Bacia de Campos registra nova queda de produção em março

Para defender sua atual política de venda de campos de petróleo e gás natural na Bacia de Campos, a gestão da Petrobras argumenta que os novos operadores teriam mais capacidade de incrementar os volumes dessas áreas, consideradas maduras, ou seja, com grande volume já produzido. Para tornar os campos ainda mais atraentes aos investidores privados, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ainda reduziu de 10% para 5% a alíquota de royalties a ser paga pela produção incremental.

Entretanto, algumas das empresas que compraram ativos da Petrobras na região não estão correspondendo a essa promessa, e os números de março comprovam isso. Se em 2020 a região já registrou a menor produção deste século, os volumes de petróleo produzidos nos meses de fevereiro e março deste ano foram ainda menores que o registrado em abril do ano passado, mês subsequente à decretação da pandemia de Covid-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que derrubou a produção de óleo e gás em todo o planeta, pelo freio no consumo.

De acordo com dados do Painel Dinâmico de Produção de Petróleo e Gás Natural da ANP, a produção de petróleo na Bacia de Campos foi de 749,3 mil barris diários em março, 10,7% menor que os 839,9 mil barris diários de abril do ano passado. Na comparação anual (março de 2020), a queda foi ainda maior, de 23,5%, sobre 979,8 mil barris por dia (bpd).

 

 

Queda de produção em março

A produção de petróleo na bacia já tinha caído abaixo dos 800 mil barris diários em fevereiro. No mês, o volume produzido foi de 785,8 mil bpd. Março, porém, conseguiu ser ainda pior, com queda de 8% sobre a produção – já baixa – do mês anterior.

Não se pode ignorar que a Petrobras é a maior responsável pela queda da produção em Campos. Afinal, a política da empresa está focada quase que exclusivamente no aumento da produção no pré-sal da Bacia de Santos, cujos volumes crescem constantemente. Com isso, os investimentos da empresa em Campos vêm sendo reduzidos ano a ano, além da venda de ativos na região.

Entre janeiro e março deste ano, a Petrobras reduziu sua produção na Bacia de Campos em 13,7%, passando de 675,8 mil bpd para 582,7 mil bpd. Mesmo em abril do ano passado, seu pior mês em 2020, a petroleira produziu 645,3 mil barris diários. Ou seja, houve redução de 9,7% entre a produção de março deste ano e abril do ano passado.

Porém, petroleiras privadas, inclusive as que compraram campos de óleo e gás da Petrobras, também registraram queda no período comparativo – e percentualmente ainda maior que a da estatal. Em abril do ano passado, os demais concessionários da Bacia de Campos somaram uma produção de 194,6 mil bpd. Já em março passado, esse volume caiu para 166,6 mil barris diários, menos 14,3%.

Um exemplo é a Trident Energy, que adquiriu da Petrobras os polos Pampo e Enchova, formado por dez campos de produção, e assumiu a operação das áreas em julho de 2020. Em março, a Trident Energy produziu 11,716 bpd de petróleo, ante 23.141 no mês anterior – queda de quase 50%. Em janeiro, a petroleira registrou produção de 20.236 bpd. Ou seja, houve ganho entre janeiro e fevereiro que não se sustentou em março.

Empresas privadas deixam a desejar

Quando a Trident assumiu a operação dos dois polos, produziu, em julho, 26.973 bpd de petróleo. Já no mês seguinte, o volume caiu para 23.710 barris diários, chegando a 18.838 barris por dia em outubro. Em dezembro o volume produzido pela petroleira foi ainda menor que o de março – foram 9.941 bpd –, mas foi nesse mês que a ANP interditou plataformas da companhia por problemas de segurança, o que explica a brusca redução.

Em seu site, a Trident Energy diz ter um “plano ambicioso de aumentar a produção de Pampo-Enchova para mais de 40.000 barris de petróleo por dia”.

Mas a baixa na Bacia de Campos não se deu apenas com a Petrobras e empresas que compraram seus ativos. A norueguesa Equinor, operadora do campo de Peregrino, interrompeu no ano sua produção de 60 mil barris diários na área após problemas no riser. A previsão era retornar com a produção em dezembro passado, mas até o momento isso não ocorreu.

Em relação ao gás natural a situação não foi diferente. Em março, a produção da Bacia de Campos foi de 14.138 metros cúbicos por dia, ante os 15.940 m3/dia registrados em abril de 2020 – também o pior mês na extração do energético na região.