Confira abaixo o conteúdo em versão texto do Nascente Especial Dia Nacional de Paralisações, que circula hoje nas bases petroleiras do Norte Fluminense com a cobertura dos protestos da última sexta, 29, na região. A versão em PDF também está disponível, aqui.
EDITORIAL
A máquina sindical
“Maquina sindical” é uma expressão que se tornou sinômino de coisa ruim, utilizada pelos detratores dos trabalhadores para designar o que seria uma estrutura burorocratizada para defender supostos privilégios. Sempre quando algum elitista quer se referir à resistência que os operários farão a alguma medida que corte direitos, dizem que as entidades colocarão as suas “máquinas” a serviço dos seus interesses.
A mobilização dos petroleiros ontem foi um bom momento para esclarecer de vez o que siginfica essa tal “máquina sindical”. Ela funciona assim: por volta das cinco da manhã, os primeiros diretores sindicais, assessores e funcionários do Sindipetro-NF começam a ocupar postos, trocar mensagens e a desenvolver tarefas para que tudo dê certo em uma missão programada dias antes em reunião na sede do sindicato.
Nos minutos que se seguem, um liga o caminhão de som e verifica se ele está abastecido, se os equipamentos estão funcionando e se os pneus estão calibrados. Outro pega os boletins que foram rodados durante a madrugada, na gráfica própria da “máquina sindical”, e o distribui em diversos pontos para distribuição. Mais outro atualiza a verificação das atas com resultados das assembleias nas plataformas. Um atende as primeiras ligações da imprensa que quer saber se é verdade mesmo que haverá greve dos petroleiros. Há ainda quem se prepare para enfrentar possíveis demandas jurídicas surgidas de um possível confronto. Alguém que organize como será o registro de imagem e de texto sobre tudo o que virá acontecer. Um que verifica as conexões dos cabos na mesa de áudio da rádio que entrará com flashes ao vivo do movimento.
A “máquina sindical” leva o caminhão para o portão da Praia Campista, onde encontrará muitas outras partes dessa sua engrenagem. E estes pedaços se unem em um cordão de isolamento que se estende do limite da empresa até a areia da praia. E os que chegam se deparam com aquela barreira que gente que também é integrada por petroleiros que vieram do terminal de Cabiúnas, fruto de outra ação que também estava sendo desenvolvida pela “máquina sindical”.
Então, a “máquina sindical” se põe a discursar, convencendo os trabalhadores a não entrarem na base. Fala sobre a necessidade de combater a terceirização desenfreada que será permitida por um projeto de lei aprovado na Câmara e em tramitação no Senado, explica medidas provisórias e emendas em discussão que, defende a “máquina”, serão boas em alguns casos e péssimas em outros, e que é preciso separar uma coisa da outra em uma conjuntura delicada de ameaças de corte de direitos e ofensiva conservadora..
E os trabalhadores não entram. Ouvem a “máquina sindical” e falam como “máquina sindical”, pois que ela não é outra coisa senão eles mesmos. A “máquina sindical” não é dinheiro, não é caminhão, não é sede. A “máquina sindical” é gente. No caso do Sindipetro-NF, cada um dos petroleiros que constroem esta entidade há quase duas décadas.
Petroleiros na luta nacional
A sexta, 29, foi de mobilizações intensas nas bases do Sindipetro-NF, em Macaé. Na noite anterior, plataformas aprovaram em assembleias simultâneas a realização de paralisação de emissão de PT (Permissão de Trabalho). Em Imbetiba, um trancaço fechou os acessos à base até o final da manhã. E em Cabiúnas houve cortes de rendição. Os protestos fizeram parte do Dia Nacional de Paralisações e Mobilizações, convocado pela CUT contra o corte de direitos.
No Tecab (Terminal de Cabiúnas), os petroleiros realizaram duas assembleias, a primeira às 6h30, com o Grupo C no portão da empresa e aprovaram o corte de rendição. Durante a assembleia, os participantes debateram a realização do Seminário Nacional da Transpetro e o futuro da Petrobrás. Os trabalhadores mostraram a preocupação sobre a reincorporação da Transpetro e com a venda de ativos. A diretoria do sindicato apresentou como encaminhamento que os petroleiros do turno, e também os trabalhadores administrativos, participassem do trancaço que estava acontecendo em Imbetiba. A proposta foi aprovada e todos se dirigiram à base onde acontecia a manifestação surpresa. Na parte da tarde, a segunda assembleia aprovou o corte do turno das 15h e a previsão era de só haver rendição às 23h.
O trancaço de Imbetiba começou por volta das 5h40, com apoio de movimentos sociais (MST, CONTAG, UFF Campos, UFF Rio das Ostras, entre outros). Durante cinco horas todos os acessos à base foram mantidos interrompidos por um cordão humano formado pelos militantes sociais, dirigentes sindicais e categoria.
Nas plataformas, a emissão de PTs foram paradas durante 24 horas. Participaram do movimento 20 unidades da Bacia de Campos (PCH-1, PNA-1, PVM-1, PVM-3, P-07, P-08, P-09, P-19, P-25, P-26, P-31, P-35, P-33, P-37, P-40, P-50, P-51, P-54, P-55 e P-65).
Para o Sindipetro-NF, o movimento foi vitorioso e mostrou que os petroleiros estão em sintonia com os demais trabalhadores brasileiros, na luta em defesa de direitos históricos. A entidade chama a todos a se manterem atentos ao cenário político e aos informes do sindicato. A avaliação é a de que é iminente uma greve geral no País.
Contra o corte de direitos
Os protestos dos petroleiros na sexta, 29, pazem parte do Dia Nacional de Paralisações e Mobilizações convocado pela CUT para combater o corte de direitos dos trabalhadores. A categoria está na luta especialmente contra o PLC 30, em tramitação no Senado após aprovação na Câmara como PL 4330, o chamado “Projeto de lei da escravidão”, que amplia as possibilidades de terceirização, e contra as Medidas Provisórias 664 e 665, que dificultam o acesso a direitos trabalhistas em prática.
A diretoria do Sindipetro-NF também convocou a categoria a se mobilizar contra a venda de ativos da Petrobrás no pré-sal, recentemente anunciada. Na visão da categoria, não será aceito que a companhia ceda às pressões internacionais para entregar esta riqueza do povo brasileiro.
Os petroleiros também pressionam a empresa pela resolução imediata dos problemas enfrentados para ter acesso ao Benefício Farmácia. A FUP e os sindicatos avaliam que está havendo uma precarização inaceitável deste direito no Acordo Coletivo de Trabalho.
Gerência chama polícia em Caxias
A polícia militar agrediu fisicamente e prendeu o presidente do Sindipetro-Caxias e diretor da FUP, Simão Zanardi, por volta das 6 horas da manhã da sexta, 29. A força militar foi acionada pela gerência geral da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) para tentar impedir a mobilização dos trabalhadores.
De acordo com o sindicato, Simão e outros diretores da entidade estavam colocando uma faixa contra o PL 4330 no Portão 5 da refinaria, quando foram abordados por uma dezena de policiais, que disseram estar ali a pedido da empresa para impedir que a paralisação acontecesse e o fluxo de pessoas no portão fosse garantido.
“Começou, então, uma discussão entre os diretores do sindicato e a polícia, que partiu para o enfrentamento. Simão foi imobilizado por sete policiais e arrastado para um camburão. Como estava ferido, foi levado para Hospital de Saracuruna, onde foi atendido e medicado”, informou comunicado da entidade.
O dirigente sindical foi levado em seguida para a 60ª Delegacia, ao lado da Reduc, onde prestou depoimento e registrou queixa contra a agressão sofrida. Mesmo com a tentativa de intimidação, a categoria manteve o movimento e atrasou a entrada na refinaria em nove horas.
“Durante o ato, percebia-se nos trabalhadores a revolta com a violência contra Simão e o sindicato. Vários trabalhadores se pronunciaram contra a atitude da gerência da Reduc de colocar a polícia para reprimir a manifestação. Muitos lembraram a Greve dos Petroleiros de 1995, quando tropas do exército ocuparam diversas refinarias do país”, disse o sindicato.
Solidariedade
Ainda durante a manhã, nas atividades de mobilização no Norte Fluminense, diretores do Sindipetro-NF manifestaram solidariedade ao sindicalista de Caxias e repudiaram tanto a ação repressora da gerência da Reduc quanto a ação truculenta da polícia. A FUP e a CUT-RJ também manifestaram apoio aos trabalhadores de Caxias e condenaram a agressão ao dirigente sindical.
Prisão em PE e luta em todo Brasil
As prisões de 11 sindicalistas em Recife, o fechamento de agências bancárias em São Paulo, a mobilização dos trabalhadores da agricultura familiar, os protestos dos sem-teto, estão entre as matérias produzidas pelo Portal da CUT na cobertura do Dia Nacional de Paralisações e Mobilizações, na última sexta, 29. O presidente da Central, Vagner Freitas, que participou de passeata em São Bernardo do Campo, cobrou que a presidenta Dilma vete o projeto da terceirização, caso a proposta passe pelo Senado. Mais em www.cut.org.br.
Mobilização petroleira de Norte a Sul do País
Da Imprensa da FUP
Na manhã da sexta-feira, 29, os petroleiros de todo o país seguiram o chamado das centrais sindicais, da FUP e seus sindicatos e, iniciaram uma paralisação nacional, em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia. Nas bases do Sistema Petrobrás do Amazonas, os petroleiros se uniram aos operários da construção civil e construíram um grande ato numa via movimentada de Manaus. Além da defesa dos direito dos trabalhadores, a manifestação no Amazonas também foi em protesto à morte de dois trabalhadores da construção civil somente nesta semana.
Na Bahia, a paralisação convocada pelas centrais sindicais contra aprovação do PL 4330 da terceirização reuniu trabalhadores do setor petroquímico, que paralisaram atividades em várias fábricas do Pólo de Camaçari desde a zero hora. As principais vias de acesso ao complexo petroquímico foram fechadas.
Em Pernambuco, os trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima também aderiram à mobilização e fizeram um corte de rendição do turno da unidade, que ficará paralisada até o fim do dia. No Ceará, foram paralisados três terminais da Transpetro (Mucuripe, Macaranaú e Pecém), além da unidade Termo-CE.
No Espírito Santo e São Paulo, tanto os terminais da Transpetro como unidades administrativas foram paralisadas. Na Replan e Recap, os trabalhadores aprovaram um corte de rendição de 8h. Nos Terminais de Guararema, Três Lagoas e Barueri, os petroleiros também aderiram ao movimento de paralisação nacional.
Nas bases do Norte Fluminense, os trabalhadores de Imbetiba fizeram um trancaço no inicio da manhã. O movimento foi encerrado às 12h. Nas plataformas, a orientação é a paralisação da emissão de Permissões para o Trabalho (PTs) durante todo o dia.
Em Duque de Caxias, infelizmente, o ato dos petroleiros da Reduc e do Terminal Campos Elíseos, da Transpetro, foi interrompido pela truculência de policiais militares. A mando da Gerência Geral da Reduc, a PM agrediu fisicamente e prendeu o presidente do Sindipetro Caxias e diretor da FUP, Simão Zanardi.
Ato em MG
Em Minas Gerais, os petroleiros vão se unir a outras categorias que participarão do ato chamado pelas centrais na parte da tarde.
No Rio Grande do Sul, houve paralisação de 3h na Refap e nos terminais da Transpetro. Os petroleiros também bloqueara a BR 116, que da acesso à refinaria.
No Rio Grande do Norte, o Sindipetro RN promoveu uma assembleia extraordinária em frente ao portão principal de entrada da Sede Administrativa da Petrobrás.
Congrenf começa em cenário crítico
Em meio às mobilizações dos trabalhadores e em um cenário de cortes de direitos, começa hoje o 11º Congresso Regional dos Petroleiros do Norte Fluminense, na sede do Sindipetro-NF, em Macaé. O evento, que segue até a quarta, 03, reúne representantes das bases de terra e unidades marítimas para discutir as reivindicações da categoria e a conjuntura política e econômica do País.
Nos dois primeiros dias do evento, quando acontecem as mesas temáticas, haverá transmissão ao vivo, em áudio e vídeo, pela Rádio NF (www.radionf.org.br). As discussões estratégicas da Campanha Reivindi-catória e da Pauta de Reivindicações, no terceiro dia, são internas.
No Congrenf também ocorre a escolha de delegados que representarão a região na V Plenária da Federação Única dos Petroleiros (Plenafup), em Guararema (SP), de 1 a 5 de julho.
Debates
Segunda, 01/06
14h – Mesa de abertura – Forças políticas (CUT, FUP, MST, CNRQ, NF e CTB).
15h15 – Mesa 1 – Conjuntura: Adhemar Mineiro (Dieese) e Vagner Freitas (CUT).
Terça, 02/06
08h30 – Mesa 2 – Setor Petróleo: Cibele Vieira (CNRQ/Unificado) e Aldemir Caetano (CTB).
11h – Mesa 3 – Luta!: Anacelie Azevedo (Coletivo de Mulheres da FUP), Antônio Spis (CUT) e Alfredo Santos Jr. (Juventude da CUT).
14h30 – Mesa 4 – Saúde e segurança: Arthur Lobato (Psicólogo) e José Maria Rangel (FUP).
17h30 – Mesa 5 – Terceirização: Paula Sirelli (UFF) e Luís Augusto (UFBA/IFBA).
Quarta, 03/06
08h – Painel Dieese: Números do setor petróleo.
09h30 – Campanha reivindicatória – Parte I.
13h30 – Campanha reivindicatória – Parte II.
16h30 – Eleição dos delegados para a Plenafup.