Cláudio da Costa Oliveira*
Já imaginaram se nós tivéssemos uma máquina do tempo para viajar ao passado? Não seria necessário ir muito longe, um ano já seria muito bom. Por exemplo: se hoje, 2 de agosto de 2016, fôssemos transportados para 2 de agosto de 2015. Bem informados, poderíamos acertar todos os páreos do Jockey Club de lá para cá. Sem falar que na mega-sena seríamos premiados todas as semanas. Dava para ganhar muito não é?
Indo um pouco mais atrás, poderíamos prever que Zico perderia o penalty contra a França, na Copa de 1986, e Ronaldo passaria mal e não participaria da final da Copa de 1998.Tudo muito fácil.
Mas a máquina, pelo que sei, ainda não foi inventada. Entretanto, alguns especialistas e jornalistas gostam de utilizar fatos passados para tecer críticas dirigidas, considerando que os criticados deveriam ter dons de premonição, adivinhação, futurologia etc.
Não admiramos que tais artifícios sejam utilizados por jornalistas como Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leitão, que estão sempre buscando iludir a opinião pública. Mas nos preocupa quando vêm de pessoas como o Professor José Goldemberg, professor emérito da Universidade de São Paulo e Presidente da Fapesp (Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo).
Em artigo publicado na revista Valor Econômico de 29/07/2016, o professor afirma: “A partir de 2005, e por quase 10 anos o país poderia ter se beneficiado do preço do petróleo acima de US$ 100 se tivesse atraído empresas internacionais para dividir com elas os custos e riscos da exploração em grandes profundidades. Este era um problema empresarial que deveria ser tratado como tal e não como estratégico ou da defesa da soberania nacional, que não estava em jogo.
Só para dar um exemplo da falta de visão dos governantes na época: desde de 2008 não foram licitados novos campos para exploração no pré-sal. Se estas licitações forem feitas agora não é provável que as empresas internacionais se interessem por elas”.
Vejam que o professor, numa verdadeira “previsão do passado”, diz que os governantes na época deveriam ter a “visão” de que os preços do petróleo iam cair. Ao mesmo tempo ele pressupõe que os dirigentes das empresas internacionais não teriam a mesma “visão”. Portanto, a “futurologia” dos dirigentes da Petrobras deveria ser melhor que a dos outros.
É bom destacar também a frase do professor: “Este era um problema empresarial que deveria ser tratado como tal e não como estratégico ou de defesa da soberania nacional, que não estava em jogo.”
Apesar de reconhecer o notório saber do Professor Goldemberg, prefiro ficar com o que diz o ex-diretor da Petrobras Guilherme Estrella (que, data vênia, tem muito mais conhecimento sobre o assunto que o professor), em recente entrevista :
“Eu acho importante reconhecer que na disputa pela soberania energética das nações, não há lugar para o bom mocismo nem para ingenuidade. É guerra entre mastodontes que frequentemente envolve ações típicas de pirataria, em pleno século XXI e também pode levar a confrontos abertos. A regra é escreveu não leu aparecem porta aviões ou cruzadores – quando as reservas estão no mar”.
E disse também: “Precisamos entender que ‘operador’ de uma área está longe de ser apenas uma equipe técnica que cumpre determinações de quem obteve a concessão para pesquisar e explorar petróleo. Todas as empresas que participam de uma licitação vencedora, mesmo que não tenham a maioria das cotas, adquirem um status de proprietário das instalações, sistemas submarinos, navios de produção, equipamentos, tubulações de transferência. O operador é quem manda e desmanda. São as equipes do operador que, a bordo, embarcadas ou em terra, assumem a coordenação das operações. Também são elas que apropriam, manuseiam e interpretam todos os dados de engenharia e geologia das rochas que produzem petróleo e gás natural dos sistemas implantados. Este sistema é cuidadosamente tratado pelo operador. Os segredos são guardados a sete chaves, pois são informações absolutamente confidenciais, apontam para novas descobertas e prioridades de investimentos”.
Estrella salientou : “Estamos falando do filé mignon da indústria de petróleo mundial. Tanto é assim que com base nos resultados obtidos pela Petrobras no Brasil, a Exxon norte-americana conseguiu um acordo para se tornar operadora única do pré-sal em Angola. Ninguém vai dizer que a regra que vale para a Exxon não é boa para a Petrobras, certo?”
Mas o professor resolveu também fazer “previsão do futuro” e foi tão desastroso quanto Miriam Leitão que em 2008 previu: “Para produzir no pré-sal a Petrobras precisará de empresas e técnicos estrangeiros”. E o Sardenberg, que além de frases históricas como “Se os preços aumentam é porque existe inflação”, arriscou suas previsões dizendo que não havia petróleo no pré-sal: “O pré-sal só existe na campanha do governo.”
Já o professor fez a previsão de que não haverá interesse das empresas estrangeiras no pré-sal considerando a queda no preço do barril e disse: “Existem fortes indícios de que o preço do petróleo não vai tornar a subir aos níveis anteriores de US$ 100 o barril” e finalizou: “A realidade hoje é muito diferente da realidade que alimentou os sonhos dos últimos anos.”
Por incrível coincidência, e contrariando as previsões do professor, no mesmo dia em que seu artigo era publicado no Valor Econômico (29/07) a Petrobras informava em Fato Relevante: “Nosso Conselho de Administração aprovou em reunião realizada nesta quinta-feira (28/07) a venda da participação do bloco exploratório BM-S-8 (pré-sal) para a Statoil Brasil Oleo e Gas Ltda.” E também : “O preço base negociado para participação no B-S-8 é de US$ 2,5 bilhões” (1) E ainda : “Adicionalmente estamos negociando com a Statoil um Memorando de Entendimento, onde outras iniciativas de cooperação estratégicas serão avaliadas, com o objetivo de uma atuação de longo prazo”.
Mas que vergonha, professor. O melhor seria que o Sr. ,a Miriam e o Sardenberg parassem de fazer “previsões do passado” e muito menos de fazer “previsões do futuro”. Pelo menos no que se refere à Petrobras, fiquem calados, por favor.
Nota:
(1) O exemplo é perfeito para mostrar a muitos que equivocadamente pensam que a queda no preço do barril reduz o interesse pelo pré-sal brasileiro. Porém lamentavelmente estamos vendo nossas reservas sendo entregues a “preço de banana”. Levantamentos mostram que com esta negociação, só neste bloco B-S-8 (Carcará), a Petrobras e o Brasil estão perdendo mais de duas “Lava Jatos”. E tudo indica que este processo de lesa-pátria vai continuar. É preciso que todos liguem os alertas vermelhos no máximo, inclusive buscando na justiça a interrupção destas negociatas. O presidente da Statoil Brasil, Pal Eitrheim, está radiante: “É uma das maiores descobertas em anos recentes” disse.
*Cláudio da Costa Oliveira é economista aposentado da Petrobras.
[Publicado originalmente no site Diálogo Petroleiro, aqui]