As diretrizes de SMS… e os fatos

Circula hoje nas bases do NF edição especial do Nascente que faz um balanço da política de SMS da Petrobrás. A publicação compara as diretrizes de SMS com a prática da empresa, e atesta que continua crônica a situação de insegurança dos petroleiros.

 

Confira:

 

AS DIRETRIZES DE SMS…E OS FATOS

 

1. Liderança e Responsabilidade

 

– Um acidente aéreo como o do dia 26 de fevereiro, que matou cinco trabalhadores, após várias denúncias de panes e após dois outros grandes acidentes com mortes, com a BHS, demonstra que faltou liderança e responsabilidade para reagir de forma eficaz.

 

– A decisão de manter as comemorações para os 30 anos da Bacia de Campos poucos dias após o falecimento do trabalhador terceiri- zado Walmar Santos Montesdioca, em PNA-2, em agosto de 2007, leva a acreditar que a liderança da Bacia de Campos considera a morte como parte do negócio.

 

– A decisão de permitir que a “via crucis” do hidrojateador Vlaleivan, acidentado na P-07, continue, demonstra falta de compromisso da liderança com a responsabilidade da Petrobrás como contratante do serviço. A Odebrech cortou o plano de saúde do trabalhador após constatar que o sindicato movia ação contra ela, a Petrobrás e a Ecoblast. A empresa age como se não tivesse respon- sabilidade nas não-conformidades constatadas na operação que estava sendo realizada no momento do acidente, nem com as condições como o trabalhador foi atendido, tendo sido suturado com perfurações profundas no abdômen. Há três anos este caso é citado no boletim anual P-36.

 

2. Conformidade Legal

 

– A interdição ocorrida no hangar da BHS, em 29 de fevereiro, feita pela DRT por ter encontrado várias irregularidades, demonstrou que esta contratada da Petrobrás não trabalhava em conformidade legal. Um DIP da empresa chega a afirmar que o hangar está de acordo com os padrões da companhia, que parece não serem iguais aos dos fiscais do trabalho.

– A operação “Águas Profundas” da Polícia Federal revelou o festival de não-conformidades legais de contratos de prestação de serviços em plataformas no estaleiro em Angra dos Reis.

 

3. Avaliação e Gestão de Riscos

 

– A avaliação e a gestão para riscos, em vôos na Bacia de Campos, falhou por não conseguir detectar e agir preventivamente em relação a mais uma tragédia com uma aeronave da BHS. A grande quantidade de incidentes registrada pelos trabalhadores em denúncias ao sindicato e no preenchimento do documento de comunicação formal apontava para a ocorrência do acidente.

 

– Em três plataformas, ao longo de 2007 e em 2008, como denunciou o sindicato, houve transbordo diário de trabalhadores para alojamento em rebocadores, expondo, de forma discriminatória, os trabalhadores terceirizados aos riscos da operação. Somente com a intervenção da DRT e do sindicato as situações foram revertidas.

 

4. Novos Empreendimentos

 

– O planejamento de expansão das atividades da Petrobrás com a entrada de novas unidades marítimas em operação não considerou os impactos no transporte aéreo, deixando os dois pontos de apoio (Aeroporto de Macaé e Heliporto de Farol de São Tomé) completamente sobrecarregados. A entrada em operação prevista para o novo aeroporto em Farol de São Tomé somente em 2009 demonstra que não houve planejamento para o empreendimento.

 

– O Sindipetro-NF noticiou várias vezes o caos no saguão do aeroporto de Macaé. A entidade foi convidada para lançar a pedra fundamental de uma obra que tinha o objetivo de acabar com os tumultos. A obra deveria ficar pronta em outubro e só agora está sendo iniciada.

 

5. Operação e Manutenção

 

– As várias denúncias de panes em aeronaves e as condições encontradas no hangar da BHS demonstram falta de compromisso com esta diretriz.

 

– A operação da plataforma P-52 com vazamentos de gás, e sem funcionalidade dos equipamentos imprescindíveis à segurança da unidade, foi denunciada pelos trabalhadores e levada pelo sindicato à DRT. Trata-se, portanto, de uma plataforma recém saída do estaleiro que era operada sem compromisso com saúde e segurança. Não fosse a coragem e o compromisso dos trabalhadores que denunciaram as irregularidades, e as atuações da DRT e do sindicato na cobrança de correções, poderíamos ver repetidas as cenas parecidas com as de sete anos atrás com a P-36.

 

6. Gestão de Mudanças

 

– O aumento do número de pousos e decolagens para atendimento das unidades marítimas, que vem sobrecarregando de forma crescente os dois pontos de apoio hoje existentes (aeroporto de Macaé e Heliporto do Farol), precisa de solução imediata. O sindicato critica a falta de otimização dos vôos para reduzir esse impacto, e dá como exemplo os vários transbordos e embarques curtos que são realizados.

 

7. Aquisição de Bens e Serviços

 

– A manutenção do contrato com a BHS, que em sua operação nos últimos cinco anos provocou 15 mortes, um desaparecimento e deixou dois petroleiros em estado grave de saúde, demonstra que a aquisição de serviços e sua fiscalização não estão comprometidas com a segurança e a saúde.

 

– Entre outros vários relatos de problemas em aeronaves, o sindicato publicou no Espaço Aberto do Nascente 512, em julho de 2007, o relato de passageiros de um vôo da Aeróleo em que denunciavam vazamento de óleo no teto e trepidações.

 

8. Capacitação, Educação e Conscientização e 11. Contingência

 

– Os relatos das dificuldades enfrentadas pelos valorosos tripulantes de bote resgate e baleeira a bordo da P-18 para realizar o resgate durante o acidente com o helicóptero em 26 de fevereiro, demonstra falta de capacitação técnica que deveria ser provida pela Petrobrás.

 

– A política punitiva adotada com a implantação do GDPSO até o fechamento do ACT mostrou falta de compromisso com a educação e a conscientização, com a preferência por caminhos truculentos que só pioram os ambientes de trabalho e geram condições para que mais acidentes aconteçam.

 

9. Gestão de Informações 13. Análise de Acidentes e Incidentes

 

– O sindicato recebeu mais de uma denúncia de que ocorreu uma pane com a mesma aeronave 15 dias antes do acidente. A Petrobrás e BHS negam esta informação.

 

– Em junho de 2007 o sindicato denunciou um incêndio ocorrido em contêiner na P-9 para o qual não havia sequer o “registro para tratamento de anomalia”, o documento da Petrobrás que formaliza a análise de acidentes e incidentes.

 

– O sindicato insiste que há diversos casos de subnotificação de acidentes na Bacia de Campos e denunciou com destaque, no Espaço Aberto do Nascente 496, em março de 2007, a história de um técnico de segurança que reconheceu a subnotificação em seu próprio caso.

 

10. Comunicação e 12. Relacionamento com a Comunidade

 

– O tempo entre a ocorrência e a primeira nota da Petrobrás admitindo o acidente do último dia 26, com a informação de que havia vítimas fatais, demonstra falha na comunicação e no relacionamento com a comunidade nas ocorrências de SMS.

 

15. Processo de Melhoria Contínua

 

– O Sindicato participou de várias comissões de análise de acidentes aéreos e algumas de suas sugestões não foram implementadas: como a não adoção de uma vestimenta para embarque e desembarque, que motivou o sindicato a lançar campanha de distribuição de camisas laranja e a falta de comissário em aeronaves super-puma em Farol de São Tomé. Uma das que foram atendidas  a retirada de bancos dos modelos S-76, com objetivo de permitir fuga rápida em casos de emergência não está sendo respeitada e os bancos foram recolocados.

 

– Uma reivindicação que já se tornou histórica do sindicato, de dar autonomia para técnicos de segurança e enfermagem, ainda não foi atendida. A UN-BC caminhou na direção contrária ao acabar com o CADO e dar ao geplat a última palavra sobre o registro de acidentes com ou sem afastamento.

Imprensa do NF – 13/03/08