A destruição do social

*Normando Rodrigues

Nesta terça dois burgueses endinheirados disputaram um “pega” na Rod. dos Imigrantes. Montavam um Camaro e um Mercedes de luxo, e destruíram duas famílias, que viajavam em um Ecosport. Síntese do Brasil dos anos 90, revivido pelo Golpe de 16.

Dentre a massa de antipetistas que apoiou o Golpe a todo custo – motoristas de Ecosport e outros, pedestres incluídos, que vibram com os “pegas” entre Camaros e Mercedes – supunho existir os de boas intenções, quais sejam os que acreditam sinceramente que abrir caminho para os Camaros e Mercedes é tudo o que podemos fazer de melhor, para todos.

Vejam que excluo os de más intenções, aqui definidos como os que apóiam Camaros e Mercedes não porque acreditam que seja o melhor para todos, mas porque querem ter para si um Camaro, ou um Mercedes, e tocar seus próprios “pegas”, sem se importar com o resto da humanidade.

Juntos, estes dois segmentos, os de boa e os de má fé, vestiram a camisa da proba CBF, e foram às ruas pela saída de Dilma. Deveriam agora ter atingido a plena felicidade, pois colocaram um fim aos governos do PT. Os governos que mais investiram em saúde e educação em toda a história do País, quer em números relativos, quer em números absolutos.

Não só saúde e educação tiveram orçamentos congelados por 20 anos, como os paralisados valores previstos para 2018 foram ainda mais reduzidos, para liberar dinheiro público em prol de emendas de parlamentares, de modo a garantir a sustentação do Golpe.

A sociedade de Camaros e Mercedes é muito melhor! O dinheiro público serve para comprar novos Camaros e Mercedes, e não para prover saúde e educação, ora bolas! Quem possui Camaros e Mercedes não precisa de universidades e hospitais públicos. E seus fãs acreditam que isso é melhor.

É preciso dar parabéns aos 2 grupos de antipetistas, por sua coerência e radicalidade. Levaram às últimas consequências seu compromisso para com as propostas dos donos de Camaros e Mercedes.

Essa lógica só tem um probleminha. É que a sociedade de Camaros e Mercedes, como o acidente da Imigrantes demonstra, é de muito poucos. Só alguns iluminados podem dirigir a mais de 200 km/h. Não há espaço para Ecosports, ou outros carros “comuns”. Nem mesmo há espaço para o pedreiro ciclista, que ousou pedalar na rodovia do filho de Eike Batista.

Para o pedestre? Ah! Para este há, sim, um espaço nobre reservado. É a única matéria prima essencial à sociedade de Camaros e Mercedes.

*Assessor Jurídico do Sindipetro-NF e da FUP