Nos últimos meses, o Sindipetro Unificado coordenou algumas reformas feitas no Instituto localizado na cidade de Cajamar (SP), necessárias para que o espaço tivesse condições de abrigar o Congresso. “Tivemos um grande esforço, saindo de Campinas quase que diariamente para acompanhar as obras. Mas esperamos que, para além do encontro dos petroleiros, essa iniciativa possa desaguar em um esforço mais ampliado para reativar de vez o Instituto”, afirma o diretor do sindicato, Jorge Nascimento.
Histórico
Criado em 17 de julho de 1986 com o objetivo de elevar o grau de instrução e conhecimento da classe trabalhadora, o Instituto Cajamar surgiu de uma colaboração política entre o Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outros grupos sindicais e sociais ativos no país durante o final da década de 1970 e começo dos anos 1980, desempenhando um papel essencial na formação do denominado Novo Sindicalismo.
O ex-sindicalista e petroleiro Wilson Santarosa era um dos coordenadores do Instituto Cajamar e compartilhou sua visão sobre a criação da instituição: “Na época, a gente precisava de um instrumento de formação política, para o movimento sindical, social e até partidário. Faltava isso. Um lugar onde reunisse o pessoal e resgatasse a história do Brasil e a história dos trabalhadores”.
Ele recorda com entusiasmo quem frequentava o Instituto Cajamar na época de sua fundação em 1986: “A primeira aula que tivemos lá foi do Paulo Freire. Mas ali se reuniam o Jair Meneguelli e vários dirigentes sindicais. Além de outras figuras como Lula, Jacó Bittar e o Jacó Gorender, que era um grande estudioso, pesquisador e cientista político brasileiro. O Walter Barelli, que foi o fundador do Dieese; Olívio Dutra, que foi governador do Rio Grande do Sul, mas também presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre; Apolônio de Carvalho, que lutou contra Franco na guerra civil da Espanha. Era um cara que dava uma aula e todo mundo ficava ouvindo por três horas”.
Santarosa também enfatizou o papel do Instituto Cajamar como uma plataforma de aprendizagem sobre a trajetória da classe trabalhadora: “Esse espaço possibilitou que muita gente aprendesse a história real dos trabalhadores brasileiros, que nunca foi ensinado na escola, e a verdade que imprensa oficial mercadológica nunca contou e não conta até hoje”.
Wilson Santarosa também destacou que o Instituto Cajamar funcionava como um espaço de compartilhamento do movimento sindical, permitindo a troca de experiências e o fortalecimento das lutas coletivas: “Para além disso, ali também tinha um papel de união do movimento sindical, principalmente de trocar experiências e juntar forças. Dali saíram muitas campanhas unificadas, entre petroleiros, metroviários, metalúrgicos, químicos, petroquímicos e bancários. Foi praticamente dali que surgiu essa ideia de que ‘sozinhos a gente não consegue, então vamos juntar forças’, e aí o movimento cresce e a gente consegue negociar melhor”.
Formação que atravessou gerações
O atual diretor do Sindipetro Unificado, Jorge Nascimento, foi um dos jovens que tiveram sua formação diretamente impactada pelo Instituto Cajamar. Entre 2010 e 2016, ele foi um dos alunos que tiveram aulas no local. “Todos os dirigentes mais jovens participavam de algum módulo de formação em Cajamar. Da minha geração pra trás, praticamente todos os dirigentes sindicais passaram por Cajamar”, aponta Nascimento, mostrando que a importância do Instituto permaneceu mesmo nas últimas décadas.
Para o petroleiro, além de todos os debates importantes que devem ocorrer no CONFUP, o resgate do Instituto Cajamar também é de extrema relevância. “Essa instituição histórica tem a oportunidade de reativar seu papel como centro de formação sindical e fortalecer o movimento dos trabalhadores em prol de uma sociedade mais justa e democrática. Já temos esse histórico aqui e houve todo um esforço do Sindipetro Unificado para reviver isso”, opina.
Crise estrutural e resgate
O diretor do Sindipetro Unificado aponta que após a reforma trabalhista e uma considerável perda de receita, os sindicatos passaram a ter muita dificuldade para manter o instituto e as atividades foram diminuindo, o que se agravou ainda mais na pandemia até que as elas fossem totalmente paralisadas. “Nós entramos em uma tempestade já a partir do governo Temer, que se intensificou no governo Bolsonaro e na pandemia. Nossos recursos eram apenas para resistência e sobrevivência da luta e pouco para formação”, aponta Nascimento.
Com isso, problemas estruturais foram surgindo e se ampliando dentro do Instituto, deteriorando o espaço. “Surgiram as infiltrações, o local começou a se deteriorar, as árvores começaram a derrubar galho, quebrar telha. E aí começou a virar uma avalanche de problemas estruturais do Instituto”, recorda Jorge.
Entretanto, após o fim da pandemia, a direção do Sindipetro Unificado se prontificou a reativar o local, e o primeiro passo era identificar quais eram os problemas até então. “Depois da pandemia, a gente já começou a fazer as primeiras visitas para verificar o que a gente teria que fazer para reativar. A ideia era reativar o Instituto para o Encontro Nacional Unificado, realizado pelos Coletivos de Mulheres Petroleiras da FUP e da FN, que foi um primeiro teste para ver se a gente conseguiria trazer CONFUP neste ano pra cá”, conta Jorge.
“Fizemos todas as reformas, tiramos todas as infiltrações, vazamentos, refizemos alguns telhados, refizemos o paisagismo, refizemos elétrica. Tivemos bastante trabalho de encanamento para voltar a ser o que era. Foi um trabalho duro, mas valeu a pena!”, relembra o diretor do Sindipetro.
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