O número mágico de Cid Gomes é 367 achadadores

por Tadeu Porto, colunista da Cafezinho*

Há muita luta, muito chão na caminhada por um Brasil mais justo e democrático, pleito dos movimentos sociais que estão nas ruas nesses últimos dias.

Barrar o golpe, todxs já sabiam desde do início, é apenas uma batalha dentre outras muitas que deverão ser travadas em solo nacional (sem perder a ternura, claro) em prol de uma estrutura política que contemple a massa popular historicamente oprimida por uma elite aristocrática que não consegue imaginar uma vida sem os benefícios da exploração do próximo.

E como toda disputa a ser ganha, é imprescindível que se tenha o otimismo que alimenta a esperança e o pessimismo que proporciona a autocrítica, abraçados como a tristeza e a alegria do ótimo filme da Pixar Divertida Mente, para que o equilíbrio possa ajudar nas tomadas de decisões que levem a vitória desejada.

Mesmo com um dos ambiente mais esdrúxulos que nossa história já proporcionou, uma votação que fez o mais alienado brasileiro ter vergonha alheia, é possível achar um fato que nos faça, não só acreditar numa virada, mas também esboçar um sorriso por ver fatos temporais se encaixando numa linha de lógica que está sempre ao alcance dos nossos olhos.

É o que acontece, por exemplo, com a análise do número 367: o quase quarto de centena que determinou a abertura de um processo de impeachment — cassação por crime de responsabilidade — com a proeza de ter uma das piores análises de fatos sobre o possível crime, e uma riqueza de argumentos a favor de famílias específicas, Deus, o Brasil, aniversários e até saudações a ditadura militar.

No começo do ano de 2015, o então ministro da educação da presidenta Dilma Rousseff, Cid Gomes, foi ao parlamento explicar uma declaração feita numa universidade e aproveitou para lavar a alma da maioria dxs brasileirxs, dizendo, num sincericídio surpreendente, que naquela casa existia de 300 a 400 achacadores.

Aquilo me deixou bolado. Primeiro por que meu pragmatismo tem certa dificuldade em aceitar uma banda de aproximadamente 20% no que diz respeito a um assunto tão sério como ter um legislativo que vive do suborno. Segundo, pela curiosidade de saber quais nomes figuraram nesse conjunto seleto do achaque, para combater esse câncer que é uma coalizão estruturada no interesse e no oportunismo.

Só de pensar na análise combinatória que envolveria calcular o número de grupos de deputados e deputadas que formariam a constatação do Gomes me deu certa preguiça (e também uma vontade de voltar a estudar o tema porque meio que apanhei quando fui colocar num papel).

Mas eis que o dia 16 de abril de 2016, certamente já marcado como uma data trágica, me vem com uma resposta clara: são 367. Mais de dois terços do parlamento cujo o compromisso é o suborno, a chantagem e o golpismo, sem pudor algum de abandonar a ética democrática.

Há alguma vantagem nisso?

[Fora a curiosidade de encontrar um conjunto dentre uma possibilidade que minhas habilidades matemáticas, enferrujadas, já não me permitem mais]

Há sim! Pelo menos uma muito interessante: o nome dos golpistas que vamos enterrar um a um, como os cinco presidentes da ditadura que hoje são apagados das nossas homenagens e correm pra frequentar apenas as páginas da vergonha dos nossos livros de história.

Os possíveis candidatos a prefeito que fizeram parte desse seleto grupo do achaque, por exemplo, não terão paz no pleito desse ano se depender das minhas palavras e voz. Onde estiverem ou se manifestarem, levarão consigo a resposta automática “golpista”, com carinho pois ainda acredito na construção da luta com amor.

Bom, no meu estado a bancada mineira me deu muitas alternativas. Será “qui então” vou ter muito trabalho?

Sem dúvidas!

P.s: Parabéns Cid Gomes! Pelas palavras, coragem e até mesmo a precisão!

* Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)