Dado o histórico de tentativas da Petrobrás de esvaziar o papel das cipas e das, por vezes, frustrações em relação à falta de avanços na resolução de problemas apontados pelas comissões, é possível que muitos companheiros não estejam dando a devida importância à batalha que ora se trava na luta pela realização de eleições limpas e legítimas para as cipas nas plataformas.
No primeiro esforço que fez a categoria, a notável marca de 17 plataformas sem quorum foi atingida e tantas outras alcançaram o número mínimo para dar “validade” por margem bem apertada, pouco acima dos 50%.
Agora, o Sindipetro-NF reitera a necessidade de uma ação mais contundente da categoria, confirmando o boicote nas unidades que não deram quorum — e onde a empresa insiste em manter o chamado à votação mesmo sem reconsiderar o acintoso gesto de retirar candidaturas de petroleiros grevistas punidos — e, tão importante quanto, apoiando a renúncia coletiva (acesse aqui a carta de renuncia coletiva) de todos os eleitos por um processo fraudado.
O Sindipetro-NF e todos os petroleiros que, de modo altivo e consciente, estão mais diretamente mobilizados sobre o tema, entendem que admitir que a Petrobrás indefira candidaturas, estimule gerentes a coagir trabalhadores como faziam os coronéis da República Velha, e proclame resultados que, no fundo, sabe ser ilegítimos, é um retrocesso para a organização da categoria e um mau exemplo para as demais.
É preciso, igualmente, entender que este tema se relaciona com toda a luta da categoria por uma política de segurança que seja efetivamente prioritária para a empresa, que inclui o combate às subnotificações, as denúncias nas mobilizações e nos caminhos formais da DRT e da Justiça, as cláusulas arrancadas nas mesas de negociações, as campanhas de conscientização da mídia e nas publicações sindicais, os seminários e congressos, e até o registro de ocorrência policial contra gerentes, entre outras frentes.
E a conquista histórica da cipa por plataforma, fruto de mobilização e de batalha na Justiça, faz parte deste conjunto de ações sindicais que vêm, cada vez mais, colocando a defesa da vida como prioridade absoluta nas reivindicações dos trabalhadores.
Este avanço importante, no entanto, não pode ser conspurcado pela política suja da empresa. Queremos cipa por plataforma sim, como sempre quisemos, mas não uma cipa nascida de uma eleição fraudada pela retirada de companheiros combativos e, muito menos, baseada em votos amealhados a poder de ameaças ou promessas de privilégios.
Os direitos de votar e ser votado, de se organizar no local de trabalho, de participar de uma greve, de um sindicato ou uma cipa, são legados de gerações e gerações, muitas vezes conquistados à custa da própria vida, e não podem ser negligenciados por aqueles que colocam interesses individuais acima dos coletivos. Toda a história de luta dos trabalhadores mostra que somente juntos somos fortes, e não é diferente com a categoria petroleira.
Além disso, se já é trágico o histórico da Petrobrás na área de segurança, é necessário atentar para o momento pelo qual passa a empresa, que prevê um crescimento vertiginoso em razão da exploração na camada pré-sal. De acordo com versões da própria companhia, a previsão é a de que ela cresça “à quinta potência” nos próximos anos, e os trabalhadores precisam estar mobilizados para que, também, não cresçam à quinta potência o número de acidentes e mortes.
Se já era fundamental lutar pela segurança, agora é ainda mais vital. A ganância da produção a todo custo, o bater metas enquanto se abate vidas, não pode ser admitido por quem está diretamente na linha de frente da produção. Não serão os burocratas da gestão que dirão se a eleição de uma cipa numa plataforma é legítima ou não, mas os próprios trabalhadores.
Com a realidade do pré-sal, a tendência é a de que os gestores da empresa amplifiquem a política abjeta do “administrar os riscos” para manter a produção, com o velho argumento de que correr perigo é algo intrínseco à exploração de petróleo — insuflando até mesmo um paralelo forçado entre o heroísmo cotidiano do petroleiro e a atividade de um soldado numa guerra.
Os trabalhadores sabem que todo o conhecimento e excelência da Petrobrás podem e devem ser usados também para proteger as vidas dos trabalhadores do setor petróleo. E sabem também que a utilização deste saber passa por decisões gerenciais que envolvem investimentos e ampla participação dos trabalhadores.
É por isso que o Sindipetro-NF mantém de modo veemente o seu indicativo, aprovado em assembleias, de não participação da categoria nesta farsa que a Petrobrás insiste em levar adiante nas 17 plataformas onde não houve quorum e no Parque de Tubos. O espaço da cipa é um dos mais importantes para o desenvolvimento de ações de proteção aos trabalhadores, e defender que ele seja criado e mantido de modo legítimo é equivalente a lutar pela própria vida e pelas vidas dos nossos companheiros.
Não se deixe levar por pressões das gerências. Não se deixe levar por qualquer eventual desânimo. Não se deixe contaminar pela política de contra-informações da empresa. Não foi agindo assim que os petroleiros brasileiros construíram uma das mais importantes organizações sindicais do País. E não será agora que esmoreceremos.