O Sindipetro-NF recebeu alguns e-mails de integrantes do corpo de técnicos de enfermagem da Bacia de Campos que registram contrariedade em relação à crônica “Um amor de enfermeiro”, do jornalista Vitor Menezes, publicada pela revista Imagem em circulação. Em respeito a estes profissionais, a entidade tem o seguinte a esclarecer:
1 – Trata-se apenas de um texto de ficção, não correspondendo, de nenhum modo, à opinião do sindicato.
2 – A crônica humorística não teve a pretensão de desestimular os homens ao cuidado com a saúde ou fazer apologia à discriminação de opção sexual. Quem assim se comporta é apenas um personagem, o “Natércio”, existente há três anos, e que é facilmente identificado pelos seus leitores como machista, cheio de manias e desconfiado. Em uma das crônicas passadas, por exemplo, ele “disse” acreditar que a gripe suína era uma invenção de laboratório apenas vender remédios. Isso de modo algum foi assimilado como verdade pelos leitores, mas somente, como deve ser, como mais uma esquisitice do Natércio que, não por acaso, se apresenta em todos os textos como sendo “crônico”, no sentido de ser problemático, exagerado.
3 – Embora não seja este o objetivo direto (que é tão somente o de fazer rir, após a leitura de temas sérios), o personagem acaba por funcionar como um anti-exemplo, e contribui para levantar assuntos e provocar reflexões sobre comportamentos e preconceitos fartamente encontrados na realidade. A repercussão da crônica apenas confirma que estes são temas delicados, e que precisam ser tratados sem tabu.
4 – Nem mesmo está muito clara a motivação das reclamações. Seria pelo fato do enfermeiro da crônica ser homossexual? Isso sim seria discriminação, passível até de denúncia do movimento gay. Porque alguém, de qualquer profissão, não pode ser representado como homossexual? Pretender um absurdo desse é extremamente homofóbico. Seria em razão de o enfermeiro ter, supostamente, passado dos limites na consulta? Novamente, registre-se que é apenas ficção. E personagens, assim como na vida real, também erram. Mas note que, no caso específico da crônica, houve o sutil cuidado de insinuar que o suposto comportamento errado do enfermeiro é coisa da imaginação do Natércio, que, como dito anteriormente, é um sujeito desconfiado e cheio de manias. O próprio médico da história defende o enfermeiro, diz que está tudo certo, só Natércio não acredita. Finalmente, seria em razão de Natércio não gostar de consultas médicas? Ou não gostar de gays? Ou ser machista? É uma ficção plausível, afinal esse não é um tipo muito difícil de encontrar. Não estaria o personagem justamente contribuindo para discussão destes preconceitos ao comportar-se desta forma? Além disso, já pensou se o genial Nelson Rodrigues nunca pudesse ter escrito um personagem machista? Ou se Machado de Assis não pudesse ter escrito a história de um dos mais famosos traídos da literatura brasileira? Ou se Sherlock Holmes não encontrasse assassinos para perseguir?
5 – A mesma revista, que veicula a crônica humorística do jornalista, trata de temas como a participação das mulheres na luta por igualdade, os riscos químicos, o combate ao trabalho escravo, a luta pelas 40 horas, entre muitos outros. Estes sim são assuntos que refletem claramente o que o sindicato defende e os temas que prioriza.
6 – O personagem “Natércio” já foi retratado envolvido em outros assuntos polêmicos, como a relação entre novos e antigos na Petrobrás, as agruras das esposas de embarcado quando vão ao mecânico, o comportamento consumista, ou a possibilidade de ter uma amante em local de trabalho. Tudo sempre foi entendido na sua dimensão adequada: a de que trata-se de ficção e de humor.
7 – Quando da criação da seção na revista Imagem, integrantes do Departamento de Comunicação do Sindipetro-NF discutiram internamente sobre a conveniência ou não de ter uma coluna humorística na publicação. Havia dúvida se a categoria confundiria o texto com opinião do sindicato. Optou-se por acreditar que esta diferença seria reconhecida, o que se comprovou com o passar do tempo. Esta é a primeira vez que a entidade recebe e-mails que retratam alguma confusão na assimilação da presença do personagem na revista.
8 – Não se faz humor sem caricaturas. Exagera-se nos estereótipos, nas manias e nas histórias engraçadas de cada tipo, independentemente de serem pertinentes ou não. Qualquer um, de qualquer profissão, é passível de ser retratado humoristicamente. Saber rir de si mesmo é mostra de inteligência. Não é por acaso que o homem é o único animal que ri. É por isso que produziu cultura, desenvolveu linguagem e organizou uma sociedade complexa.
9 – O sindicato acolhe democraticamente as críticas recebidas e lamenta que a crônica humorística tenha causado algum desconforto aos profissionais que se manifestaram, reiterando a sua posição histórica contrária a qualquer tipo de discriminação e em defesa da livre circulação de opiniões e manifestações artísticas.
10 – A entidade reitera, ainda, o seu profundo respeito e apreço a todos os profissionais de saúde, essenciais para a sociedade e particularmente fundamentais em uma atividade repleta de riscos e ameaças como a petroleira. A contribuição destes profissionais é fartamente reconhecida e valorizada por toda a categoria e pelo seu sindicato, como demonstra a extrema prioridade com que trata o Sindipetro-NF os temas relacionados à saúde e à segurança.
Diretoria Executiva do Sindipetro-NF
Macaé, 03 de Maio de 2010.