Ferroviário militante, vereador por dois mandatos, professor da rede pública, flamenguista doente, macaense apaixonado pela cidade. Os movimentos sociais de Macaé estão em luto pela perda, na noite de ontem, às 23h, de Venício de Oliveira, aos 88 anos. Vítima da Covid-19, ele ficou internado no Hospital Público de Macaé, mas não resistiu. O sepultamento acontece hoje, às 14h30, no Cemitério Memorial, também em Macaé.
Resistir, no entanto, foi a tônica da sua vida. Jovem, teve oportunidade de estudar no Senai e conseguiu trabalho na ferrovia. Desde este tempo se interessava por política e militância, com elevada consciência de organização dos trabalhadores. Foi dirigente do PCB e sindicalista. Na Ditadura Civil-Militar do pós 1964, chegou a ser perseguido e preso. Os dois mandatos no legislativo macaense foram exercidos nos anos 70, quando a função sequer era remunerada.
Uma das filhas de Venício, Renata Graça de Oliveira, assistente social, 51 anos, conta que o pai foi um guerreiro no enfrentamento da doença, e que esta era uma característica sua. “Infelizmente não poderemos velar o corpo, mesmo tendo Covid em novembro, respeitando assim, as normas de vigilância sanitária. Meu pai lutou por 103 dias internado no HPM. Um guerreiro! Era um amante da política, foi preso na época da ditadura, sindicalista, participou de vários movimentos sociais”, conta.
Um cara socialista
A trajetória de Venício está registrada em um livro que reuniu depoimentos de macaenses que contribuíram para a história do município — “Macaé – Memórias Recentes”. Nele, o próprio macaense ilustre se definia como “um cara socialista”. “Luto por um regime socialista, porque acho o melhor para o nosso país. Pode demorar, mas nossa consciência jamais vai faltar”, disse Venício.
Em outro trecho do seu depoimento na obra, ele também buscou uma auto-definição: “sou uma pessoa que se julga representante nato do povo, tanto pelas minhas origens, quanto pela politização e pertencimento que a classe dos ferroviários me deu”.
Sua militância se expandiu por várias áreas ao longo da vida. Uma delas foi a participação na luta pelo petróleo brasileiro. Embora tivesse críticas aos impactos ambientais e à falta de diálogo da Petrobrás no município, ele manifestou orgulho da empresa e foi um dos seus grandes defensores.
“Muitos ferroviários receberam de braços abertos a Petrobras, porque a defesa dos valores nacionais já era uma bandeira da nossa luta política. Com menos de vinte anos, participei do movimento “O petróleo é nosso””, contou Venício, no livro.
Sua paixão pelo Flamengo, outra das faces de uma existência vivida em plenitude, também começou muito cedo. Além de torcedor, era atleta, e atuou por vários times locais, que costumavam, em muitos casos, reproduzir os nomes dos times das capitais. Puderam contar com as jogadas do craque Venício agremiações como Fluminense Futebol Clube de Macaé, Imbetiba Futebol Clube, Americano de Macaé, Ypiranga e, como não poderia faltar, o Flamengo Futebol Clube.
O Sindipetro-NF lamenta profundamente a perda de Venício e manifesta as suas condolências aos familiares, amigos e companheiros de luta.