[VERSÃO COMPLETA EM PDF DISPONÍVEL NO FINAL DA PÁGINA]
Dois anos de atuação diária contra Covid
A cada perda de uma vida para a Covid-19, a certeza de que ela poderia estar entre as mortes evitáveis se não fossem o negacionismo do governo federal e, no caso dos petroleiros e petroleiras, a sua extensão na gestão da Petrobrás. A categoria, reconhecidamente uma das mais expostas à contaminação, precisou enfrentar a negligência da empresa desde o início da pandemia. O Sindipetro-NF teve que agir com rapidez e firmeza, e tomou a dianteira de iniciativas como criar um protocolo de prevenção, que viria a ser referendado pela Fiocruz e pelo Ministério Público do Trabalho — e jamais adotado integralmente pela companhia.
Somaram-se a esta ação a cobrança constante por transparência da Petrobrás nos dados da Covid-19, a distribuição de máscaras de qualidade para os petroleiros e petroleiras, a parceria com IFF para produção de sabonete líquido para comunidades em vulnerabilidade, a cobrança às prefeituras por fiscalização nos aeroportos e no Heliporto do Farol, as cobranças de melhorias de condições dos hotéis, as mobilizações da Greve pela Vida, a disponibilização de testagem para a categoria, as denúncias à imprensa e a órgãos fiscalizadores sobre surtos nos locais de trabalho, as participações em Audiências Públicas e as Ações Jurídicas — entre estas, a que cobra punição aos “desmascarados”, os diretores da Petrobrás que infringiram normas sanitárias e mantiveram-se sem máscaras em ambiente fechado na empresa, apenas para bajular Bolsonaro em um evento interno.
O sindicato segue na luta pela superação deste tempo nefasto para a categoria e para o país, em memória dos que se foram e pelo compromisso de legar às novas gerações um Brasil e uma Petrobrás que não coloquem a produção acima da vida.
LUTO COMEÇA COM FILIADO APOSENTADO – Rodolfo Figueiredo Barbosa, 67 anos, foi o primeiro filiado ao Sindipetro-NF que a entidade teve notícia de ter morrido em decorrência de complicações da Covid-19, em 6 de maio de 2020. Aposentado, natural de Belém (PA), ele atuou até 2014 na plataforma P-38, na Bacia de Campos, e morava na Ilha de Marajó. A sequência de lutos não demorou a acontecer, e os rostos das vítimas fatais da pandemia foram ficando cada vez mais familiares, aproximando a categoria petroleira da dor que já tomava todo o mundo e, particularmente, o Brasil. Em razão da falta de transparência da empresa, até hoje não se sabe com exatidão o número de mortos pela Covid-19 no sistema Petrobrás, entre trabalhadores próprios e terceirizados — nas imagens acima estão apenas alguns dos casos registrados nas mídias do sindicato, entre eles o do diretor Antônio Carlos Manhães, o Tonico, que faleceu em 14 de setembro de 2021, também em razão da Covid. Mais do que números, cada um e cada uma é o parente, o amigo, o colega de trabalho que deixa uma lacuna irreparável. A entidade tem mantido contato com familiares e discute a criação de um memorial. O NF, mais uma vez, rende a sua homenagem a todos e todas e manifesta as suas condolências. Presente!
Entrevista / Alexande Vieira
NF precisou vencer a inércia da Petrobrás
Vitor Menezes / Da Imprensa do NF
Quem conhece pessoalmente, sabe: o diretor do Sindipetro-NF, Alexandre Vieira, que coordena o Departamento de Saúde da entidade, é franzino, tem uma fala mansa de monge, mas conserva uma indignação e uma capacidade de ação inversamente proporcionais a esta aparente singeleza. Uma das principais lideranças da entidade no enfrentamento dos efeitos da pandemia nos ambientes de trabalho na Petrobrás, junto a toda a diretoria, ele participou de diversas reuniões com gestores da empresa, órgãos fiscalizadores, instituições de saúde e prefeituras nestes últimos dois anos, tudo isso associado aos contatos permanentes com a categoria. Nesta entrevista, o sindicalista faz um balanço das ações do sindicato em defesa da saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras neste período.
Nascente – Dois anos depois, quais são as ações tomadas pelo Sindipetro-NF que você destaca nesta pandemia?
Alexandre Vieira – O Sindipetro-NF esteve sempre na vanguarda do combate à Covid-19. Nós, vendo a inércia da Petrobrás, começamos a confeccionar e distribuir máscaras aos trabalhadores enquanto a Petrobrás, de forma negacionista, entrou com ação contra a distribuição de máscaras feita pelo sindicato. Além disso, o Sindipetro-NF buscou junto à Fiocruz a aprovação de protocolo de prevenção à Covid-19, que posteriormente teve grande parte dele incorporado às recomendações do MPT. Realizou a testagem dos trabalhadores offshore e onshore em momentos onde Petrobrás se negava a realizar. E foi incansável em denunciar toda e qualquer irregularidade ou risco que a empresa sujeitou os trabalhadores, sejam estes próprios ou terceirizados.
Nascente – Na sua avaliação, como a Petrobrás se comportou ao longo desse tempo sobre a prevenção?
Alexandre Vieira – Totalmente aquém do que poderia fazer para proteger os trabalhadores. Onde, em muitos momentos, se colocaram de forma negacionista, quando por exemplo tentaram não permitir a distribuição de máscaras pelo Sindipetro-NF ou quando se negaram a ouvir o sindicato e realizar a testagem e avaliação médica de trabalhadores recém contaminados pela Covid-19, resultando em um caso extremo de um trabalhador que embarcou ainda contaminado e com sequelas da Covid-19, que posteriormente veio a desembarcar em voo de ambulância de emergência, vindo a falecer semanas depois.
Nascente – A categoria petroleira foi uma das mais atingidas, especialmente a parcela que atua em locais confinados. Quais os aprendizados que você acha que a pandemia deixa para os petroleiros?
Alexandre Vieira – O principal aprendizado é que apesar das leis e normas existentes, elas por si não garantem a segurança. Pois um governo negacionista como esse pode simplesmente dizer que nada vale e expor os trabalhadores a um verdadeiro matadouro. Em resumo, mais do que nunca a máxima do que faz a lei é a luta deve ser entendida pelos trabalhadores.
Nascente – A pandemia reforçou os laços de atuação do sindicato junto a órgãos fiscalizadores. Em um cenário de tanto desmonte do estado, estes órgãos ainda conseguem prestar um bom serviço à sociedade?
Alexandre Vieira – Sim. Os órgãos em conjunto com o Sindipetro-NF fizeram um bom combate. Contudo, esse governo negacionista se desdobrou para criar dificuldades e retirar o poder dos órgãos de defesa do trabalhador. Por isso, mais do que nunca, os trabalhadores e suas famílias devem entender que as eleições deste ano são fundamentais para que não se repita o massacre que o povo brasileiro passou durante a pandemia e no período desse governo como um todo.
Especial 2 anos de Pandemia Merge