É na greve que medimos a força e a organização de uma categoria. Não é à toa que os petroleiros são referência de luta. Em menos de um ano, foram três greves vitoriosas: Bacia de Campos, Replan e o movimento unificado da semana passada. Os petroleiros não se calam diante de ataques e ameaças. Se ainda havia algum gerente da Petrobrás que tinha dúvidas sobre isso, teve que engolir a seco a reação nacional da categoria.
Foi bonito de ver a garra, a coragem e o orgulho com que os petroleiros e petroleiras protagonizaram mais uma luta em defesa de seus direitos e saíram dela vencedores. Os cinco dias de greve garantiram avanços consideráveis em questões estratégicas para a categoria, como saúde e segurança, condições de trabalho dos terceirizados, reconhecimento do direito ao extraturno (dobradinha) e o pagamento e regramento da PLR. Em todas as bases da FUP, os trabalhadores consagraram a proposta conquistada na greve com uma aprovação maciça, de norte a sul do país. O processo de negociação conduzido pela FUP não só arrancou da Petrobrás uma proposta vitoriosa em plena greve, como fortaleceu a categoria para a campanha reivindicatória, em setembro.
A unidade deu o tom
“Mexeu com meu companheiro, mexeu comigo”. Há mais de duas décadas, essas palavras de ordem são transmitidas de geração para geração de petroleiros, carregando com elas o espírito de luta e unidade que fazem desta categoria uma das mais fortes e respeitadas do país. Nestes cinco dias de greve, a unidade foi novamente fundamental para fazer a luta avançar, construir conquistas e selar o compromisso de classe e solidariedade, que confundem-se com a própria história dos petroleiros.
A greve reunificou a categoria e abalou os gestores da Petrobrás que não acreditavam na força do movimento. Os trabalhadores enfrentaram as gerências, resistiram à pressão da família, deixaram de lado diferenças e mantiveram-se firmes na luta por seus direitos. Dos mais antigos aos recém chegados na empresa, cada petroleiro e petroleira que participou deste momento histórico sabe o quanto a unidade foi fundamental para garantir a vitória da greve.
A FUP parabeniza os trabalhadores do Sistema Petrobrás que em todas as 17 bases sindicais fizeram desta greve a vitória da unidade. Juntos, sempre podemos mais.
Os excessos das gerências
Mais uma vez, as gerências da Petrobrás reagiram ao direito constitucional de greve com truculência e autoritarismo. Os tais “excessos” da greve que teriam levado a direção da empresa a querer criar uma comissão interna para punir os trabalhadores foram cometidos, sim, mas pelas gerências.
Foi ou não foi excesso desrespeitar decisões judiciais, “capturar” trabalhadores em casa, cortar a comunicação, distribuir cartas de demissões, atropelar dirigentes e militantes sindicais e tantas outras arbitrariedades?
As gerências tentaram de tudo para impedir a greve, de cárcere privado a intimidações policiais e ameaças de punição. Os trabalhadores resistiram bravamente às pressões e coações que sofreram durante os cinco dias de greve. Já as gerências… quanto despreparo e desequilíbrio…
Trabalhadores terceirizados fortalecem a greve
O Dia Nacional de Luta dos Petroleiros do Setor Privado deu a partida na greve unificada da categoria. Eles pararam suas atividades por 24 horas no dia 23 de março, em vários estados do país. Na Bahia, cerca de 10 mil trabalhadores terceirizados da Petrobrás permaneceram em greve durante os cinco dias de luta da categoria, em um bravo exemplo de unidade. Em outras regiões do país, a adesão dos petroleiros do setor privado foi fundamental para garantir o sucesso do movimento. Mais uma vez, ficou nítida a força que esses companheiros têm no Sistema Petrobrás. Dois dos eixos da greve que a categoria conseguiu avançar na negociação com a Petrobrás estão diretamente ligados às reivindicações dos terceirizados: a garantia dos postos de trabalho nas empresas contratadas e condições seguras de trabalho para acabar com a precarização e as mortes por acidente na empresa.
Bahia – cerca de 10 mil trabalhadores terceirizados participaram ativamente dos cinco dias de greve em todas as unidades da Petrobrás que foram impactadas pela paralisação: refinaria, Fafen, terminal, sede administrativa e campos de produção.
Espírito Santo – os petroleiros do setor privado em São Mateus, Vitória e Linhares pararam completamente suas atividades no dia 23. Cerca de 1.200 trabalhadores se integraram ao movimento.
São Paulo – os trabalhadores terceirizados dos terminais de Barueri e Guararema realizaram paralisações de 48 horas e 24 horas, respectivamente, durante a greve nacional da categoria.
Pernambuco – os trabalhadores terceirizados do Terminal de Suape pararam por 24 horas no dia 23. A adesão foi total, com mais de 300 trabalhadores envolvidos na luta. No dia 25, os terceirizados do terminal voltaram a se mobilizar e reverteram a demissão arbitrária de uma cipista da Multitek.
Rio Grande do Norte – os trabalhadores que prestam serviço para a Petrobrás nas áreas de produção terrestre de Mossoró também pararam suas atividades no dia 23.
Interditos Proibitórios: “Cai fora! Quem manda aqui sou eu!”
Se na greve de 1995, a Petrobrás recorreu ao exército para retirar à força os trabalhadores das refinarias, ultimamente tem recorrido a um instrumento menos ostensivo, porém tão autoritário quanto tanques e metralhadoras. Os interditos proibitórios que a empresa tem se utilizado nas greves recentes da categoria, para obrigar os petroleiros a desocuparem seus locais de trabalho, são na verdade uma medida judicial de afirmação do direito de propriedade, muito usada pelos latifundiários para impedir as ações do MST.
Além de atentar contra as organizações sindicais e atropelar os princípios da democracia e liberdade constitucional, a forma coercitiva com que a Petrobrás se utiliza dos interditos proibitórios coloca em risco também a segurança operacional das unidades e, consequentemente, a vida dos trabalhadores. Foi assim que a empresa agiu na ação que obrigou os trabalhadores do Terminal de Solimões, no Amazonas, a desembarcarem à noite para a cidade de Coari e entregarem a unidade imediatamente para os gerentes e supervisores. Os petroleiros tiveram que atravessar o rio de madrugada, procedimento arriscado e que fere as normas de segurança da própria Petrobrás, cujos embarques e desembarques no Amazonas só ocorrem durante o dia.
No Terminal de Guarulhos, o interdito proibitório utilizado pela empresa previa multa diária de R$ 100 mil e uso de força policial para desocupação imediata do terminal. Só após negociação do sindicato, a gerência aceitou que os trabalhadores realizassem de forma segura a passagem da operação para a equipe de contingência da empresa.
Equipes de contingência: produção acima da segurança
A cena se repetiu por todo o Brasil. Fosse nas plataformas, refinarias, terminais, campos de produção, qualquer área operacional da Petrobrás, não importava o risco, a ordem das equipes de contingência era manter a produção a qualquer custo. Relatos chegavam à FUP de todos os cantos do país sobre a insegurança das unidades, devido ao despreparo dos gerentes, superviso-res e coordenadores que assumiram a operação no lugar dos trabalhadores. Na P-48, na Bacia de Campos, a equipe de contingência ficou pendurada na lateral da plataforma, presa em um bote de resgate.
Refinarias, terminais e plataformas foram operadas por efetivos de contingência reduzidos, que permaneceram por mais de 72 horas nas unidades. Os riscos de acidentes físicos e ambientais em nada abalaram a gestão da Petrobrás. O que importava de fato para a empresa era manter a produção. E ainda há quem ache que foram os trabalhadores quem cometeram “excessos” durante a greve.
A luta contra a crise continua
Os trabalhadores tomaram as ruas, fábricas e campos do país nesta segunda-feira, 30, unificando a luta nacional das centrais sindicais e dos movimentos sociais e estudantis contra a crise do capital. Os petroleiros estiveram presente nas mobilizações, deixando claro que a classe trabalhadora não pagará pela crise.