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EDITORIAL
Eles ainda estão entre nós
Não subestimemos o bolsonarismo. O mico eleitoral de Bolsonaro, que não transferiu votos para a maioria dos seus apoiados nas eleições municipais — inclusive afundando alguns, como Celso Russomano em São Paulo —, não tem conexão direta com as raízes culturais do fenômeno que levou o boquirroto despreparado ao poder.
O bolsonarismo não pode ser medido tão objetivamente quanto se pensa, tomando-se em conta apenas números eleitorais. Bolsonaro, por enquanto, é o mais forte elemento catalisador do extremo conservadorismo brasileiro, que ganhou lastros profundos em segmentos religiosos, e isso não desaparece de acordo com o calendário eleitoral.
Tanto assim é que Bolsonaro prescinde até de partido. Sua liderança sobre parcela da população que gravita em torno dos 30% que aprovam seu governo tornou-se um capital político que só o tempo poderá deteriorar. Sua busca constante é pela conservação de uma ligação pessoal, afetiva, emocional, com os sentimentos mais íntimos de insegurança das pessoas, aguçando o medo ao diferente, procurando dar o conforto de um mundo previsível onde tudo está escrito e deve ser do mesmo modo sempre. Por mais paradoxal que pareça, em sua loucura, Bolsonaro parece um porto seguro para muita gente, como é típico do messianismo.
Mas isso não é de todo uma má notícia: o lado bom é que, ao não conseguir criar uma máquina partidária forte e não conseguir transferir votos como se imaginava — há algum tempo chegou-se a temer, ainda sob o impacto trágico do resultado eleitoral de 2018, que o bolsonarismo elegeria milhares de prefeitos e vereadores país afora — foi possível conter em parte a representação institucional destes fascistas tresloucados.
Mas não nos enganemos, eles estão por aí, cada um de nós conhecemos alguns deles. O bolsonarismo vive em cada machista, em cada racista, em cada explorador do trabalho alheio, em cada miliciano, em cada xenófobo, em cada negacionista, em cada autoritário, com ou sem aliança momentânea com algum liberal limpinho que agora tenta se afastar da obra que criou.
Eles continuam entre nós, e não ajuda em nada não reconhecê-los. Precisamos nos manter atentos e fortes.
ESPAÇO ABERTO
Porteira e cerca arrancadas*
Rosângela Buzanelli**
Novamente somos surpreendidos pela oferta de campos gigantes da Bacia de Campos, compreendidos, como a própria oferta destaca, como a maior acumulação pós-sal no Brasil, um dos ativos prioritários para a companhia, com VOIP (volume in place) acima de 20 Gbbl (bilhões de barris), prazo de concessão até 2052, localizados em águas profundas e ultra-profundas, com oportunidades no pós-sal e pré-sal. Definitivamente, não abriram a porteira, ela foi arrancada, com cerca e tudo.
Inexplicável a venda de 4 campos cuja produção atual soma 240 mil boe/dia com potencial de aumento significativo e reservatórios comprovados, e a testar em curto prazo, no pré-sal. E se pretende desfazer-se da metade de tudo isso. Em que essa decisão vai ajudar a companhia e o país?
Em que, estrategicamente, é bom para a Petrobrás concentrar suas atividades em alguns campos do pré-sal da Bacia de Santos, os mais rentáveis? Pode ser muito bom momentaneamente aos acionistas investidores, que lucrarão como em nenhum outro negócio, mas no curto prazo, pois matarão a galinha dos ovos de ouro.
Como uma gigante do petróleo pretende sobreviver gigante, concentrando suas atividades em plays geológica, logística e tecnologicamente similares, concentrando a produção em poucos campos e unidades? E se ocorrer um problema? O que torna uma empresa de petróleo gigante e resiliente, não é o lucro máximo no menor prazo, é a sua diversificação e verticalização. Os exemplos são múltiplos no planeta, não é preciso desenhar.
Anunciam a venda da metade de campos gigantes, com boa, lucrativa e crescente produção, acervos gigantescos de dados geológicos e geofísicos (poços, testemunhos, levantamentos 3D e 4D, etc.,) com todo seu conhecimento agregado e mais, um atrativo que tem sido ressaltado em várias ofertas: não há obrigação de conteúdo local.
A quem interessa mesmo esse negócio?
*Trecho de artigo publicado originalmente nas redes sociais da autora e reproduzido no site da FUP, sob o título “Complexo Marlim, definitivamente, não abriram a porteira, ela foi arrancada com a cerca junto”, em is.gd/eanascente1166.
**Conselheira eleita do Conselho de Administração da Petrobrás.
GERAL
Participe da luta por PLR justa
Petroleiros e petroleiras do Norte Fluminense estão em período de assembleias para avaliar indicativo de rejeição à contraproposta da Petrobrás e da Transpetro de acordo coletivo para regramento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados). Em razão da pandemia de covid-19, as assembleias são feitas de modo remoto (confira abaixo as formas de participação).
Na noite da última quarta, 18, o sindicato promoveu Face to Face sobre a contraproposta de regramento da PLR, com esclarecimentos sobre o indicativo de rejeição. O conteúdo continua disponíveis canais do Facebook e do Youtube da entidade. O movimento sindical defende a continuidade das negociações para buscar um modelo de regramento mais justo e que atenda a reivindicações como a de manter um piso para a PLR, estender o prazo de vigência do acordo (a empresa quer para apenas um ano) e acabar com o privilégio dos acionistas (que receberiam mesmo sem lucro enquanto os trabalhadores continuariam vinculados ao lucro líquido).
As representações sindicais também cobram que regramento atenda a todos os trabalhadores, independentemente da função que ocupem e da empresa em que atuem no Sistema. Além disso, os indicadores têm que refletir todas as áreas da empresa, pois os resultados são construídos coletivamente pelos petroleiros e petroleiras. Outro ponto que a FUP reforça é o de que não pode haver redução de PLR por perseguições políticas.
Filiado vota até 20h
19/11- Das 8h às 20h de 20/11 – votação online para filiados.
*19/11, das 8h às 17h –
inscrição para webinar (pré-assembleia), obrigatória para os não filiados.
*19/11, às 19h – realização da webinar para os não filiados.
*19/11, até as 23h – envio por
e-mail do “kit voto” para os participantes da webinar.
23/11 – das 9h às 12h, e de 14h às 16h – recepção do “kit voto” dos não filiados, nas sedes do sindicato.
* Etapas já realizadas. Veja mais informações em is.gd/assembleiasplr
Venda de Marlim é novo golpe duro
Em mais uma sinalização ao mercado de que mantém o programa de desmobilização de ativos na Bacia de Campos, a Petrobras anunciou na segunda, 16, a venda de 50% de sua participação nas concessões de Marlim, Voador, Marlim Leste e Marlim Sul. Os campos, denominados em conjunto como Polo Marlim, estão localizados em águas profundas.
A notícia foi recebida com apreensão por lideranças empresariais, sindicais e políticas do Norte Fluminense, que vêm sofrendo os impactos econômicos e sociais do desinvestimento da companhia na região. O consenso é de que a venda dos ativos do Polo Marlim será mais um duro golpe ao mercado de trabalho e ao patrimônio da empresa.
De acordo com o comunicado, a Petrobras se manterá como operadora dos campos, onde tem atualmente 100% de participação. Marlim e Voador, localizados a uma distância de 150 km de Macaé (RJ), compartilham a infraestrutura de produção. Entre janeiro e outubro deste ano, produziram 68,9 mil barris de óleo por dia e 934 mil m3/ dia de gás em média no mesmo período.
Marlim Leste, localizado a uma distância de 107 km do Cabo de São Tomé, produziu, em média, 38,5 mil barris de óleo por dia e 615 mil m3/dia de gás. Já o campo de Marlim Sul, situado a uma distância de 90 km do litoral norte do Rio de Janeiro. Até outubro, a produção média do campo este ano foi de 109,6 mil barris do óleo por dia e 2.062 mil m3/dia de gás.
Lideranças condenam desmonte da Bacia
Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (ACIC), Leonardo Castro de Abreu, o anúncio da Petrobras não faz sentido sob o ponto de vista estratégico, uma vez que as empresas privadas costumam vender ativos não lucrativos. Outra liderança que registrou preocupação foi o mestre em políticas públicas, estratégia e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o economista Ranulfo Vidigal, que disse que o anúncio faz parte da estratégia de priorizar o investidor detentor de títulos da estatal, em detrimento da visão estratégica nacional de longo prazo que permeia as grandes empresas públicas de óleo e gás. De acordo com o engenheiro e professor do Instituto Federal Fluminense (IFF), Roberto Moraes, a venda dos campos do Polo Marlim é uma continuidade do processo acelerado de desintegração da Petrobras.
O anúncio da venda dos campos de Marlim também foi repercutida pelos candidatos que foram ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes. Para Caio Viana (PDT) e Wladimir Garotinho (PSD), o que mais preocupa é o impacto social e econômico da atual política de desinvestimentos da Petrobras na Bacia de Campos. Ambos assinam a carta “Compromisso Público em Defesa da Petrobras”, elaborada pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF), que tem como objetivo obter dos postulantes o compromisso de suas gestões com a permanência dos investimentos da empresa na Bacia de Campos, caso sejam eleitos.
Pesquisa e GT sobre teletrabalho
Das Imprensas da FUP e do NF
A FUP participou, no último dia 12, da primeira reunião do Grupo de Trabalho para acompanhar e propor medidas que regulamentem o teletrabalho no Sistema Petrobrás. Neste encontro virtual, a gerência de RH apresentou a regra que foi passada para categoria e deverá ser implementada no período pós-pandemia. A direção da FUP reafirmou as premissas definidas para que possa ser validado o regramento.
Para a Federação e seus sindicatos, a implementação deve ser negociada de forma coletiva, garantindo segurança e estabilidade jurídica para os trabalhadores e a empresa. Também é preciso haver adesão opcional, com previsibilidade de duração e controle de jornada, além de divisão de custo do trabalho e responsabilidade com a infraestrutura, assim como manutenção de todas as garantias e benefícios previstos no ACT.
Pesquisa do NF
O Grupo de Trabalho, que é uma conquista da Federação no Acordo Coletivo de Trabalho 2020-2022, terá calendário para novas reuniões. Enquanto isso, no NF, está em curso a pesquisa com a categoria para conhecer os impactos do home office. Petroleiros e petroleiras estão recebendo e-mails com o convite para participar. O sindicato avalia que os dados serão fundamentais para embasar a ação do sindicato a esse respeito, especialmente na negociação com a Petrobrás, na busca de condições adequadas para trabalhadores e trabalhadoras que vierem a adotar o teletrabalho de forma definitiva.
Consciência Negra: NF tem história com a data e terá live
As celebrações pela passagem do Dia da Consciência Negra, o 20 de novembro, promovidas pelo Sindipetro-NF, chegam ao décimo sétimo ano. Dessa vez a atividade será diferente por conta da pandemia da covid-19. O NF está organizando uma live para a próxima terça, 24, que terá links e mais informações divulgadas em breve no site e redes sociais da entidade.
O Sindipetro-NF realizou durante cinco anos o Desfile da Beleza Negra, que lotava o auditório da entidade e tinha a intenção de fortalecer a identidade de homens e mulheres pretos. O evento foi referência na cidade de Macaé durante alguns anos. Em 2012, o NF promoveu um show popular na Praça Veríssimo de Mello, em Macaé com o grupo Makala Música e Dança, que fazia parte do projeto AfroRegggae e era composto por 20 jovens da comunidade de Vigário Geral. No mesmo ano, fez um cine debate na mesma praça com a exibição do filme Besouro e organizou um Seminário sobre a Lei 10639 que trata do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas e faculdades; oficinas de artesanato e da história do Jongo e show com Lene Moraes na sede de Campos.
Paralelo a tudo isso, a entidade promoveu uma exposição de arte africana do Museu Odé Gbomi intitulada “Mulheres Negras que contribuíram para a construção do nosso país”, composta de 150 peças da cultura Yorubá, entre elas totens, máscaras, instrumentos musicais, tecidos ferramentas e joalheria africana, que mostram o que existe de africano no Brasil e conta uma parte da história da África ainda pouco conhecida da população.
A palestra “O Negro e o Poder” foi ministrada em 2011 e teve como palestrantes a diretora Conceição de Maria, que era Subsecretária Municipal de Educação na Saúde, Cultura e Esporte de Macaé, e a secretária de Combate ao Racismo da CUT/RJ na época, Glorya Ramos. No mesmo evento, a artista plástica Beth Medeiros fez uma exposição no hall do NF em tributo ao ator, diretor e professor de teatro, Josias Amon. Outra atividade, em 2014, foi a exposição fotográfica Sorriso Negro.
Também aconteceu na sede de Macaé o espetáculo de danças afro, resgatando todo o clima das senzalas, em intercâmbio com jovens estudantes de Cabo Verde que vieram apresentar sua cultura.
Os meses de novembro sempre foram de música, dança, teatro, poesia e debates nas sedes do Sindipetro-NF. Todas as atividades do Dia da Consciência Negra foram muito marcantes na história do sindicato.
CURTAS
Mesa Uenf 18h
O Sindipetro-NF participa das atividades que celebram o Dia da Consciência Negra e o VIII Aniversário do Neabi (Núcleo de Estudos afro-brasileiros e indígenas) da Uenf. O núcleo promove, ontem e hoje, mesas de debates das 18h às 20h, no Google Meet. Diretores do Sindipetro-NF e membros da categoria integram o núcleo, com participação do diretor sindical Alexandre Vieira na mesa de abertura. Para participar é necessário fazer inscrição em www.encurtador.com.br/bszGU.
Live CUT 16h
A CUT promove hoje live para celebrar o Dia da Consciência Negra, com o tema “o racismo estrutural, a democracia racial e o papel dos sujeitos brancos”. Entre os participantes está a filósofa e militante do movimento negro, Ângela Davis. Haverá ainda música e informações sobre o combate ao racismo. A transmissão, a partir das 16h, será nas redes sociais da CUT e da TVT.
Apoio ao MST
O Sindipetro-NF está atento e solidário em relação à situação das 63 famílias do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, em Macaé, que estão sob ameaça de despejo. A reintegração de posse foi pedida pelo Marcelo Pereira da Silva, sob o pretexto de “preservação ambiental da área”, argumento contestado pelo MST. O julgamento da ordem de despejo está marcado para o próximo dia 25. Todo apoio do NF e dos movimentos sociais ao MST.
Petros
A FUP e demais entidades que atuam na defesa dos fundos de previdência dos trabalhadores e trabalhadoras estão em campanha de coleta de assinaturas em favor do PDC 956 (Projeto de Decreto Legislativo), que suspende dos efeitos da CGPAR 23 (que impõe restrições à destinação de recursos das empresas estatais com a assistência à saúde dos empregados). A assinatura pode ser feita em is.gd/assinapdc956.
NORMANDO
Fascismo e eleições
Normando Rodrigues*
O extermínio de quem seja pobre, “incapaz”, “vagabundo”, ou “esquerdista”, segue legitimado por 13 milhões de eleitores que escolheram o ódio, a intolerância e a violência política.
Antes que alguém se anime com “apenas” 13 milhões, é bom lembrar que em 2016 as mesmas propostas de barbárie social colheram 6,58 milhões de votos. Cresceram 93% em 4 anos.
Bolsonaro não é “O” fascismo, mas um personagem, assim como os bufões Mussolini e Hitler. E do mesmo modo, se apenas o palhaço brasileiro fosse afastado, e nada mais mudasse, o fascismo seguiria incólume.
Bolsonaro
O fascismo é uma ideologia, e deve ser combatido em todas as suas múltiplas manifestações, e em cada célula do complexo social.
A sedução fascista atraiu 57,7 milhões de votos em 2018, contra 13 milhões agora. Então houve derrota?
Embora provoque os mesmos lamentáveis fanatismos do futebol, as consequências do processo eleitoral não se restringem à tríade “vitória-empate-derrota” dos dois tempos de 45 minutos.
Derrota?
A eleição é um processo tão intrincado quanto a sociedade em que se dá, e seus resultados são variados. Por isso e tosca a comparação entre os 57,7 milhões de votos do fascismo, capturados por Bolsonaro na nacional de 2018, com os 13 milhões de votos nas municipais de agora.
Por exemplo, a abstenção nas municipais de 2016 foi de 17,5%, em 2018 subiu a 20% no trágico segundo turno, e agora atingiu 23%, percentual inédito desde 1989. Somados aos quase 10% de votos em branco e nulos, o total de eleitores brasileiros que preferiu não escolher candidato em 2020 foi de 30,57%.
Cegueira
Ao contrário da alegoria do grande Saramago em “Ensaio sobre a lucidez”, o “não voto” em cenário de governo fascista é exatamente o que o governante quer. Mussolini e Hitler o declararam diversas vezes. Longe de ser um “protesto”, os 30,57% de “não voto” são em si uma vitória de Bolsonaro.
Outro aspecto escapa à cegueira dos que apontaram a derrota do traste nestas eleições: a desimportância das estruturas políticas convencionais. Prefeitos, gauleiters e burgomestres, significam quase nada.
O fascismo se baseia na relação direta entre seu mitológico grande líder, seja ele o Duce, o Füher, ou “o Mito”, e suas bases sociais. E não nas instituições.
Ilusão
Por isso é normal que, enquanto o fascismo amplia sua teia, os centristas se reconfortem com o mantra de que “as instituições continuam funcionando normalmente”.
Só que não.
* Assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP. [email protected]