A ocupação dos espaços políticos pelas mulheres é debatida na tarde do dia 4 na Plenafup

A “Violência de gênero na política” foi o tema debatido na tarde deste sábado, 4, na VIII Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros, que contou com a participação da Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisa da União Brasileira de Mulheres (UBM). Ana Rocha (PC do B) e da professora de História, especialista em Políticas Públicas e coordenadora da Casa da Mulher Trabalhadora (CAMTRA), Eleutéria Amora e da colombiana Sonia Milena López Tuta, presidente da Fundação Joel Sierra e integrante do Congresso de Los Pueblos Capitulo Centro Oriente.

A quem pertence o espaço da política

Ana Rocha ressaltou a importância do tema de gênero estar na pauta da VII Plenária e sugeriu que essa iniciativa sirva para romper qualquer tipo de discriminação.

Para evidenciar a discriminação sofrida pelas mulheres na política relembrou casos emblemáticos recentes como o que aconteceu com Manuela Dávilla durante a entrevista no programa Roda Viva, com Jandira Feghali quando foi empurrada por um colega no plenário enquanto falava e os episódios de misoginia em relação à ex-presidenta Dilma Roussef. “O espaço da política é masculino e, quando a mulher entra a discriminação acontece” – comentou.

Alertou ao fato de que há uma sub-representação feminina porque existem muitos obstáculos para as mulheres chegarem ao poder.  Inicialmente para participar da política tinham que pedir autorização dos pais ou dos maridos. Hoje isso mudou, mas mesmo assim enfrentam problemas diários, porque sociedade colocou para as mulheres o papel de cuidar e isso tira a possibilidade de disputar espaços de poder, porque precisa cuidar dos filhos, maridos e familiares.

Na avaliação de Ana Rocha, a mulher é tratada na política como se aquele espaço não lhe pertencesse e cabe a todos e todas desconstruir o que são espaços femininos e masculinos.

 “Para enfrentar a discriminação de gênero, é necessário estar em toda a parte. O machismo perpassa homens e mulheres, mas afeta diretamente o elo oprimido, ou seja, as mulheres. Existe uma diferenciação de papéis resultante de uma construção histórico-social. Exige uma transformação cultural enorme, que una não só a mudança nas estruturas, mas também dos conceitos e dos estereótipos. Por isso é tão fundamental termos ações como a Campanha Permanente de Combate ao machismo e valorização das mulheres, é na educação que podemos atuar para mudar essa forma de pensar” – disse.

O cuidar é dever de todos e todas

Eleutéria Amora considera que é necessário as mulheres assumirem seu papel na produção de conhecimento para mudar a sociedade. Esse é um desafio posto para a sociedade, não só para as mulheres.

Relembrou que na história mundial houve um grande apagamento das mulheres com a caça às bruxas, que na verdade eram mulheres que utilizavam o poder das ervas para curar, usavam sua sexualidade como bem queriam e se negavam ao casamento.

Para Amora, a desigualdade é reproduzida ainda mais com as mulheres negras, o racismo é estruturante da desigualdade. Sugeriu que o trabalho de todos é trazer as mulheres negras para assumir espaços de poder.

“Fomos confinadas ao trabalho de cuidar da sociedade e não para ocupar espaços de poder. As tarefas do cuidar é de todo mundo, todos e todas. Mas sempre sobra para mulher que tem que deixar de lado seu trabalho e seu lazer. É preciso vencer a divisão de tarefas do cuidado, para que possamos assumir os espaços de poder de forma igualitária”.

Violência de gênero

 

A colombiana Sonia Milena López Tuta, presidente da Fundação Joel Sierra e integrante do Congreso de Los Pueblos, fez um breve panorama da realidade em seu país, onde a mulher também vive uma rotina diária de violência, exploração e discriminação. Mulheres como ela, que atuam em movimentos sociais, sofrem duplamente, por serem criminalizadas, já que esses movimentos muitas vezes são rotulados como organizações guerrilheiras. “Tivemos 38 companheiros assassinados, dos quais 17 foram mulheres”, denunciou Sonia.

 

Ela fez um chamado sindicatos petroleiros a unificar e a valorizar a luta das mulheres contra o sexismo e pelo empoderamento. Sônia citou o exemplo do Congresso da Colômbia, onde 21% dos 258 deputados e senadores são mulheres, quase todas de classes dominantes. “Não temos voz no Congresso, pois as poucas mulheres que lá estão defendem os interesses de sua classe social. Por isso, é fundamental a formação política das nossas militantes para empoderar as mulheres de forma a permitir uma participação efetiva nos espaços de representação popular. Só assim, faremos as transformações sociais tão urgentes e necessárias no nosso continente”, afirmou Sônia.

 

 

“Quando muitas mulheres entram na política, muda a política” – presidenta do Chile Michelle Bachelet