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A SEMANA
Editorial
Para tudo há um limite, inclusive para a gestão
Há um limite para o entendimento de que forças ultrapassadas continuam a operar na gestão da Petrobrás, imprimindo uma marca conservadora à atual gestão da companhia. Há um limite para o entendimento de que, empresa com ação disponibilizada no mercado, precisa operar de modo sensível às mazelas da especulação financeiras. Há limite até para o entendimento de que, mesmo sob um governo Lula, que necessita de uma grande coalização com a Centro-Direita, exista algum ambiente para a tal política de “austeridade” que precisa entregar bons resultados até mesmo para o próprio governo.
Há limite para tudo isso. E esse limite foi rompido.
Além de ser o ator social que constrói a Petrobrás todos os dias, de ser um agente que ao longo de décadas luta para que a própria empresa não seja destroçada, a categoria petroleira tem sido no contexto atual, até o momento, de uma paciência monumental com a falta de paciência imperial da alta cúpula da empresa para o diálogo. A disposição para o entendimento manifestada pelos trabalhadores, por meio das suas lideranças sindicais, levou a todas as tentativas possíveis de resolução de demandas em mesas de negociações, em acordos, em entendimentos. A despeito de parcos avanços pontuais, o que se tem é escuta sem resolutividade, encenação que não se traduz em documento e até mesmo documento que não se torna prática.
A paciência acabou.
A categoria petroleira sabe ser do diálogo onde o diálogo é possível e respeitoso, onde as partes estão em busca sincera por soluções negociadas. Mas a categoria petroleira também sabe ser de enfrentamento quando esse diálogo não é mais possível. Uma grande greve se mostra irreversível. Era um cenário previsto há alguns meses, quando já se mostrava vasta a lista de tópicos não resolvidos pela empresa. Agora é uma certeza.
A gestão atual da Petrobrás passou de todos os limites.

Assista vídeo sobre os desimplantados
Os sindicatos petroleiros das bases offshore agendaram para a noite desta terça-feira (04), uma live conjunta no YouTube para debater com a categoria os desimplantes de trabalhadores e os próximos passos da mobilização. A atividade é uma resposta à postura da Petrobrás, que não marcou a reunião solicitada pelos sindicatos, mesmo após o envio de um ofício conjunto apresentando uma série de reivindicações urgentes relacionadas às condições de trabalho. O vídeo continua disponível em is.gd/liveoffshore.
Aposentados
A assembleia unificada dos aposentados, aposentadas e pensionistas — aberta também a todos os petroleiros e petroleiras da ativa que estejam folga ou tenham perdido as assembleias em suas bases —, que acontece nesta quarta-feira (05), às 10h, na sede de Macaé, vai contar com ônibus saindo da sede de Campos dos Goytacazes, às 7h30. Os interessados e as interessadas em utilizar o transporte devem entrar em contato com a funcionária Ivana de Fátima (por 22-981780079 ou para [email protected]) para informar o número de documento e reservar a vaga. As assembleias da Campanha Reivindicatória na base do NF estão chegando na reta final. Os resultados parciais mostram que a categoria está aprovando todos os indicativos do sindicato.
Manifesto 26 e 33
Petroleiros e petroleiras de P-26 e P-33 que estão lotados no recém-criado GAD (Gestão de Ativos em Descomissionamento), com atuação no setor de acostamento do Porto do Açú, aprovaram manifesto onde registram a “preocupação com o empenho da gestão em retirar, via proposta de acordo coletivo, alguns de nossos direitos”. Veja íntegra do documento em is.gd/manifestogad.
Consciência Negra
O Sindipetro-NF é um dos patrocinadores do projeto Bambas da Planície, no Calçadão de Campos dos Goytacazes. A edição do evento que acontece neste sábado (08), a partir das 10h, integra a programação da Consciência Negra e vai contar, entre outras atrações, com Roda de Conversa sobre decolonização e protagonismo feminino negro, além de Bloco Maracatú Bonita da Peste, Roda de Samba As Bambas da Planície, Cortejo do Grupo de Percussão Agualtune, DJ Jasson e baile charme.
Erramos
Em nota publicada nesta seção do Nascente, na edição anterior, e em matéria no site da entidade, a Imprensa do NF errou ao afirmar que não haveria desconto de imposto de renda sobre o valor proposto para pagamento da diferença de PLR 2019. Como o montante será pago como “abono”, incidirá o desconto. Pedimos desculpas. Mais esclarecimentos estão disponíveis em is.gd/tiraduvidaplr2019.
VOCÊ TEM QUE SABER
Clima de revolta e perplexidade na base
Durante a maratona de assembleias, rolezinhos, setoriais e cafés sindicais, em contatos com as bases intensificados nas últimas semanas pela diretoria do Sindipetro-NF, as lideranças sindicais têm percebido uma crescente indignação dos petroleiros e das petroleiras com a atual gestão da companhia. Em uma mistura de revolta e perplexidade, trabalhadores e trabalhadoras não conseguem entender como a empresa tem deixado passar um cenário político favorável para resolver dezenas de passivos dos governos Temer e Bolsonaro. Pior: em muitos casos aprofundando a truculência, interditando o diálogo, fazendo vistas grossas ao assédio de gerentes locais, em um descontrole corporativo que não se esperava encontrar na Petrobrás neste momento.
A Imprensa do NF ouviu alguns dos diretores sindicais que lideraram as assembleias recentes para saber como eles avaliam o atual estado de indignação da categoria. Em linguagem sindical, para saber qual a “temperatura da base”. E o resultado, que segue, mostra extrema irritação com um conjunto de ataques que desvalorizam a força de trabalho e demonstram descaso com as vidas. Desimplantes arbitrários, falta de solução para os PEDs, casos de assédio, retrocessos no teletrabalho, plano de cargos, contraproposta rebaixada de Acordo Coletivo, estão entre os pontos lembrados pela categoria. Confira:

“O comportamento da Petrobrás não reflete os resultados apresentados por ela. A empresa continua sendo altamente lucrativa. No primeiro semestre desse ano foi a mais lucrativa do Brasil, a terceira mais lucrativa do planeta no segmento petróleo. Ela continua distribuindo dividendos, ela continua investindo pesado no Brasil, o que está correto, uma empresa estatal, movimentando obras, retomando a ampliação de refinaria, investindo em indústria naval, reabrindo fábricas de fertilizantes. Mas quando se trata de um olhar para o conjunto de trabalhadores e trabalhadoras próprios e contratados, aposentados e da ativa, ela não reflete esse mesmo tamanho. E aí parece ser uma outra empresa, parece ser uma empresa miserável, parece ser uma empresa que não valoriza a sua força de trabalho, que não reconhece o histórico dos aposentados que dedicaram anos de vida à Petrobrás e agora estão dependendo de uma solução para os problemas do PEDs e a empresa não apresenta. Uma empresa que não desfaz prejuízos causados pelos governos anteriores, como, por exemplo, sobre o plano de cargos. Esses trabalhadores que geram a riqueza da empresa não estão compartilhando dessa riqueza, muito pelo contrário, estão sendo atacados em direitos básicos, como por exemplo o direito de manter o regime implantado. E isso porque essa falta de visão, essa falta de sensibilidade, essa falta de valorização dos trabalhadores, provavelmente nos levará à construção de uma greve, e uma das greves mais fortes que essa categoria vai fazer nesse pós-golpe de 2016, talvez mais forte ainda do que a greve de 2020.”
Sérgio Borges, coordenador geral do Sindipetro-NF e diretor da FUP
“O ponto central é a intransigência que a Petrobrás tem tratado os trabalhadores. Se você pegar um histórico, só esse ano você tem problema de desimplante, você tem a questão do teletrabalho já esse ano, você tem uma série de questões do pessoal da logística, também sobre desimplante, sobre obrigação de querer acabar com o banco de horas, com não sei mais. Você teve na área de ISC um e-mail de uma gerente geral falando que ia desimplantar o pessoal, ia mudar de regime de trabalho, sem ter uma conversa prévia com o sindicato, sem nada. Aí você vem agora, aí são mais de 300 desimplantes na Petrobrás, de pessoas que estavam a serviço da empresa fazendo trabalho em terra e por conta disso diminuiu sua média de embarque e os caras estão sendo desimplantados. Então, assim, uma série de posições que estão sendo tomadas pela empresa sem o diálogo com os trabalhadores. E aí, depois que eles fazem a merda, eles vêm para poder conversar e tal, depois que a gente bota uma posição mais dura, depois que a gente bota uma posição de mobilização, de greve, aí depois diz que os caras vêm querer conversar, entendeu? Então não tem como, né? Em Cabiúnas, por exemplo, a galera tá bem mobilizada, principalmente por conta da incorporação dos trabalhadores. A gente tem ainda a questão do plano de equacionamento dos aposentados, que têm sofrido muito e não tem como a gente não colocar, não elencar isso como prioridade. Nós vamos para cima.”
Tezeu Bezerra, diretor do Sindipetro-NF e diretor da FUP
“Depois de uma semana de assembleias aprovando em massa os indicativos do Sindipetro-NF, percebo que estamos mobilizados em vários setores da negociação. Não foi colocada na proposta as demandas de Teletrabalho dos ADMs, a incorporação dos cedidos de Cabiúnas não foi mencionada, os desimplantes na Bacia de Campos não foram esclarecidos e nem proposta oficial para resolver o problema dos equacionamentos foi sugerida. Está muito difícil aceitar que, num governo a favor dos trabalhadores, temos gestores que continuam pensando em dar chicote, pão e água pro peão.”
Benes Junior, diretor do Sindipetro-NF
“Os trabalhadores administrativos aqui da base estão muito indignados com a contraproposta da empresa, que na verdade não contempla nenhuma das cláusulas que nós entendemos ser importantes para o trabalhador. Seja a questão da melhoria do teletrabalho, diminuição da carga horária semanal para 30 horas semanais, a questão dos fiscais e gerentes de contrato, a Petrobrás quis dobrar a aposta, colocando trabalhadores terceirizados para fazer uma função extremamente sensível e delicada quando se trata do dinheiro da companhia. Estamos juntos para mostrar à empresa a indignação de todos os trabalhadores e trabalhadoras para que a Petrobrás melhore sua proposta.”
Anderson Silva, diretor do Sindipetro-NF
“As indignações principais que eu tenho visto é em relação à não negociação do teletrabalho, do plano de cargos, dos desimplantes arbitrários agora, uma proibição de retirada de férias. Nessa semana mesmo recebi uma denúncia de um trabalhador, de que estão obrigando você a não ter hora extra, não ter nada de folga. Aí te obriga, inclusive, a ficar uns dias na base. É um absurdo. Então, há uma austeridade para os trabalhadores, em especial. E eles falam que, é o que a gente tem dito, para dividendos não, para distribuição de dividendos não, mas para trabalhador sim.”
Bárbara Bezerra, diretora do Sindipetro-NF e da FUP
SAIDEIRA
Privatizada, Pampo fica dois dias sem energia e tem caos a bordo
A plataforma Pampo, operada pela Trident Energy, enfrentou dois dias sem geração de energia elétrica, segundo denúncia recebida pelo Sindipetro-NF. O apagão teria causado a perda dos alimentos refrigerados e deixado os trabalhadores sem ar-condicionado e sem aquecimento da água dos chuveiros, comprometendo as condições de habitabilidade a bordo.
Após uma denúncia formal encaminhada pelo Sindipetro-NF, auditores fiscais do trabalho estiveram nos aeroportos da região para entrevistar os trabalhadores que desembarcavam da unidade e verificar as condições relatadas.
Segundo o diretor sindical Alexandre Vieira, que acompanhou a ação, os auditores conseguiram abordar trabalhadores que acabavam de desembarcar.” A Trident afirmou que houve uma falha de geração de energia, sem ocorrência de incêndio, mas o sistema de dilúvio foi acionado automaticamente por perda de compressão de ar, o que afetou as válvulas de segurança (SDVs)”, explicou Vieira.
De acordo com informações repassadas pela Trident aos auditores, o sistema foi restabelecido após manobras técnicas. Ainda segundo relatos, um princípio de incêndio anterior teria ocorrido em agosto.
Precariedade e falta de diálogo
Nos últimos dias, pelo menos 99 trabalhadores deixaram a unidade. As denúncias incluem problemas nos camarotes, como temperaturas inadequadas e falhas estruturais.
“A empresa informou que há projetos de reparo, mas até o momento não apresentou soluções concretas. A ausência de diálogo com o sindicato agrava a situação, pois impede o acompanhamento das medidas de segurança e das condições de trabalho”, destacou Vieira.
O diretor também criticou a falta de reconhecimento do Sindipetro-NF como representante legítimo dos trabalhadores da Trident, o que obriga o sindicato a acionar diretamente os auditores fiscais em casos de risco ou violação de direitos.
O sindicato reafirma seu compromisso em defender a saúde, a segurança e a dignidade dos trabalhadores, exigindo que a empresa garanta condições adequadas de trabalho e respeite o direito à representação sindical. “Nossa única ação tem sido recorrer à fiscalização do trabalho, já que a empresa não dialoga. Seguiremos cobrando respostas e melhorias para garantir que episódios como esse não voltem a acontecer”, concluiu Vieira.
NORMANDO
Controle social via Terror
Normando Rodrigues*
Na mitologia olímpica, Deimos era o deus do terror e seu irmão Fobos, o do medo. Sua função era horrorizar o inimigo em batalha, o que dá sentido ao uso contemporâneo de “terrorismo”.
Há 200 anos chamamos de terrorismo ações extremas em violência e monstruosidade, cuja meta é a disseminação do pânico com uma ação de caráter político que é, a um só tempo, arma de guerra e meio de dominação social.
Há uma equivalência, hipocritamente negada pela mídia hegemônica no uso de “terrorista”. Se, quando o terror é utilizado por uma organização, esta é “terrorista”, um governo que atue do mesmo modo deve também ser chamado de terrorista, mesmo que seja o governo do Estado do Rio de Janeiro.
No momento em que o Estado do Rio de Janeiro não só executa malfeitores rendidos, como decapita um ser humano sob sua custódia e finca a cabeça em uma árvore, ele usa o terror não contra o Comando Vermelho, mas contra toda a população sob seu governo. É controle social via terrorismo.
Pior, o governador terrorista usa a expressão “narcoterroristas”, como bom lacaio de Miami – aliás, onde residem os donos do comércio de drogas no Brasil. Envia relatórios a Trump, mas não passa informações a Brasília. Diz combater o tráfico, mas advoga para a antiga refinaria privada que lava dinheiro e comercializa derivados de petróleo importados ilegalmente. Recusa a PEC da Segurança Pública, que integraria dados, recursos e esforços contra o crime organizado, e tenta um separatista consórcio com outros governadores lacaios.
Trump e Cláudio Castro fazem proselitismo midiático do extermínio televisionado de ocupantes de barcos e de suspeitos rendidos assassinados pelas polícias, transformando seus servidores em esquadrões da morte, numa tática para captar apoio político e pretextar objetivos outros. Lá, derrubar governos e se apropriar de petróleo e de outros recursos naturais. Cá, intentar o retorno do fascismo ao Palácio do Planalto.
Os mortos no Alemão, policiais, inocentes e traficantes, perderam suas vidas para que Castro continue a defender os maiores criminosos e os ricos. Seu terrorismo é inútil no combate ao crime. O dinheiro grosso das drogas é encontrável não nos CPXs do Rio, e sim nos mais de 40 escritórios investigados na Faria Lima.
Faça algumas perguntas:
– Houve execução de rendidos, independentemente da ficha criminal, ou não?
– Ocorreu alguma decapitação? A cabeça foi realmente fixada em uma árvore?
– Quando você for parado numa blitz, você pode ser levado a algum lugar e ser executado e decapitado?
As respostas dependerão de seu voto, em 2026.
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