Conquista de Fernanda Torres é vitória contra esquecimento

Atriz vence Globo de Ouro por atuação em filme sobre família vítima da ditadura militar

Quando o nome de Fernanda Torres foi anunciado como melhor atriz de drama na edição deste ano do Globo de Ouro, inúmeros brasileiros ainda não tinham fechado os olhos. Já passava da meia-noite, mas as retinas continuavam iluminadas pelo brilho das telas. Famílias se abraçaram, muitos registraram o momento e postaram nas redes sociais. Inesquecível! A atriz brasileira conquistou o prêmio interpretando Eunice Paiva, advogada que viveu uma história real que também não deve ser esquecida. Antes mesmo da noite de glória internacional, mais de 3 milhões de brasileiros foram lembrados nos cinemas do país que algumas memórias não podem ser apagadas. É um triunfo da arte na luta contra o esquecimento.

O filme Ainda Estou Aqui narra a história de uma família da zona sul do Rio de Janeiro em que o pai – o ex-deputado federal Rubens Paiva – foi morto, depois de ser levado por militares durante a ditadura militar. “Lembranças estão na cola das percepções atuais ‘como a sombra junto ao corpo’”, analisou a pesquisadora Ecléa Bosi. Relembrar essa história de dor é essencial para saber como lidar com situações que criem condições para que tempos de repressão, como o retratado no filme, retornem.

A conquista de Fernanda aconteceu três dias antes de completar dois anos do último marco contra a democracia no país. De acordo com uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada nesta 2ª feira (6), 86% dos brasileiros condenam atos de invasão e vandalismo contra a sede do STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso, ocorridos em 8 de janeiro de 2023. A memória permanece viva e atenta para a maioria dos brasileiros.

“O governo de hoje é um governo (Lula) que se importa, não só com a cultura como com o próprio país”, afirmou Fernanda Torres em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura em janeiro do ano passado. A intérprete de Eunice deixou claro, nesta ocasião, que não esqueceu os desmandos do governo Bolsonaro. Mesmo com o destaque internacional, por declarações como esta a atriz teve que conviver com tentativas de boicote da extrema direita dentro de seu próprio país. 

Recentemente Lula teve a vida colocada em risco em mais uma tentativa frustrada de Golpe de Estado. Uma operação da Polícia Federal revelou o plano para matar o presidente organizado por militares, comprovando que o esquecimento pode ser extremamente perigoso. Nas redes sociais, ele se uniu a muitos brasileiros que parabenizaram Fernanda Torres.

“Emocionante. Fernanda Torres é orgulho do Brasil. Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro pela sua grande atuação no filme Ainda Estou Aqui. Como ela mesma diz: a vida presta. Parabéns, Fernanda Torres”, comemorou o presidente. 

Um espaço de memórias 

No primeiro ato de Ainda Estou Aqui a casa dos Paiva é um espaço de criação de ricas memórias positivas. Um dos pontos de destaque da atuação de Fernanda foi a maneira como interpretou uma mãe e esposa que, ciente da morte do marido, viveu por anos a angústia de não ter como confirmar para a família que aquelas lembranças foram as últimas vividas com Rubens Paiva. Em tantos lares que comemoraram a vitória da atriz neste domingo (6) – inclusive externando nas redes sociais – seria difícil imaginar que alguém foi obrigado a desta maneira. O filme não deixou esquecer e manteve este debate vivo nas famílias brasileiras. 

O sindicato é a casa do trabalhador e deve ser capaz de formar memórias essenciais. Por isso, o Sindipetro-NF é marcado pelo incentivo às atividades culturais. Um dos destaques é o teatro na sede de Macaé, um espaço dedicado a diversas formas de manifestações artísticas. No cinema, por exemplo, já exibiu o documentário “Democracia em Vertigem” da cineasta Petra Costa, obra que analisa as mobilizações contra Lula e Dilma e o ambiente de polarização política no País. O sindicato está de portas abertas para construir lembranças essenciais para vida do trabalhador.