Uma mesa rica em informações históricas e de provocações inquietantes sobre diversas formas de opressão foi realizada nesta tarde no 19° Congrenf. De pesquisa sobre saúde mental na categoria petroleira a discussões raciais e de gênero, as expositoras provocaram debates intensos e reflexões.
Participaram da mesa a pesquisadora da Fiocruz, Luciana Gomes; a diretora do Sindipetro-NF, Bárbara Bezerra; a coordenadora do Sindipetro-BA, Elisabete Sacramento; e a diretora do Coletivo de Mulheres da FUP e do Sindipetro-ES, Patrícia de Jesus, com moderação da diretora do Sindipetro-NF, Giovana Soares.
Pesquisadora da Fiocruz, a psicóloga Luciana Gomes apresentou dados preliminares de uma pesquisa ainda em andamento, com utilização de grupos focais de petroleiros e petroleiras de bases do Estado do Rio de Janeiro, reunidos entre abril e novembro de 2019.
Após explicar a metodologia utilizada e as instituições e pesquisadores envolvidos, Luciana revelou que o trabalho começa a identificar uma naturalização da violência no ambiente de trabalho (muitas vezes só percebidas como tal após a participação nos grupos), a descrença da categoria em mecanismos institucionais, como a ouvidoria, para relatar casos de assédios, e a percepção de que o assédio refletia uma política institucional.
A sindicalista Patrícia de Jesus deu informes sobre a atuação dos Grupos de Trabalho de Diversidade e de Assédios. Ela apresentou propostas amadurecidas em diversos fóruns, que serão submetidos à aprovação da plenária, que incluem tanto políticas de combate ao assédio quanto de promoção da diversidade.
De acordo com Patrícia, nos últimos 7 anos foram relatados 836 casos de assédio na Petrobrás, no entanto, as apurações internas não avançavam ou eram simplesmente arquivados, o que mudou em 2023. O trabalho tem sido de priorizar os casos mais graves, para que tenham consequências punitivas para assediadoras. Entre as propostas em debate pelo movimento sindical, está a de, quando não demitido, o assediador que seja chefe deve ficar impedido de voltar a ocupar cargos de chefias por 5 anos.
A diretora do Sindipetro-NF, Bárbara Bezerra, que além de petroleira é antropóloga, apresentou à plenárias noções de Cultura, Gênero e Trabalho, demonstrando como o machismo é uma construção histórica. Na Petrobrás, destaca, 17% da força de trabalho é formada por mulheres, sendo que apenas 9% nas gerências (nas plataformas, são ainda mais raras: menos de 3%).
Elisabete Sacramento, primeira mulher negra a coordenar um Sindipetro, o da base da Bahia, exibiu um vídeo que mostrava como crianças associavam características positivas a uma boneca branca, enquanto associava características negativas a uma boneca negra. “A criança negra não se sente pertencente. Muitas vezes diz que é tímido. Mas não é. É silenciamento”, disse.
Ela demonstrou como a riqueza brasileira foi construída tendo por base a mão de obra escravizada e, ainda assim, os negros não puderam adquirir terras, não puderam estudar, e foram excluídos do mercado do trabalho quando este começou a ter mais direitos garantidos.
“A Petrobrás incluiu muitos negros, no início, para o trabalho braçal que o branco não queria fazer. Quando o trabalho deixou de ser mais braçal e começou a ter melhores salários, aí os brancos entraram mais”, constata.
Confira a íntegra da mesa de debate
[Foto: Luciana Fonseca / Imprensa do NF]