COP 30: Uma Encruzilhada para o Futuro Energético do Brasil e o Destino dos Trabalhadores

Tezeu Bezerra*

A realização da 30ª Conferência das Partes (COP 30) em Belém, no coração da Amazônia, em novembro de 2025, representa um marco histórico e uma encruzilhada para o Brasil. Para nós, trabalhadores e trabalhadoras do setor petroleiro, este não é apenas um evento diplomático; é o palco central onde o futuro da política energética do nosso país será disputado e, com ele, o destino de milhares de empregos e da nossa soberania. Enquanto o mundo debate a urgência da crise climática, nossa voz, forjada no calor das plataformas e refinarias, ergue-se para defender uma transição energética que seja, acima de tudo, justa, soberana e popular.

Não nos opomos à transição. Pelo contrário, reconhecemos a sua inevitabilidade e urgência. A ciência é clara, e os impactos das mudanças climáticas já são uma realidade brutal para as populações mais vulneráveis. A questão, para a classe trabalhadora, não é “se” a transição deve ocorrer, mas “como” e “a serviço de quem”. Rejeitamos veementemente um modelo de transição ditado pelos interesses do mercado financeiro e das grandes corporações multinacionais, que veem na “economia verde” apenas uma nova fronteira para o lucro, descartando trabalhadores e comunidades inteiras no processo. Como revela um estudo recente do Dieese para a CUT, muitos dos chamados “empregos verdes” no Brasil são marcados pela informalidade (73,7%) e por salários 29% inferiores à média nacional, uma precariedade que não podemos aceitar como futuro.

Nossa proposta, consolidada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos, é clara: a transição energética deve ser um projeto de nação, liderado pelo Estado brasileiro e tendo a nossa maior empresa, a Petrobras, como seu principal instrumento. A Petrobras não pode ser reduzida a uma mera extratora de petróleo para exportação, gerando lucros para acionistas privados. Ela deve ser a grande indutora de uma nova política industrial, diversificando seus investimentos para se tornar uma empresa pública de energia, atuando em fontes renováveis, biocombustíveis, hidrogênio verde e na descarbonização de suas próprias operações. A riqueza gerada pelo petróleo, um recurso finito que pertence ao povo brasileiro, deve ser o pilar de financiamento para essa transformação, garantindo a segurança energética do país e o desenvolvimento de novas tecnologias nacionais.

Nesse processo, a dimensão social é inegociável. Uma transição justa significa, em primeiro lugar, proteger a força de trabalho que construiu a riqueza energética do Brasil. Exigimos um plano concreto que inclua a requalificação profissional em larga escala, o aproveitamento dos trabalhadores do setor de óleo e gás nos novos segmentos da energia e a criação de empregos de qualidade, com direitos e salários dignos. Não aceitaremos que a conta da descarbonização seja paga com o desemprego e a precarização. Por isso, a FUP levará à COP 30, em painéis na Zona Azul e na Cúpula dos Povos, a nossa proposta detalhada para um Plano de Transição Energética Justa no Setor de Óleo e Gás, defendendo o diálogo social tripartite como ferramenta essencial para que ninguém seja deixado para trás.

A COP 30, portanto, será um campo de batalha de visões de mundo. De um lado, a visão neoliberal de uma transição verde excludente. Do outro, o nosso projeto de uma transição popular, que combine justiça climática com justiça social, que fortaleça a soberania nacional e que coloque a classe trabalhadora no centro das decisões. O futuro energético do Brasil está em disputa. E nós, petroleiros e petroleiras, estaremos na linha de frente dessa luta, em Belém e em todo o país, para garantir que esse futuro seja construído com as nossas mãos e a serviço do nosso povo.

 

* Diretor do Sindipetro-NF e da FUP.