Democratizar a gestão da Petrobrás é fundamental para combater a corrupção

Mais de duas semanas após a FUP ter cobrado da presidente da Petrobrás acesso e participação nas investigações internas que apuram irregularidades na empresa, nenhuma resposta foi dada às representações sindicais. As propostas apresentadas pelos trabalhadores para combate à corrupção também foram solenemente ignoradas por Graça Foster. Esta tem sido a cultura perpetuada na Petrobrás desde os anos da ditadura militar: manter os trabalhadores à margem dos processos decisórios e dotar de super poderes os gestores.

“Sem mecanismos democráticos de controle da gestão da Petrobrás, a corrupção não será efetivamente combatida”, ressalta o coordenador da FUP, José Maria Rangel. Mas, pelo visto, os dirigentes da empresa ainda não entenderam que o autoritarismo herdado dos governos militares tem sido uma das principais causas de desvios de gestão. “As gerências gozam de autonomia absoluta para agirem como bem entender, sem qualquer tipo de controle social. Formam uma espécie de casta protegida pela direção, que por sua vez trata de forma corporativa os amigos do rei”, explica Zé Maria.

Quem não se lembra da operação Águas Profundas, em 2007, quando a Polícia Federal desbaratou um esquema de fraudes em licitações para serviços de reparo em plataformas? Na época, 26 pessoas foram indiciadas, inclusive um poderoso gerente da Bacia de Campos, que, chegou a ser preso, apontado como um dos principais responsáveis pelo esquema. Em vez de demiti-lo, a Petrobrás aplicou uma punição de 29 dias de suspensão e depois o transferiu para uma estratégica gerência do Cenpes. Já com os funcionários do “baixo clero”, a ordem dos gestores foi e continua sendo não ter piedade.

Casos e mais casos de impunidade

Recentemente, o jornalista Ricardo Boechat, em seu programa na rádio BandNews, classificou como “oportunista” a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que sentia vergonha dos casos de corrupção na Petrobrás. Boechat lembrou que no governo FHC também houve denúncias de desvios de gestão. Uma das mais marcantes foi o caso Marítima, empresa que entre 1994 e 1997 “ganhou” sem licitação diversos contratos de construção de plataformas, entre elas a P-36, que, devido a um erro de projeto, afundou em março de 2001, matando 11 trabalhadores. A denúncia foi feita pelas representações sindicais, mas nenhum gestor da Petrobrás foi responsabilizado. Já os petroleiros que denunciaram o esquema foram punidos e perseguidos durante anos.

O próprio Ricardo Boechat ganhou um prêmio Esso de jornalismo em 1989 com uma reportagem que denunciou a cobrança de comissões na contratação de bancos privados que prestavam serviço para a empresa. No mesmo ano, o jornal O Estado de São Paulo denunciou o envolvimento de um diretor da Petrobrás em esquema de superfaturamento de contratos para aluguel de sondas de perfurações. A história se repetiu em vários outros escândalos de desvios de gestão, sem que qualquer executivo da empresa tenha sido devidamente punido.

Fonte: FUP