[Imprensa FUP] A Bacia de Campos, atualmente a segunda maior região produtora de petróleo do Brasil, registrou em junho a sua menor produção média dos últimos 10 anos – e provavelmente uma das menores de sua história desde que se consolidou como um grande polo produtor do país. De acordo com o Painel Dinâmico de Produção da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção média de Campos foi de 719,37 mil barris/dia (b/d) no mês passado, 30 mil barris diários a menos do que o registrado em março, de 749,35 mil b/d, o pior número até então.
Quando se desdobra o volume produzido por operadora, comprova-se que a Petrobrás é a principal responsável pela queda. Em junho, a estatal produziu na Bacia de Campos 613,33 mil b/d – 53 mil barris por dia a menos do que produziu em março (666,56 mil b/d), também seu pior desempenho até então. Já as demais petroleiras que operam na bacia atingiram em junho sua maior produção neste ano, de 106,04 mil barris diários. Entretanto, o número não foi suficiente para evitar a perda. Por mais que a Bacia de Campos seja madura e, assim, espere-se redução de sua produção, levantamento do economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos/subseção Federação Única dos Petroleiros (DIEESE/FUP), mostra que a queda abrupta dos volumes tem relação direta com a drástica redução dos investimentos da Petrobrás na região. Se em 2013 a estatal investiu US$ 9 bilhões em Campos, o valor foi reduzido para US$ 3,46 bilhões em 2018 e, segundo informações da própria Petrobrás, deve ficar em US$ 2,6 bilhões anuais de 2021 a 2025 – ou seja, menos de um terço do pico de oito anos atrás.
Além de diminuir investimentos, a Petrobrás continua vendendo vários campos produtores na região. A empresa e alguns agentes do mercado argumentam que a venda vai ampliar os recursos investidos, mas, novamente, os números não comprovam isso. O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) aponta que PetroRio, Perenco, Trident Energy, BW e Dommo – que adquiriram áreas da Petrobrás – vão investir juntas US$ 2,6 bilhões ao todo para produzir petróleo na região. Valor que não compensa a redução feita pela Petrobrás desde 2013.
“Obviamente, por se tratar de campos considerados maduros, haveria uma diminuição ao longo dos anos da produção, além da suposta ‘concorrência’ de recursos com a exploração do pré-sal na Bacia de Santos. Contudo, a velocidade e o tamanho da queda só podem ser explicados com um posicionamento político/estratégico de desmonte da Petrobrás na Bacia de Campos. Essa redução da produção e dos investimentos pode ser vista também nos casos concretos dos campos e das plataformas. Mesmo os campos mais produtivos, com grande potencial exploratório, passaram por grandes reduções, como os casos de Roncador e dos campos de Marlim”, aponta relatório do Ineep.
“Por serem campos maduros há uma necessidade de investimentos chamados de secundários, que viabilizam a produtividade e lucratividade dessas áreas e são utilizados historicamente na Bacia de Campos e em diversas regiões do mundo, como no Golfo do México e no mar do norte na Noruega. Portanto, diferentemente da Bacia de Santos, com novos campos do pré-sal, a queda dos investimentos em Campos não poderia ser justificada por final da gestão de nova exploração, dado que a maioria desse investimento é secundário, portanto continuado”, reforça o documento.
PRÉ-SAL TAMBÉM REGISTRA MENOR VOLUME EM NOVE ANOS
Mesmo considerando apenas o pré-sal, que vem recebendo os maiores investimentos da Petrobrás, a produção da Bacia de Campos em junho foi a menor dos últimos nove anos. O volume médio registrado foi de 94,86 mil barris por dia de óleo do pré-sal. Desde outubro de 2012, a Bacia de Campos não registrava produção menor que 100 mil barris diários de óleo do pré-sal.