Da Imprensa da FUP – A greve nacional dos petroleiros e petroleiras de 2015 completa, neste mês de novembro, dez anos. Convocada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos filiados, a mobilização entrou para a história como uma das maiores da categoria, com paralisações em refinarias, plataformas, terminais, fábricas de fertilizantes e bases administrativas em todo o país. O movimento teve início no dia 1º de novembro e rapidamente ganhou amplitude nacional, provocando forte impacto na produção. A greve de 2015 se firmou como uma luta em defesa da Petrobrás e da soberania energética do Brasil.
A chamada “Pauta pelo Brasil” foi o eixo central da mobilização. Os petroleiros defenderam a manutenção da Petrobrás como empresa integrada e estratégica, denunciaram o plano de desinvestimento da gestão da época e alertaram para os riscos de privatização de ativos essenciais. “A greve de 2015 foi protagonizada pela atual geração de petroleiros e já começou vitoriosa desde o seu primeiro dia. Uma greve que apontou para o mundo que a categoria não é movida pelo corporativismo, como muitos pregam por aí. A defesa da soberania nacional está no DNA dos petroleiros e petroleiras, com um legado de luta e resistência herdado das gerações anteriores”, registrou a FUP em suas publicações da época.
Nos primeiros dias de paralisação, 11 refinarias já estavam sem troca de turno, dezenas de plataformas tiveram a produção interrompida e, mesmo sob forte pressão das gerências, houve redução significativa da produção. A greve cresceu, mostrando a força e a unidade da categoria.
“Vale a pena resistir”, relembra Deyvid Bacelar
O atual coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, participou ativamente da greve e foi um dos dirigentes presos durante uma ação policial em frente à unidade de Mataripe, na Bahia. “No terceiro dia de greve, o corpo já não sabia o que era sono direito. Mas o coração batia firme, como quem entende que tá no lugar certo, na hora certa. A gente estava ali porque acreditava. Porque sempre acreditou. Não só na Petrobrás como empresa, mas na ideia de que ela pode e deve servir às pessoas. A quem precisa de gás pra cozinhar, de combustível pra trabalhar, de energia pra viver com dignidade”, relembra Deyvid. “Eu lembro da noite em que fomos levados pra delegacia. Lembro do vento cortando o rosto, das sirenes, das algemas. E lembro também de cada companheiro que ficou do lado de fora, esperando a gente sair. De madrugada, cansados, mas de pé. O que fizeram com a gente foi covardia. Mas ali, no meio da injustiça, nasceu ainda mais certeza. A certeza de que vale a pena resistir. Que cada greve importa. Cada trabalhador ou trabalhadora que fala, que levanta a cabeça, muda um pedaço da história.”
Para Deyvid, a greve de 2015 consolidou um novo ciclo de lideranças e um sentimento coletivo que segue vivo uma década depois. “Essa caminhada não é minha. É nossa. Feita de rostos que não esquecerei nunca. De mãos calejadas segurando faixas. De gente simples, gigante, que entende que lutar é amar o que é coletivo. Se a gente continuar assim, juntos e juntas, ninguém entrega o que é do povo. Nem com farda, nem com caneta, nem à força.”
“Sabemos lidar com a complexidade de cada momento”, afirma Cibele Vieira
A diretora da FUP e do Sindipetro Unificado de São Paulo, Cibele Vieira, destaca que a greve de 2015 ocorreu em meio a um contexto de mudanças políticas profundas no país, marcando o início de um ciclo de ataques à Petrobrás e às estatais brasileiras. “Em 2015 estávamos há um ano sob ataques constantes. Sob o argumento de combate à corrupção, tentaram privatizar a Petrobrás. Foi uma mudança de ciclo político no Brasil”, lembra Cibele.
Dez anos depois, Cibele reflete sobre a trajetória do país e o novo cenário de disputas. “Passamos por um golpe de Estado, Lula foi preso, Bolsonaro eleito e agora provavelmente ele que será preso enquanto Lula voltou a ser presidente. Realmente o Brasil não é para amadores. Infelizmente vivemos um cenário de ataques novamente. Sob o argumento de combate ao tráfico querem justificar uma intervenção dos EUA, como já iniciaram na Venezuela. E sob o argumento das mudanças climáticas querem que o Brasil deixe de explorar novas reservas.”
Para Cibele, a história da categoria mostra que os petroleiros sabem enfrentar tempos desafiadores. “Como nosso histórico mostra, sabemos lidar com a complexidade de cada momento. E este ano não será diferente.”
“A nova geração mostrou sua força e disposição de luta”, avalia Tezeu Bezerra
Diretor da FUP e do Sindipetro Norte Fluminense, Tezeu Bezerra viveu a greve de 2015 com o olhar de quem vinha do trabalho embarcado em plataformas e representava a nova geração de petroleiros que ingressou na Petrobrás nos anos 2000. “Seiscentos mil barris por dia. Foi isso que os petroleiros conseguiram parar de produção, logo no começo da greve de 2015. Isso fez com que o barril do petróleo no mundo inteiro fosse alterado de valor. O Brasil e os petroleiros da Petrobrás conseguiram pautar o preço do barril internacional a partir de uma greve.”
Para Tezeu, o principal legado foi a afirmação dessa nova geração como protagonista. “A nova geração que entrou a partir dos anos 2000 mostrou sua força e disposição de luta. Em 2015, conseguimos construir a Pauta pelo Brasil, uma pauta pela soberania. Naquele momento, a Petrobrás sofria ataques duros da Lava Jato e de uma gestão que não tinha compromisso com o povo brasileiro.”
Tezeu reforça que a partir daquela mobilização a categoria passou a debater com mais intensidade o papel estratégico da Petrobrás e o futuro do país. “Desde então, em todos os momentos, conseguimos falar sobre a importância da Petrobrás para a soberania e para a construção de um Brasil mais justo e igualitário. O debate sobre autossuficiência, ampliação das refinarias e defesa do petróleo nacional ganhou outra dimensão a partir dali.”
Legado de resistência
A greve de 2015 marcou uma virada de consciência coletiva na categoria. Consolidou novas lideranças, ampliou a organização de base e reafirmou o papel da FUP como referência nacional na defesa da Petrobrás pública e integrada. As imagens dos jalecos laranja, das assembleias lotadas e das plataformas paradas seguem vivas como símbolos da luta por um projeto de país soberano e inclusivo. Dez anos depois, o legado de 2015 continua inspirando as novas gerações de petroleiros e petroleiras a manter acesa a chama da resistência. “A greve de 2015 ensinou que lutar pela Petrobrás é lutar pelo Brasil”, resume Deyvid Bacelar. “E que o que está em jogo nunca é apenas o nosso trabalho, mas o futuro de um país inteiro.”





