Isaías Dalle e Flaviana Serafim / Da Imprensa da CUT
A Plenária Nacional dos Movimentos Populares por Mais Democracia, Mais Direitos e Combate à Corrupção realizada na noite desta terça (31) em São Paulo começou com música ao vivo. Música brasileira de tons políticos, claro, afinal foi um ato e uma festa em defesa do Brasil democrático que busca a superação das injustiças sociais e luta, contra diferentes e poderosos interesses, por sua soberania e desenvolvimento.
A Quadra dos Bancários, palco histórico de tantas concentrações populares em diversas fases dessa luta, estava lotada. A mídia tradicional – jornalões, TVs e rádios – estava toda presente mas, mais importante que isso, a imprensa livre que milita nas redes sociais, garantindo a voz contra-hegemônica.
E terminou com um apelo à unidade dos movimentos populares em torno do mandato da presidenta Dilma Rousseff, em defesa da democracia e do resultado das urnas e com a opinião unânime que a maneira mais eficaz de combater a corrupção é fazer uma reforma política que, entre outras mudanças, proíba o financiamento de empresas e bancos para candidatos a cargos eletivos.
Mas não sem antes de uma forte cobrança sobre os rumos atuais do governo. O presidente da CUT, Vagner Freitas, cuja fala antecedeu o encerramento que coube a Lula, deixou claro que os movimentos sociais defendem o resultado das urnas e condena o golpismo de setores que insinuam impeachment. Mas ponderou: “Defender a democracia é também defender nossos direitos”, logo após ter criticado as medidas de ajuste fiscal que restringem direitos dos trabalhadores, como as MPs 664 e 665, que alteram regras de seguro-desemprego e pensões, entre outros.
“Não podemos acreditar que o ajuste fiscal do Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) vai resolver os problemas do Brasil. Se não fizermos uma inversão nessa política econômica, conquistas recentes como emprego e salário vão sumir e o peão vai ficar bravo com a gente”, argumentou o presidente da CUT.
Vagner também citou a necessidade de se criar um imposto sobre grandes fortunas e criar formas de combate à remessa indiscriminada de divisas do Brasil para o capital estrangeiro. Quanto à corrupção, um dos temas da Plenária, o presidente da Central disse que a direita não tem moral para falar nesse assunto e completou: “Reforma política é a forma certa de combater corrupção”.
O ex-presidente Lula, numa mensagem de otimismo, encerrou sua fala lembrando que ele próprio foi alvo de ataques maciços e constantes da oposição e da mídia, mas terminou com altos índices de aprovação popular. “Esperem. A Dilma pode terminar melhor do que eu”, disse.
Como se estivesse se dirigindo diretamente à presidenta, afirmou: “Esses que aqui estão são seus parceiros para os bons ou maus momentos”. Afirmou acreditar que Dilma tem compromisso com os mais pobres e com os trabalhadores e lembrou de onde veio o apoio que ele próprio recebeu em momentos de crise: “Quando eu estava com problemas quem me jogou uma boia salva-vidas não foi o mercado, foi o povo brasileiro”, disse.
Para Lula, a diferença dos governos do PT em relação aos anteriores, no quesito corrupção, é que “levantamos o tapete e criamos novas ferramentas e canais para fiscalizar e combater os desvios”.
E exortou: “Não podemos abaixar a cabeça. Temos de defender nosso legado e manter o debate político, sem raiva de quem nos critica”.
João Paulo, do MST, deu o tom da Plenária. “Não ao golpe. Estamos aqui pelos direitos dos trabalhadores, pela democracia, pelos direitos dos trabalhadores e contra corrupção e em defesa da Petrobrás, e em especial em defesa do povo brasileiro”.
Rosane Bertotti, secretária nacional de Comunicação da CUT, garantiu: “Sempre seguiremos em marcha na luta pelos trabalhadores e trabalhadoras”. E chamou os cerca de 3 mil presentes a cantar o Hino Nacional, num dos mais emocionantes momentos do ato.
Raimundo Bonfim, da Central dos Movimentos Populares, fez um prognóstico: “Nos próximos meses, a luta decisiva será nas ruas. Se o andar de cima insistir em continuar batendo panela, o andar de baixo só terá um jeito: botar fogo no fogão”.
Flavio Jorge, da Coordenação Nacional das Entidades Negras, resumiu a conjuntura política. “Para nós negros, um recado claro foi dado esta semana na Comissão de Constituição e Justiça, que aprovou a redução da maioridade penal. Isso mostra que estamos vivendo neste momento uma onda conservadora. E a gente não sai do cerco político na defensiva, mas na ofensiva. Daí a importância dessa Plenária”.
Não podemos acreditar que o ajuste fiscal do Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) vai resolver os problemas do Brasil. Se não fizermos uma inversão nessa política econômica, conquistas recentes como emprego e salário vão sumir e o peão vai ficar bravo com a gente.
Altamiro Borges, representando o Centro de Estudos de Comunicação Barão de Itararé, destacou que a mídia tradicional induz “ódio fascista” na opinião pública. Lembrou da necessidade de regulação da mídia: “Estamos na vanguarda do atraso nesse quesito”. Recordou a proximidade do aniversário de 50 anos de Rede Globo, o que fez irromper uma prolongada vaia do plenário.
O rapper GOG lembrou a importância da cultura popular na formação de um povo. “A cultura é uma coisa tão importante que passa despercebida quando se fala em educação. Ora, quando alguém é educado, é educado por alguém. Mas os livros escolares em geral escondem as maldades que fizeram contra nós ao longo dos tempos. E a cultura fica na parte mais alta da estante. Por isso a importância da cultura popular, da periferia”, disse.
Para em seguida alertar: “Temos de falar com as ruas, não batendo panelas, mas com nossas mãos calejadas, para não ficar falando de nós para nós mesmos. O movimento que fica parado dá dengue”, ilustrou. GOG encerrou com um jogo de palavras que enalteceu o povo negro e a defesa da petroleira brasileira: “Nós somos o ouro negro. Nós somos a Pretobrás”.
A defesa constitucional do mandato da presidenta Dilma e da Petrobrás, e tudo que a empresa representa para a engenharia nacional e o processo de retomada do desenvolvimento, foram lembradas como pontos fundamentais da atual conjuntura pelo presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo. “Sintomático estarmos fazendo essa Plenária no dia em que, tempos atrás, generais tomaram o poder”, comentou.
As mudanças positivas ocorridas nos últimos anos, como a valorização do salário mínimo e a saída de milhões de brasileiros da miséria, são fatores que incitam o rancor dos setores conservadores, segundo apontou o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
“É isso que estão combatendo. E contra isso temos de resistir e construir uma grande frente democrática, acima de possíveis diferenças”, exortou. E garantiu que o partido orientou sua bancada de deputados e senadores a trabalhar pela aprovação do imposto sobre grandes fortunas, do projeto que estabelece direito de resposta na imprensa e que vai cobrar do governo o encaminhamento de uma proposta que acabe com o fator previdenciário.
“Defender a democracia”, afirmou a presidente da UNE, Vic Barros, “é defender uma reforma política que acabe com o financiamento empresarial de campanhas e que aumente a participação popular nos processos de debate e decisão”. Destacou também que “defender a democracia é defender o mandato constitucional da presidenta Dilma”.
“Não haverá tentativa de golpe neste País sem resistência de massas nas ruas. Não iremos para debaixo da cama, pois este é o nosso Brasil”, afirmou o representante do MST Gilmar Mauro. E aproveitou para encaminhar uma reivindicação ao governo: “Nós sabemos que precisamos de ajuste, mas não sobre os direitos adquiridos dos trabalhadores. Precisamos de ajustes sobre o capital. Dizem por aí que o mercado costuma acorda nervoso. Pois eu quero que o mercado acorde nervoso pelos próximos 500 anos, porque enquanto isso os trabalhadores teriam casa e emprego”.
O presidente da CTB, Adilson Araújo, não fez rodeios quanto ao cenário atual. “Há sim uma tentativa de golpe em curso. E por isso temos de manter nossa unidade”, disse. E sugeriu que a reforma política, com o fim do financiamento empresarial de campanhas eleitorais, é um fator essencial para essa unidade. E, ao fazer referência às Caravanas da Cidadania empreendidas por Lula e pelos movimentos sociais nos anos 1990, propôs: “Vamos construir uma Caravana da Democracia”.
[Foto: Roberto Parizotti/CUT]