Greve de 95, a participação das mulheres e da juventude marcaram a primeira mesa da tarde do dia 2

A segunda mesa do dia de hoje no 11º Congresso Regional dos Petroleiros, tratou da Luta e mexeu com os corações e mentes dos presentes. Os representantes da mesa falaram do empoderamento da categoria, da juventude e das mulheres e da necessidade do movimento sindical se reciclar.

A Diretora da FUP e do Sindipetro-PR/SC, Anacélie de Assis Azevedo, fez uma exposição inicial sobre a história das lutas das mulheres, que têm origem no modo como a construção da lógica da propriedade privada acabou por tornar a mulher propriedade dos homens nos espaços privados. Após a revolução industrial, estas lutas se tornaram presentes em ambientes fabris, e ganharam mais visibilidade com os movimentos das mulheres socialistas e das sufragistas (em defesa do voto feminino).

Anacelie expôs dados sobre a inserção das mulheres no mundo do trabalho, onde enfrentam dificuldades com a chamada tripla jornada — trabalho doméstico, no emprego e nos estudos. Ela expôs ainda que a maior vulnerabilidade social está entre as mulheres negras, que em 70% dos casos estão empregadas em trabalhos precários, sem carteira assinada, com baixos salários e sem direitos respeitados. Elas também são maioria entre as empregadas domésticas, atividade que, segundo Anacélie, representa um resquício da escravidão brasileira.”Não há feminismo sem combate ao racismo, pois as mulheres negras são as mais atingidas”, defende.

Sobre as mulheres petroleiras, a sindicalista mostrou dados que apontam o aumento da presença feminina na categoria, com um crescimento de 119% nos últimos dez anos, representando 17% da força de trabalho da Petrobrás. O sindicalismo petroleiro, no entanto, não reflete ainda esta representação, contando apenas com 5% de mulheres. Para a Plenária da FUP, foi aprovada a eleição de uma cota mínima de 17% de mulheres como delegadas.

Na política institucional, as mulheres não chegam a 15% do Congresso Nacional e apenas 12% são prefeitas e somente um estado é gerido por uma governadora. Neste cenário, Anacélie destaca a importância simbólica da presença de uma mulher na Presidência da República. “A presidenta é uma referência muito forte para esta geração, pois sinaliza que podemos ocupar todos os espaços, e não apenas aqueles que antigamente se dizia serem femininos”, disse.

Juventude

O segundo expositor foi o representante da Juventude da CUT, Alfredo Santana Santos Júnior, que ressaltou a dificuldade de debater temas relacionados a juventude e mulher no movimento sindical.

Para Alfredo, é necessário fazer o exercício de debater no dia a dia com a categoria os grandes temas. Com o avanço da internet e das redes sociais, as pessoas tem mais acesso a informação e estão mais preparadas para se contrapor. “O dirigente sindical não está preparado para debater com essa juventude, que tem mais informação por conta da internet. É preciso estar disponível diariamente para esse debate” – disse.

Ele avalia que o movimento sindical cutista ainda mobiliza a sociedade e possui capacidade de levar as pessoas à reflexão. E que isso só foi possível após o movimento de junho de 2013, que sacudiu o país inteiro. ” Sobre o movimento de junho de 2013, não vou entrar mérito do conteúdo mas no método. O movimento foi analisado por 99% dos sindicalistas com base no que viram na TV. Eles não estavam lá e avaliaram junho a partir da imprensa golpista”

Com essa massa que estava disposta a se mobilizar e debater política, o movimento sindical não se apresentou para debater. Eram pessoas com média de 25 anos e da classe trabalhadora. “Muitas dessas pessoas estavam nas ruas pela primeira vez, e ninguém se apresentou para debater com essa massa” – comentou.

O espaço para protagonismo da juventude nas estruturas sindicais foi questionado por Alfredo. Para ele, muitos só atuam cumprindo tarefas da estrutura já postas.”Não há guerra geracional e nem disputa, as experiências precisam se complementar e somar. Os mais antigos, precisam conviver e aprender a usar as ferramentas e novas formas de organização.

As redes sociais são apontadas por Alfredo como instrumento para ajudar a disputar os sonhos e o simbólicos presentes na juventude. “Temos que mudar as estruturas para dialogar com esse público. Temos quase 200 mil dirigentes, olha a massa de comunicadores espalhadas no Brasil se conseguíssemos mobilizar esse pessoal todo.Que cada dirigente saia com a tarefa de se envolver e usar seus meios para disputar conteúdo com as mídias tradicionais” – sugere o dirigente.

Greve de 95

O Resgate da greve de 95 foi responsabilidade do dirigente Luiz Carlos Mendonça, Meio Kilo, que substitui, Antônio Carlos Spis nessa mesa. “A greve de 95 aconteceu para fazer cumprir um Acordo Coletivo de 94, assinado por um ministro de estado. Falar dessa greve é falar de uma luta que alguns companheiros que estão aqui fizeram. Foram 31 dias, sendo que 21 deles foram descumprindo ordem judicial de voltar ao trabalho com assinatura de demissão em massa. Ali nos sentimos novamente operários, sem salário, tendo que pegar cesta básica no sindicato e pagar multa diária de 100 mil”- explicou.

Mendonça lembrou dos companheiros da direção que fizeram parte da direção na época e que eram obrigados a ficar praticamente na clandestinidade porque existia uma ordem judicial para prendê-los. “Naquela greve enfrentamos a família diariamente para fazer essa greve. Nós estávamos no local de trabalho, quando o governo colocou a tropa nas refinarias”

Ele conta que durante a greve de 95, acamparam em Cabiúnas, o heliponto das plataformas foi ocupado pelos trabalhadores com tambores e que para não haver embarque de pelegos por Imbetiba, colocavam carniça para atrair os urubus. A sede do sindicato era um prédio velho, onde os diretores dormiam e dividiam o espaço com os funcionários.

“Ficamos 31 dias, sem salário e com carta de demissão. Nossa doçura tem limite! Ligavam para nossa família e ameaçavam. Muitos de nós não resistiram. O Sindicato dos Bancários emprestou 5 mil reais que foi dividido por diretores e funcionários. Chegamosa fazer uma asembleia com a categoria para reduzir o valor do desconto e fundar uma associação de trabalhadores para ter uma arrecadação paralela” – contou.

Ao final de sua fala, Luiz Carlos chamou atenção dos participantes do Congrenf para uma dívida social que o movimento sindical tem com os trabalhadores terceirizados, que é a conquista do 14 por 21 para todos. “O Sindipetro-NF tem que ser precursor dessa luta e ocupar Brasília para garantir essa conquista” – concluiu Mendonça. A mesa foi moderada pelos diretores do Sindipetro-NF Conceição de Maria e Sergio Borges.