O Sindipetro-NF foi informado nesta semana, pelos trabalhadores, que gerentes estão comunicando aos empregados que a área de operação de lastro passará a ser terceirizada pela Petrobrás. A entidade avalia como gravíssima mais essa decisão da gestão bolsonarista da companhia, que desconhece os reais processos e os riscos envolvidos. Essa mudança, se confirmada, iria até mesmo contrariar relatório da própria empresa sobre o acidente com a P-36, que identificou a atividade como crucial para a segurança das pessoas e das instalações.
O documento que trouxe os resultados da investigação da tragédia destacou, em uma das recomendações, que era necessário “investir na capacitação técnica da atividade de controle de estabilidade e lastro, promovendo treinamentos de reciclagem, de controle de emergência e específicos para cada unidade”, o que vai no sentido oposto do pretendido agora pela empresa.
O sindicato alerta que a terceirização do setor vai aumentar a chance de uma nova tragédia, uma vez que reduz a experiência que cada trabalhador terá sobre a unidade em que atua, em razão da alta rotatividade nas prestadoras de serviço. Um trabalhador ouvido pelo Nascente, sob condição de anonimato, destacou justamente esse aspecto: “Em matéria de segurança, que é nosso foco principal, isso aí é péssimo. A função do técnico de estabilidade, ou do operador de lastro, é bem específica, de liberação de guindastes, que é algo bem problemático na Bacia e em toda a Petrobrás devido aos acidentes. A gente libera a PT [Permissão de Trabalho] de guindaste, de tanque, de carga e cada unidade tem a sua particularidade. Quando você terceiriza, começa a ter uma rotatividade muito alta de contratados e isso vai prejudicar bastante o andamento dos trabalhos e impactar a segurança”, disse.
Outro operador de lastro ouvido pelo boletim foi ex-coordenador geral do Sindipetro-NF, Marcos Breda, que também condena a decisão da empresa. “A questão é que a atividade de lastro é muito sensível e qualquer erro pode causar acidentes ampliados com perda de vidas e também de patrimônio. Não é que os contratados não teriam competência, mas o controle e a qualificação é menor na terceirização. Aliás a terceirização é sinônimo de precarização e, no caso do lastro, por causa dessa capacidade de grandes acidentes, é muito preocupante”, afirmou.
Breda, que se aposentou na função em 2016, vivenciou como empregado da empresa a tragédia da P-36, em 2001, e lembra do papel dos operadores de lastro em casos como aquele: “os operadores são os profissionais que primeiro atuam em acidentes assim, e qualquer erro de atuação pode agravar muito o acidente. Conhecer bem a unidade, saber seus recursos e a localização exata de cada compartimento, seus limites e como agir são cruciais nos minutos seguintes a um grande alagamento”.
O Sindipetro-NF cobra da Petrobrás esclarecimentos sobre este anúncio, assim como a reversão de qualquer intenção de terceirização do setor. A entidade também vai dialogar com a categoria sobre formas de reação e mobilização contra mais este ataque da empresa à segurança no trabalho.