Por Tatiane Vargas (ENSP/Fiocruz)
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca recebeu centenas de trabalhadores, entre eles o diretor de Saúde da CNQ, Antônio Carlos Bahia, para uma audiência pública convocada pela ENSP/Fiocruz, em parceria com a Comissão de Saúde, a Comissão de Representação para o Acompanhamento das Leis – CUMPRA-SE, e a Comissão de Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Durante a audiência foram apresentados dados do estudo coordenado pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP (Cesteh/ENSP) que investiga o processo de trabalho e saúde dos Agentes de Endemias. Entre os agravos observados pela pesquisa nestes trabalhadores, estão a alta prevalência de doenças neurológicas; alterações das células do sistema imunológico; lesões no material genético; além de relatos de casos de alterações reprodutivas.
O estudo analisou a situação de saúde e exposição a agrotóxicos de 7400 Agentes Comunitários de Endemias (ACE), conhecidos como mata mosquitos, sendo 5400 servidores federais e 2000 mil municipais. Eles estão expostos a agrotóxicos organoclorados, organofosforados, carbamatos, piretroides e benzoilureias. Alguns destes agrotóxicos são neurotóxicos, cancerígenos e banidos em outros países. A pesquisa aponta óbito cerca de um servidor federal por semana, com idade média de 55 anos. As principais causas de morte são de câncer, 15%, e de aparelho circulatório, 39%.
A pesquisa descreve que 71% dos trabalhadores apresentaram sintomas de intoxicação, sendo 64% dor de cabeça; 54% irritação na pele e alergias; 50% mal estar; 47% ardência, tosse e ou dificuldade para respirar; 28% dor no estômago, náusea e ou vômito; e 11% dor no peito. Apenas 36,5% dos trabalhadores procuraram algum serviço de saúde.
Em um questionário aplicado com 614 ACE, entre as alterações de saúde observadas, 48% relataram que aplicam agrotóxicos sem EPI, pois não são fornecidos. 75 % têm doença diagnosticada, sendo 46% cardiovasculares e hipertensão; 19% respiratória; 18% diabetes; 14% de pressão; 14 % renais e hepáticas; 12 % hormonais; 9,3% tremor essencial; 7% imunológica; 2% câncer). Sobre a saúde mental deste 614 trabalhadores, 40% apresentaram sinais e sintomas psicológicos, sendo a pior situação entre as mulheres. 5,5% dos trabalhadores relataram ideação suicida.
O ‘Projeto Integrador Multicêntrico: Estudo do impacto à saúde de Agentes de Combate às Endemias/Guardas de Endemias pela exposição a agrotóxicos no Estado do Rio de Janeiro’, coordenado pela pesquisadora do Cesteh/ENSP, Ariane Leites Larentis, foi construído ao longo de seis anos de pesquisa e conta com a colaboração de pesquisadores de diferentes instituições públicas, estudantes de pós-graduação e iniciação científica, e sindicatos, com apoio do Ministério da Saúde.
A audiência contou com a participação da pesquisadora do Cesteh/ENSP, Ariane Leites Larentis, que apresentou dados da pesquisa, do vice-presidente de Ambiente Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Hermano Castro, além dos Deputados Estaduais Elika Takimoto (PT), Carlos Minc (PSB) e Vitor Junior (PDT), que apresentaram Projetos de Lei sobre prevenção e cuidados à saúde dos Agentes de Endemias no Estado do Rio de Janeiro.