A noite do dia 25 na sede do Sindipetro-NF foi uma ode à ancestralidade das mulheres negras e emocionou a quem veio rememorar o Dia da Mulher Negra, Latino americana e Caribenha. Quem entrava no sindicato já se arrepiava com a decoração que remetia às matrizes africanas. Folhas secas espalhadas no chão, esteiras de palha, alguidares e atabaques mudaram completamente o hall de entrada. Quadros em homenagem às mulheres negras que fizeram parte da história brasileira também ornaram as paredes de entrada.
Em seguida, as pessoas eram orientadas a ir a quadra de esportes no piso superior, onde a festa aconteceu. No meio da quadra foi montado um palco também com elementos da cultura negra para o sarau e ao seu entorno colocadas mesas com toalhas coloridas. Ao fundo à esquerda outro palco para o grupo Regional do Biguá se apresentar e ancorar as cantoras e do outro lado, uma barraquinha distribuía acarajé e outra empadinhas.
A diretora Bárbara Bezerra e o designer Glauber Barreto conduziram a cerimônia do início ao fim. Barbara lembrou que mulheres negras sempre foram maioria na sociedade, mas sempre foram invisibilizadas e que há uma necessidade de termos políticas públicas inclusivas para essas mulheres.
Sonia Santos, jornalista e doutora em literatura, lembrou que “a luta da mulher negra no Brasil e nas Américas começou no desembarque dos navios negreiros e pela dignidade nas fazendas. Quando eram coisificada pelo sistema colonizador , violentada por vários meios, sem nenhum direito”. Dados apresentados por ela davam conta que em 2021, as mulheres negras foram 62% das vítimas de feminicídio.
As falas foram intercaladas por apresentações musicais e de poesia. Um dos pontos altos foi a hora em que Ivonete Lopes do Panelada de Crioula sentou na cadeira, tirou a blusa, ficando de top e recitou a letra da música “Canto de fala” de Elza Soares.
“Mil nações moldaram minha cara
Minha voz uso pra dizer o que se cala
Ser feliz no vão, no triz, é força que me embala
O meu país é meu lugar de fala”Elza Soares
Se apresentaram as cantoras Jo Wilme e Andréa Martins acompanhadas pelo grupo Regional do Biguá, além do Jongo do Mestre Dengo do Raízes de Aruanda.
Zé Maria Rangel também prestigiou a festa e ao falar ressaltou a atividade. “Estou muito emocionado de ver esse grande ato de resistência dentro do sindicato. Quando construímos esse espaço sonhamos que ele se transformasse em uma estrutura para servir e estar em sintonia com a sociedade macaense. Ao ver esse evento vejo o quanto valeu a pena!” – disse Zé que até cantou um pouquinho do samba Tá escrito, do grupo Revelação.
“Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé
Manda essa tristeza embora
Basta acreditar que um novo dia vai raiar
Sua hora vai chegar…”
Revelação
A primeira vereadora negra de Niterói, Verônica Lima, também esteve em Macaé, prestigiando o evento e falou das conquistas das mulheres negras durante os governos do PT, como a implantação da Lei Maria da Penha. “Vivemos em um país misógino, onde o racismo é estrutural porque dá ares de normalidade ao preconceito. A cota não é esmola é reparação histórica”.
O evento encerrou com apresentação da cantora maravilhosa, Amanda Amado que cantou sambas empoderadores.
Ao avaliar o evento a diretora Bárbara Bezerra, comentou que a atividade foi uma ação histórica do NF contra a invisibilidade ancestral que as mulheres negras são submetidas e que hoje é visível a olho nú. Hoje quem é a maior vítima da fome, da violência e tem a menor participação nos espaços de poder são as mulheres negras. Precisamos mudar essa realidade” – concluiu.