Luta, suor e lágrimas: trabalhadores da Fafen PR dão a largada para a retomada da produção

Alessandra Murteira / Da Imprensa da FUPO dia 03 de março de 2020 ainda está presente na memória dos trabalhadores e trabalhadoras da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná. Era uma terça-feira em que os brasileiros ainda curtiam a ressaca do carnaval da semana anterior, mas o desespero e o choro coletivo são os sentimentos que ficaram gravados como tatuagem no peito e na alma de cada petroquímico que participou da derradeira assembleia que marcou o encerramento das atividades da fábrica.

Em sua página na internet, o Sindiquímica Paraná informou na época que os trabalhadores “decidiram por maioria aceitar a proposta de pacote de benefícios imposta pelo ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra e pela diretoria da matriz. A decisão faz com que, infelizmente, diante das ameaças de seguir as dispensas sem acordo e impedindo qualquer mínimo avanço, a fábrica de fertilizantes seja fechada e os trabalhadores precisem escolher quais dos dois processos de acordo de demissão, com ou sem quitação dos débitos. Este foi mais um triste capítulo da política de desindustrialização do país e de desmantelamento do Sistema Petrobrás por parte do Governo Bolsonaro”. Saiba mais aqui.

Mesmo com toda a resistência da categoria, que realizou uma das mais emblemáticas greves de sua história, parando ao longo de 21 dias mais de 120 unidades do Sistema Petrobrás, não foi possível evitar a demissão dos trabalhadores da Fafen. Os petroleiros e petroleiras, no entanto, jamais abandonaram a luta pela reabertura da fábrica e retorno dos companheiros demitidos.

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Cinco anos depois, o dia 03 de março será ressignificado na próxima segunda-feira, quando terá início formal a parada de manutenção das unidades da fábrica para retomada da produção de fertilizantes nos próximos meses. Desde junho do ano passado, 212 petroquímicos que foram recontratados, após acordo firmado pela FUP e pelo Sindiquímica PR, vêm trabalhando duro para que a unidade possa ser retomada em segurança, após mais de quatro anos de hibernação.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

“É muito simbólico que a data de largada para a operação da fábrica coincida com a mesma data daquela assembleia fatídica que tanto sofrimento trouxe para todos nós. O retorno dessa unidade é uma conquista coletiva da nossa categoria, que só foi possível porque jamais soltamos as mãos dos nossos companheiros da Fafen e sobretudo porque elegemos o presidente Lula e apresentamos a ele, antes mesmo da eleição, as nossas propostas para reconstrução do Sistema Petrobrás. Propostas estas que foram incluídas no capítulo de energia do projeto de governo e que seguimos lutando para que sejam todas cumpridas”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Rodrigo “Pexe” Maia, hoje coordenador geral do Sindiquímica Paraná, era diretor de base em março de 2020 e lembra em detalhes o impacto que sofreu na última assembleia que participou na porta da Fafen, antes da hibernação da unidade. “Foi como um golpe para a nossa categoria e mais ainda para os diretores sindicais. Foi muito duro ver toda aquela nossa luta terminar da forma como terminou. Ficamos mais de 40 dias acampados aqui na porta da Fafen, fomos para o Rio de Janeiro e ficamos acampados em frente ao Edise, enfim, foi uma luta imensa. E depois de tudo isso, nossas esperanças foram ceifadas naquela assembleia”, declara.

Foto: Fotos: Juce Lopes/Sindipetro PR/SC

Após a hibernação da fábrica, Pexe chegou a mudar-se para a Bahia, para trabalhar na Fafen de Camaçari, mas quando os gestores descobriram que ele era dirigente sindical, foi demitido, passando novamente pelo mesmo trauma de perder o emprego em um momento difícil, de emergência sanitária, durante a pandemia da Covid-19. “A perseguição contra os diretores sindicais foi muito forte até a eleição do presidente Lula. Tudo que passamos fortaleceu ainda mais a nossa luta e hoje, vendo a fábrica prestes a voltar a produzir, é uma alegria imensa. É o cumprimento do projeto de retomada do setor de fertilizantes, compromisso assumido pelo governo Lula e que está no plano de negócios da Petrobrás”, afirma o coordenador do Sindiquímica Paraná.

O técnico em manutenção mecânica, Érik Nelson Correia Luiz, é outro que jamais esqueceu o sentimento de tristeza e revolta que tomou conta dele e da maioria dos companheiros que participaram d

aquela assembleia fatídica de 03 de março de 2020. Na época, ele tinha 42 anos de idade e 12 anos como empregado da Ansa. “Depois de muita luta para não deixar fechar

a fábrica, a gente ficou muito revoltado. Minha esposa, meus filhos, todos ficaram preocupados, desesperados mesmo. Eu não conseguia entender como uma fábrica que batia recorde de produção pudesse ser fechada assim. Eu me sentia seguro no trabalho e depois me vi buscando emprego em plena pandemia. Só não foi pior porque minha esposa estava empregada na época”, revela.

“Hoje, olhando pra trás, vejo o quanto toda aquela luta foi fundamental para que pudéssemos estar aqui de volta. Nosso sindicato e a FUP nunca abandonaram a luta, sempre mantendo acesa a chama da esperança de que a fábrica seria reaberta”, comenta Érick, emocionado.