Pesquisador do Núcleo de Estudos em Inovação, Conhecimento e Trabalho da Universidade Federal Fluminense, o professor Marcelo Figueiredo (foto) destacou há pouco, em palestra no 5º Congrenf, o papel da experiência dos trabalhadores na prevenção de acidentes em sistemas complexos de produção.
Depois de minuciosa exposição acerca do trabalho de pesquisa que desenvolve, Figueiredo concluiu que as empresas que adotam mudanças bruscas nas organização da produção, como ocorre com terceirizações, desperdiçam um conhecimento desenvolvido pela coesão dos trabalhadores e aumenta a fragilidade do sistema.
“A cultura dos trabalhadores é a cultura da prática. A cultura dos engenheiros é a cultura dos procedimentos. Em uma situação como a da P-36, o engenheiro se pergunta o que pode ser mudado no procedimento para que não volte a acontecer. E o trabalhador sabe que todos os dias enfrenta situações imprevisíveis e desenvolve soluções diferentes”, explicou Figueiredo.
Ele destacou que esta experiência é um importante patrimônio que não pode ser desperdiçado, devendo ser passado de geração em geração. Citando o exemplo do acidente com o avião da Air France, Figueiredo lembrou que mesmo os sistemas mais avançados tecnologicamente não podem dispensar a criatividade humana para dar resposta a situações não previstas. “O problema do avião é que foi feito para engenheiros pilotarem, não para pilotos”, disse.
“É preciso entender o fator humano naquilo que ele tem de mais positivo: a maioria dos acidentes latentes não acontecem porque os trabalhadores os evitaram. Em vez de falar em erro humano, deveríamos falar que o erro é humano. Ele vai acontecer, em algum momento. Mas também é o humano que o evita”, complementou.
(Foto: César Ferreira)