Nascente 1119

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EDITORIAL

Faz arminha no churrasco

O churrasco de fim de ano, a viagem de férias, a gasolina, tudo está mais caro como reflexo de uma política que privilegia os ricos. Uma receita econômica ultrapassada, baseada no barbarismo neoliberal, só pode gerar o que se propõe: selvageria. No governo Bolsonaro, essa selvageria é espraiada também para os demais campos, não apenas o econômico, com ministros e o próprio Presidente da República estimulando conflitos diários.

O desrespeito, o ódio, a estupidez olaviana, viraram insumos obrigatórios do discurso oficial. Num dia é a Damares, noutro o Weintraub, nesta semana Dante Mantovani, presidente da Funart — note bem, da Funart, alguém que deveria conhecer, respeitar e promover todas as manifestações culturais — que descobrimos acreditar que o rock é coisa de satanista (ferindo ao mesmo tempo as liberdades de expressão cultural e de crença). Nunca, por mais duras que fossem as conjunturas, convivemos com tamanha sordidez no poder central.

Não é exagero. Pense em qualquer cenário ruim, coloque em seu devido contexto, e verás que poderia ser péssimo, mas não uma reunião de todos esses elementos nefastos que presenciamos hoje no Brasil. Temos o pior da política econômica, o pior em todas as formas de preconceito, o pior em negligência com a democracia, o pior em recrudescimento das tensões sociais, o pior em política externa. É um pesadelo.

Se, por algum exercício de generosidade, alguém precisar apontar algo positivo em Bolsonaro e em seu governo, poderá dizer com segurança: ele está sendo exatamente o que todos minimamente informados sabiam que seria. Não foi, portanto, uma enganação. Fascista, machista, homofóbico, aporofóbico, entreguista. Todos atributos fartamente conhecidos e documentados ao longo da sua medíocre carreira como deputado de base miliciana.

Entre os mais cínicos estão os liberais limpinhos. Porque os truculentos, ao menos, têm a dignidade de se expor em toda a sua indigência intelectual e de caráter. Os liberais limpinhos, não. Eles se esconderam na eleição atrás do Paulo Guedes. Eles fingiram que o País estava polarizado entre forças iguais. Eles ajudaram a construir na imprensa uma certa aceitação a Bolsonaro, um preço a pagar “para varrer o PT”. Canalhas, hipócritas, irresponsáveis. Quase um ano depois, olha aí a obra de vocês.

Quando cruzar com algum desses no churrasco, e ele vier com reclamação sobre o preço da carne, manda fazer arminha que passa. Isso, para ficar em termos mais educados, porque o leitor ou a leitora deve imaginar o que dá vontade de mandar fazer com a arminha.

ESPAÇO ABERTO

Enfrentando o racismo*

Anatalina Lourenço e Rosana de Sousa Fernandes**

O novo nome à frente da Fundação Cultural Palmares, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, militante de direita, negou a existência de racismo no Brasil e que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”.

Sérgio defendeu nas redes sociais o fim do feriado da Consciência Negra, criticou manifestações culturais ligadas à população negra e atacou diversas personalidades negras, entre elas a atriz Taís Araújo, o ator Lázaro Ramos e ex-vereadora Marielle Franco.

O Dia da Consciência Negra é um dos seus alvos preferenciais, ele defendeu sua extinção dizendo ele causaria “incalculáveis perdas à economia do país” ao homenagear quem ele chamou de um “um falso herói dos negros”, Zumbi dos Palmares — que dá nome à fundação que ele agora preside. Também já afirmou que o feriado foi feito sob medida para o “preto babaca” que é um “idiota útil a serviço da pauta ideológica progressista”.

Nas redes sociais ele também já publicou que no Brasil existe um racismo “nutella”, ao contrário dos Estados Unidos, onde existiria um racismo “real”. “A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”. Também chegou a dizer que o movimento negro precisa ser “extinto” porque “não há salvação”.

O racismo é a consequência da escravidão. Se você inverte a causa e a consequência, você ainda não entendeu o assunto. No Brasil, a história do negro ainda está por ser escrita. O racismo operou como elemento de manutenção de privilégios da elite branca. O racismo faz com que pessoas negras não se entendam parte de uma história e de um povo. O racismo desumaniza. As pessoas negras e não-negras precisam urgentemente discutir e lutar contra o racismo. A sociedade brasileira precisa enxergar e assumir que o racismo existe e pensar no peso da questão dos privilégios.

* Trecho de artigo publicado originalmente no Portal da CUT. Íntegra em is.gd/eanascente1119, sob o título “Pra encerrar a discussão sobre a necessidade de enfrentar o racismo, apresentamos o novo presidente da Fundação Cultural Palmares”. **Diretoras nacionais da CUT na Secretaria de Combate ao Racismo.

GERAL

PLR: Por negociação com respeito

Das Imprensas do NF e da FUP

A política de ódio aos trabalhadores, típica do bolsonarismo e que está fazendo estragos em várias frentes, também continua a deixar suas marcas na Petrobrás. A gestão da companhia apresentou à FUP, nesta semana, uma proposta de regramento do pagamento da PLR 2020 que desconsidera toda a construção feita até aqui, entre empresa e trabalhadores, para o tema. A companhia, simplesmente, abandona todo o regramento feito anteriormente.

Um dos maiores absurdos da proposta de PLR 2020 da empresa é o estabelecimento de um teto de uma remuneração para o valor da PLR a ser paga a cada trabalhador. A FUP e os sindicatos já recusaram a proposta de regramento e continuam a pressionar a gestão para que demonstre respeito á categoria por meio de uma proposta que possibilite, de fato, um novo diálogo — e não, como parece desejar, estimule o confronto.

PLR 2019

A situação não é menos adversa em relação à PLR 2019. Como noticiado na última semana pela FUP e sindicatos, após a afirmação dos representantes da Petrobrás em mesa de negociação de que não cumprirá a Medida Provisória 905, que flexibiliza as condições para pagamento da PLR, a Federação entrou com pedido de mediação e conciliação pré-processual junto ao Tribunal Superior do Trabalho.
Havia um Acordo fechado em 2013 que pactuava regras de pagamento até 2019. Durante a negociação de pagamento da PLR de 2019 a gestão da Petrobrás usou como argumento para não pagar a exigência legal de que as regras fossem acordadas até dezembro de 2018, ou seja, no ano anterior ao do exercício da PLR. Com a MP 905, essa exigência caiu e a Petrobrás deveria cumprir a lei e pagar.

Dois pesos

A FUP chegou a questionar se a MP 905 tinha ou não poder de Lei ao jurídico da Petrobrás e a resposta foi que sim. Mesmo assim, o RH afirmou na mesa que não cumprirá. No entanto, no documento que enviou à Federação e aos sindicatos em 15 de março, logo após a edição da MP 873, comunicando a suspensão do desconto em folha das mensalidades sindicais, a mesma gerência se referiu à Medida como “nova legislação”.

A mesma gerência que não titubeou em aplicar em março a MP 873 para tentar asfixiar financeiramente os sindicatos, agora se nega cumprir a nova legislação para a PLR.

Pampo e Pargo: Caos para quem sai e para quem fica

O Sindipetro-NF recebeu denúncias graves sobre falta de comida e problemas de habitabilidade e segurança na plataforma de Pampo, na Bacia de Campos. São casos de vazamento da tubulação do triturador de alimentos dentro da plataforma, pisos amarrados com arames, banheiros em péssimas condições e sanitários interditados. Também há problemas com a limitação de espaço nos camarotes e condições dos boxes. Há ainda vazamentos, tamponamentos e gambiarras para manter camarotes em uso.

O sindicato cobra a solução imediata destas pendências e solicita aos trabalhadores que continuem a enviar informações sobre as condições de segurança e habitabilidade. O caso será informado aos órgãos fiscalizadores.

Desimplantados de Pargo

A entidade também continua a acompanhar a situação dos petroleiros desimplantados do polo de Pargo. Até mesmo relatos de gerentes têm chegado ao sindicato para atestar deficiências no efetivo. No último dia 14, diretores do NF estiveram reunidos com gerências da empresa para cobrar, entre outros pontos, a apresentação dos critérios e cálculos do pagamento dos desimplantes, além de informações sobre todas as transferências.

Um representante da empresa havia se comprometido a fazer encontro de gerentes para discutir o assunto, mas o problema continua. Há ainda vários casos de problemas no processo de desimplante, como o de trabalhadores que moram em Santos e foram enviados para Vitória — assim como o contrário: trabalhadores que moram em Vitória e foram enviados para Santos.

 

Transporte: NF consegue suspensão de alteração

Após solicitação do Sindipetro-NF, a Petrobrás suspendeu a alteração que havia programado para começar no último 2, no transporte para Rio das Ostras e bairros de Macaé. O serviço foi implantado em 2008, fruto de um acordo com o sindicato. Em 11 de novembro deste ano, a empresa anunciou, unilateralmente, que iria elevar o valor pago pelos trabalhadores e reduzir os trajetos, o que gerou a reação da categoria e a cobrança da entidade.

Como noticiou o Nascente 1116, a gestão da Petrobrás anunciou que iria elevar, de R$ 49,00 para R$ 278,18 (ou 6% do salário básico, o que fosse menor), o valor mensal do transporte de ônibus entre a base de Imboassica e os bairros de Macaé e Rio das Ostras. A empresa também afirmou que iria reduzir o trajeto, passando apenas por ruas principais, além de exigir um novo cadastro dos trabalhadores. Agora, a questão volta a ser discutida entre o sindicato e a gestão da companhia. O NF não aceita retrocessos nas condições de transporte da categoria.

 

Petros: Proposta do GT é aprovada

Duas assembleias, uma na sede do Sindipetro-NF em Campos dos Goytacazes, e outra na sede de Macaé, aprovaram na sexta, 29, a proposta alternativa dos trabalhadores para o equacionamento do Plano Petros 1. Nas assembleias, os aposentados e pensionistas participantes do Plano Petros 1 assistiram a exposições sobre a proposta, construída no Grupo de Trabalho da Petros na FUP, que busca resolver de modo justo o equacionamento do déficit no plano.

O assessor atuarial da FUP, Luis Felipe, apresentou os números do plano, que experimentou melhoras recentes após os primeiros aportes feitos pelos trabalhadores, mas ainda mantém um déficit de R$ 34 bilhões. Advogado do escritório Normando Rodrigues, que assessora o NF e a FUP, Marcelo Gonçalves fez um balanço das ações jurídicas em defesa dos trabalhadores, mas destacou que a grande força da categoria vem das mobilizações. Na busca por uma solução justa para a Petros, ele destacou a importância da ocupação recente feita pelos participantes no prédio da Fundação, no Rio, na manifestação contra o “PED assassino”.

Diálogo

Para o diretor do Sindipetro-NF, Antônio Alves da Silva, do Departamento de Aposentados, a proposta é uma vitória da categoria que nasceu de muito diálogo e participação nas reuniões no sindicato. Ele destacou, no entanto, que ainda há muita luta pela frente. “Com essa proposta chegamos ao final de um ciclo, mas não é o final da história”, afirmou.

 

CURTAS

Gestão do terror

A que ponto chegam as perseguições no sistema Petrobrás. Um engenheiro precisou ir à justiça, por meio do sindicato, para ter de garantido de volta o seu emprego na Transpetro, após ser demitido sob acusação (que se mostrou falsa) de ter furtado uma cápsula de café. O trabalhador, com mais de dez anos de empresa, atuava em bases de São Paulo, até vir para o Edise, no Rio. Nesta semana, decisão do TRT determinou a reintegração. Saiba mais sobre o caso em is.gd/transpetro01.

NF na Central

O diretor do Sindipetro-NF, Alessandro Trindade, tem liderado nos últimos dias ações de grande impacto no Rio de Janeiro, para conscientizar a população sobre os reais motivos da carestia dos combustíveis. Panfletagens e faixaços estão sendo realizados em vários pontos de grande fluxo popular, como a Central do Brasil, e em frente ao edifício sede da Petrobrás, o Edise.

Frente na ABI

Na próxima quinta, 12, acontece o lançamento da Frente Estadual em Defesa da Petrobras, da Soberania Nacional e do Desenvolvimento, às 18h, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Além da própria ABI, são entidades realizadoras a CUT, a CTB, a OAB e a FUP, entre outras entidades petroleiras e dos movimentos sociais. O coordenador geral da FUP, José Maria Rangel, será um dos participantes de mesa de debate sobre o tema.

Infernópolis

O assassinato, pela polícia de São Paulo, de nove jovens que estavam em um baile funk em Paraisópolis é mais um destes casos que expõem abismo em que nos meteram. Marcado pela escravidão e pela desigualdade extrema, o Brasil é país em guerra, uma realidade que as classes abastadas fingem desconhecer. O extermínio de pobres segue sob olhos hipócritas e condescendentes das “famílias de bem”.

AUDIÊNCIA PÚBLICA No último dia 28, o Sindipetro-NF participou da audiência pública “A Petrobrás e os impactos da privatização nos empregos e na segurança”, no Museu do legislativo de Macaé. A audiência foi convocada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Macaé, presidida pelo vereador Marcel Silvano (PT) e construída em parceria com o sindicato. O especialista do Dieese, Iderlei Colombini, detalhou os impactos nos empregos no país e no Norte Fluminense. Ele explicou que no governo Temer foram vendidos campos de petróleo, refinarias , petroquímicas e geradoras de energia. “No governo Bolsonaro já foram vendidos R$ 15,4 bilhões da empresa, incluindo a BR Distribuidora. Hoje, das 21 empresas de petróleo no mundo, apenas a Petrobrás não possui uma empresa distribuidora”, afirmou Colombini.

SETOR PRIVADO Duas importantes assembleias de empresas do setor privado foram realizadas nesta semana. Na Tetra, em assembleia realizada dia 2 na sede do NF, os trabalhadores rejeitaram por unanimidade a proposta de Acordo Coletivo 2018/19 apresentada pela empresa. O resultado foi comunicado à empresa e será agendada uma nova mesa de negociação para dar andamento à Campanha Salarial 2019. Na Franks (foto), a assembleia foi na sede da empresa e os trabalhadores aprovaram por unanimidade a proposta de termo aditivo — 2019/2020 — ao Acordo Coletivo de Trabalho 2018/2020.

 

NORMANDO

Fascismo e futebol

Normando Rodrigues*

Nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2006, o jogo entre Portugal e Holanda ofertou ao público a cena mais desonesta da história das copas.

A certa altura a zaga de Portugal mandou a bola para fora das linhas, para possibilitar atendimento médico ao goleiro Ricardo. Nessas situações reza o fair play que, ao reiniciar o jogo, o adversário devolva a bola. Mas não foi o que aconteceu.

O zagueiro Heitinga, recém entrado em campo, aproveitou a expectativa de devolução dos portugueses e engatilhou um ataque, parado por uma verdadeira “tesoura” do furioso Deco, indignado com a desonestidade holandesa.

O Fascismo é desonesto

Fosse apenas um desatino de Heitinga, a cena já seria anti-ética. Porém o “ataque surpresa”, contra adversário que esperava devolução de bola, foi tramado, e incentivado por gritos e gestos desesperados do treinador holandês, na beira do gramado.

E esse treinador holandês era Marco van Basten. O mesmo Marco van Basten goleador excepcional, campeão pelo Ajax e pelo Milan, que por sua elegância era descrito como o “Cisne de Utrecht”, a “Gazela”, ou o “Leonardo da Vinci do futebol”.

O desonesto van Basten também é o mesmo que, como comentarista europeu do canal Fox Sports, no penúltimo domingo fez ao vivo, na TV, a saudação nazista “Sieg Heil!”, fato que levou a Fifa, na última semana, a excluir seu nome de todas as marcas da entidade, incluído o videogame “Fifa 20”.

Combater sempre

Atitudes como a da Fifa são louváveis. Contudo, não bastam. É preciso desconstruir as mentiras do fascismo, e denunciar sua brutalidade, o tempo todo. A onda do governo autoritário de poucos, sobre muitos, em favor dos ricos, é global, e demanda atitudes.

Em novembro passado Hillary Clinton denunciou o afastamento de parlamentares britânicas da vida política, após ameaças fascistas via Facebook, e campanhas semelhantes do presidente Trump, mobilizando seus seguidores contra adversários políticos, como um inequívoco “caminho para o Fascismo”.

Aqui em Pindorama o mentecapto que ocupa o Planalto, e seus iletrados príncipes herdeiros, fazem uso cotidiano desta prática indispensável à sua ideologia: o Fascismo não resiste ao mínimo debate racional, e por isso precisa inviabilizar qualquer diálogo com não-fascistas.

Os não-fascistas são a maioria da população. Maioria, entretanto, que prefere não reagir.

Enquanto se omitem, vivemos a estranha realidade onde a Fifa é mais progressista do que o governo do Brasil.

* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
[email protected]