Portal Vermelho – Por diversas questões relacionadas à economia global e à geopolítica, o barril de petróleo, que em janeiro de 2013 era vendido a US$ 113, hoje custa menos de US$ 30. Em entrevista ao Portal Vermelho, o diretor de Administração e Finanças da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Aldemir Caetano, avalia as consequências para o Brasil e a Petrobrás. E relativiza a questão.
“A queda nos preços impacta na Petrobras porque o valor internacional é menor e o custo de produção interno aqui no Brasil se mantém mais ou menos estável. Apesar de que há o destaque do pré-sal, que tem um custo de produção em torno de US$ 8 dólares. Portanto, o petróleo a US$ 27 ainda é lucrativo para a Petrobrás”, introduz.
Além disso, aponta o petroleiro, o fato de o país exportar muito pouco e consumir quase toda a sua produção, o coloca em uma posição mais favorável em relação aos preços internacionais. “Tudo o que nós produzimos, refinamos no Brasil e é consumido no mercado interno. E o derivado do petróleo está sendo vendido a um preço bem maior aqui que no mercado internacional. Isso faz com que diminua o impacto [da queda de preços] na Petrobras. Como não exportamos, não temos prejuízo com o preço internacional”, explica.
Caetano – que também integra a direção da CTB, é secretário geral adjunto da União Internacional de Sindicatos de Energia (UIS) e membro do Comitê Central do PCdoB – acrescenta que, até o ano passado, o Brasil importava cerca de 300 mil barris de derivados de petróleo. Com uma redução do consumo, verificada de lá para cá, o país tornou-se autossuficiente e não precisa mais importar. “Esse custo, o país não tem mais”, diz.
Endividamento
Nesse sentido, segundo Caetano, o grande problema da Petrobras tem menos a ver com o cenário internacional do petróleo e mais com o grande o seu endividamento. “A estatal deve hoje cerca de 500 bilhões de reais. E 75% desse endividamento é em moeda estrangeira – 70% em dólar”, detalha.
Por causa disso, com a recente desvalorização do real, a dívida da Petrobrás praticamente dobrou. “Falamos de um cenário em que o dólar saiu da casa dos dois reais, para quatro reais. A dívida então quase dobrou, em função da variação cambial. Esse é o fenômeno que coloca a Petrobrás em uma situação difícil. Não tem a ver com os preços internacionais, mas com a política cambial. Porque a dívida é em dólar, mas o Brasil paga em reais”, coloca.
O petroleiro defende a eficiência da Petrobras, lembrando que todas as metas da empresa foram cumpridas. A companhia alcançou a marca de 2,128 milhões de barris por dia (bpd) em 2015. Isso representa alta de 4,6% diante do resultado do ano anterior. “O problema é que o preço do petróleo e a taxa cambial não são favoráveis. E isso [tem impactos] para todo o mundo, não é só porque é a Petrobras”.
Remédios distintos
Caetano diz ao Vermelho que o diagnóstico dos movimentos sociais o da própria Petrobras são semelhantes. Quanto ao “remédio receitado”, há duas visões estratégicas distintas. A Petrobrás tem apontado a venda de ativos e o corte de investimentos como caminho.
No final do ano passado, a estatal confirmou a venda de 49% da Gaspetro. Já no último dia 15, o diretor financeiro empresa, Ivan Monteiro, informou que a companhia contratou um banco para avaliar também a venda da Transpetro, sua subsidiária de transportes de petróleo. Fatias da Brasken e da BR distribuidora também estariam incluídas no pacote.
“A Petrobras acha que o pagamento da dívida se soluciona com a venda de ativos. Na nossa visão, os ativos que a Petrobras quer vender são de empresas que dão retorno de caixa. A venda de gás, por exemplo, está aquecida em nosso país, tem um retorno grande. Só o faturamento da Gaspetro em 2016 será semelhante ao valor de venda. Ou seja, você está vendendo um ativo que te dá retorno quase imediato”, critica Caetano, lembrando que, como a Petrobras tem monopólio no mercado de petróleo brasileiro, inclusive de derivados, possui um mercado cativo.
A FUP vem se posicionando duramente contra a venda de ativos. Em nota, após a negociação da Gaspetro, expressou: “A venda de ativos coloca em risco a soberania nacional e compromete o maior trunfo que a companhia tem para enfrentar a crise, que é justamente o fato de ser uma empresa integrada de energia. Os desinvestimentos causam demissões em massa e paralisam setores estratégicos para o desenvolvimento nacional”.
Caetano questiona ainda a estratégia da Petrobras de priorizar o investimento nas áreas de exploração e produção. “Outra estratégia errada da companhia é manter cerca de 80% dos investimentos nessa área. Hoje o mercado mundialmente investe no refino, que é o que dá maior valor agregado”, diz.
O diretor da FUP defende ainda que, para não sofrer com as variações do dólar, a dívida da empresa deixe de ser em moeda estrangeira e passe a ser em real. Para ele, é preciso ainda que haja uma renegociação. “A dívida da Petrobrás é de longo prazo. Mais de 50% da dívida vence a partir de 2020. Temos aí, no mínimo, mais quatro anos. As dívidas que vão ser pagas em 2016, 2017, 2018 e 2019 são menores que a dívida que vence a partir de 2020. Nossa proposição é fazer uma renegociação dessa dívida e alonga-la”, defende.
Para a dívida de curto e médio prazo, ele propõe outra saída. “Dificilmente vamos fugir de uma possível capitalização, quer dizer, de o governo brasileiro, como acionista majoritário, colocar dinheiro na Petrobras, para pagar a dívida de curtíssimo prazo, recebendo isso em ações e aumento de dividendos. Quer dizer, não seria uma perda, seria uma troca”.
De acordo com ele, além de captar recursos dentro do país, junto a instituições como o BNDES e a Caixa Econômica, a empresa também poderia buscar verbas no Banco do Brics e no Banco Chinês, uma vez que a dívida é internacional.
“Do ponto de vista econômico, é o melhor momento, porque o valor da ação da Petrobras está em cerca de R$ 5. É o momento em que se vai captar mais ação com o valor mais reduzido. A indústria do petróleo é cíclica, ao longo da história do petróleo você já viu preços bem menores que os atuais, como também uma elevação de preços em níveis bem absurdos, como foi há alguns anos. Então, a médio e longo prazo, a tendência é de o valor do petróleo internacionalmente se ajustar, aumentar. E esse dinheiro da capitalização serviria para cobrir parte da dívida, principalmente a de curto e médio prazo”, sugere.
Indutora de desenvolvimento
No último dia 12, o Conselho de Administração da Petrobras divulgou ajustes no Plano de Negócios e Gestão 2015-2019. Com a revisão, a estatal passou a prever investimentos de US$ 98,4 bilhões no período, uma redução de US$ 32 bilhões em relação ao valor inicial (US$ 130,3 bilhões) – o que representa uma queda de aproximadamente 25%.
A justificativa para a correção foi a necessidade de se adequar à realidade atual, levando em conta o novo patamar do câmbio, os preços internacionais e “os objetivos fundamentais de desalavancagem e geração de valores para os acionistas”.
Caetano lamenta a decisão, que deve provocar desemprego. “Para mim, é um equívoco fazer esse tipo de ajuste. O que vai ocasionar é a diminuição do nível de emprego na cadeia produtiva. Diminui na própria Petrobras, mas, se você olhar a cadeira produtiva… Siderurgia, metalurgia, equipamentos da área de petróleo, construção de navios e de plataformas, tudo isso está sendo diminuído, com a redução de investimentos. E, consequentemente, a geração de emprego é menor. Essa é a consequência de imediato”, avalia.
Em uma hora de crise, a Petrobras poderia ter um papel de alavancar a economia, crê o petroleiro. “Estamos em um momento muito difícil, e a Petrobrás, como uma das principais indutoras do desenvolvimento nacional, não poderia deixar de investir na economia nacional”, ressalta.
O dirigente da FUP cita que, conforme estudos, a cada R$1 bilhão de reais investidos no setor, a Petrobras recupera o que foi gasto, mais R$ 800 milhões. “Isso significa dizer que 80% do investimento retorna em emprego e renda para a sociedade. Ela recupera esse bilhão e ainda gera mais 800 milhões”, indica. Para ele, manter o nível atual de investimentos ou até mesmo aumentar seria o ideal. “Porque esse problema do preço do petróleo é sazonal e a médio e longo prazo deve recuperar”, completa.