipetro-NF é um dos apoiadores da 5° edição da FLIC (Festa de Literatura de Rio das Ostras), que acontece de hoje a domingo, entre a Rua da Casuarina e a Avenida das Flores, no Bairro Âncora. Entre as atrações está Eduardo Marinho, artista plástico, escritor, ativista social e filósofo. O sindicato também é parceiro na realização do 3º FDP! (Festival Doces Palavras), em Campos dos Goytacazes, que foi aberto no último dia 2 e segue até o próximo dia 30.
Cícero
O MST e outras entidades realizaram na manhã de ontem, em frente ao Forum de Campos dos Goytacazes, vigília para chamar a atenção para o julgamento do assassinato do líder sem terra Cícero Guedes. A atividade fez parte de uma série que, em outubro e neste início de novembro, buscaram conscientizar a população sobre a importância histórica de Cícero. Até o fechamento desta edição não havia sido divulgado o resultado do julgamento.
ARTE NO NF Aberta na última terça, 5, na sede do Sindipetro-NF em Campos dos Goytacazes, a exposição de artes plásticas da pintora Edlaine Souza Gusmão. Os trabalhos estão acessíveis ao público nos dias úteis, das 8h às 18h, até o próximo dia 30. A exposição faz parte das atividades culturais do Sindipetro-NF, que promove com frequência mostras, rodas de conversas e palestras em suas sedes de Campos e de Macaé.
NORMANDO
Brazil Colônia
Normando Rodrigues*
Nosso país está sob ocupação estrangeira.
Ocupação estrangeira proporcionada por um mentecapto que se declara nacionalista, mas age como embaixador dos EUA no Brasil.
É importante compreender por “qual América” Bolsonaro tanto se deslumbra, pois certamente o imaginário autoritário do infeliz não é seduzido pela lendária “Terra dos Bravos” e da igualdade de oportunidades, que acolhia os imigrantes “cansados e pobres”, como inscrito ao pé da Estatua da Liberdade.
Sonho americano
A “América” que Bolsonaro idolatra é aquela contra a qual o editorial do Washington Post advertiu, no último dia 2 de novembro: a da crescente desigualdade. Desigualdade exemplificada didaticamente pela situação social da cidade que Bolsonaro disse “amar”, e cujo sincero prefeito o declarou persona non grata: em Agosto de 2019 existiam em Nova Iorque pelo menos 61.674 pessoas em situação de rua (sem teto), compreendendo 14.806 famílias e 21.802 crianças. E esses são apenas os números dos cadastrados pelo sistema municipal de albergues.
Em compensação, segundo pesquisa do economista Gabriel Zucman, da Universidade da California (Berkeley), os 400 americanos mais ricos (0,00025% da população) triplicaram sua renda desde o início do neoliberalismo, no governo Reagan, e hoje detêm mais riquezas do que os 150 milhões de americanos mais pobres. E estes 150 milhões viram seus ganhos minguarem de 5,7% da renda nacional, em 1987, para 2,1% em 2014. A desigualdade e concentração de renda, nos EUA, retrocederam aos níveis dos anos de 1920, o período pré-Roosevelt, de Al Capone e da quebra da Bolsa de Nova Iorque.
Isso, claro, é apenas uma síntese do que acontece no planeta. Desde a crise de 2008, 95% dos ganhos econômicos são apropriados pelo 1% mais rico da população, e os oito homens mais ricos do globo (seis deles americanos), têm um patrimônio somado igual à metade mais pobre da humanidade (dados da organização Oxfam International).
Ou seja: Seis pessoas têm riqueza igual à de 3.850.000.000 de trabalhadores.
Abaixo a Democracia!
A desumanidade norte-americana levou a socióloga Patricia Hilll Collins a afirmar, em Outubro passado, que “Os EUA têm muitas instituições democráticas, mas não têm uma democracia. Há muita desigualdade”.
O leitor poderia concluir que Bolsonaro não conhece a “América” que tanto admira, e que peca por sua ciclópica ignorância. E estaria redondamente equivocado.
É exatamente por sua injustiça social que “esta” América é um modelo para Bolsonaro.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
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