Da Rede Brasil Atual – O PT, do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que terminou em primeiro lugar no 1º turno presidencial, ampliou sua bancada na Câmara dos Deputados nesse domingo (2). Sozinho, o partido deverá ter pelo menos 68 cadeiras. E subir dos atuais 56 assentos para 80, ao todo, por meio da federação Brasil da Esperança com PCdoB e PV.
Os dados, no entanto, ainda são parciais e só serão fechados com a apuração de 100% das urnas no Amazonas, que pode alterar a composição da bancada no estado. Mas o resultado já é considerado o melhor da legenda desde 2014, quando o Partidos dos Trabalhadores também elegeu 68 deputados na reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
No campo progressista, a federação composta por Psol e Rede Sustentabilidade, também aumentou o número de representantes, elegendo quatro deputados a mais do que tem hoje. Os dois partidos terão 14 deputados na Câmara a partir de 2023. O crescimento foi puxado pela votação expressiva do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. O candidato do recebeu 1,01 milhão de votos, angariando o posto como o deputado federal mais votado em São Paulo e o segundo no país.
Crescimento da direita
Por outro lado, a grande força da 57ª Legislatura será do PL, o partido do atual presidente Jair Bolsonaro que, por sua vez, terminou em segundo lugar na disputa pela reeleição. A legenda deverá eleger pelo menos 98 deputados federais, o melhor desempenho de um partido em 24 anos. Até 1998, apenas PSDB e PFL haviam conseguido eleger 105 e 99 deputados, respectivamente. O deputado federal mais bem votado do país, com 1,47 milhão de votos, Nikolas Ferreira (MG), também faz parte da sigla que terá a maior bancada na Casa.
O cálculo é que os liberais terão praticamente um em cada cinco votos. O total de urnas apuradas também indica uma redução do PP na Câmara dos Deputados. Em 2018, o partido do atual presidente do Legislativo, Arthur Lira (AL), reeleito neste domingo, conseguiu eleger 37 nomes dentro de uma bancada com 58 deputados. Para o próximo ano, o PP contará com 47 deputados federais. No próximo ano, o PSD também terá quatro parlamentares a menos, assim como o Republicanos, que perdeu dois. O campo progressista também tem baixas com 10 cadeiras a menos para PSB e dois parlamentares a menos no PDT do presidenciável Ciro Gomes.
Essa é também a primeira eleição para a Câmara dos Deputados sem coligações, o que impediu candidatos de serem “puxados” por outra legenda sem um bom desempenho mínimo.
Análise
Em seu Twitter, o cientista político e historiador Christian Lynch analisou a nova composição da Câmara dos Deputados como uma virada muito mais à extrema direita e com o PT como contenção. “PT elegeu mais vinte deputados e ampliou a bancada no senado. Seu candidato não levou no primeiro turno por 1.7 ponto. Não parece tão mau pra esquerda. O centro é que parece estar mirrando diante de uma direita atrevida e uma extrema-direita”, observou Lynch.
A estimativa é que, se eleito, Lula tenha 138 deputados na base de apoio, considerando 10 partidos de apoio e o PDT. Já os chamados partidos do “centrão” e da direita terão 273 deputados federais.
Confira mais resultados
Eduardo Bolsonaro é reeleito com menos da metade dos votos de 2018
Deputado federal mais bem votado por São Paulo em 2018, o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), não viu repetir o resultado nas eleições deste domingo. Ele foi reeleito com menos da metade dos votos que conquistou há quase quatro anos, somando 741 mil votos. Eduardo Bolsonaro ainda perdeu a colocação para o candidato Guilherme Boulos (Psol).
Boulos foi seguido por Carla Zambelli (PL), que obteve cerca de 945 mil votos. Em terceiro ficou o filho do presidente da República, acompanhado, na sequência, pelo ex-ministro bolsonarista Ricardo Salles, com 640 mil votos.
Mulheres indígenas e trans eleitas
O mesmo estado, porém, elegeu ainda sua primeira federal indígena, Sônia Guajajara (Psol), eleita com mais de 156 mil votos. Em outro feito inédito, duas mulheres trans também ocuparão cadeiras na Câmara dos Deputados no próximo ano. É o caso das candidatos Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).
Vereadora da cidade de São Paulo, Erika Hilton recebeu quase 257 mil votos. O resultado a colocou como a 9ª parlamentar mais votada no estado e a mulher mais votada entre as candidatas do Psol. Já Duda Salabert, que é também vereadora em Belo Horizonte, alcançou mais de 208 mil votos. A nova deputada federal ficou em terceiro na disputa estadual, atrás somente de Nikolas Ferreira e André Janones (Avante).
Minas também elegeu sua primeira deputada federal indígena, com Célia Xakriabá (Psol). Com apoio da atual deputada federal Áurea Carolina, que não se candidatou a um segundo mandato, Célia recebeu mais de 101 mil votos.
Bolsonaro só elege Mário Frias na cultura
O ex-secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, Mario Frias foi o único dos candidatos da área do presidente da República que conseguiu se eleger para o Legislativo. Frias obteve mais 122 mil votos em São Paulo para deputado federal, mas não levou seu número dois na pasta, André Porciuncula. Também não foram eleitos o ex-presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, e o ex-secretário da área de direitos autorais do governo, Felipe Carmona.
No entanto, símbolos da Lava Jato conseguiram uma cadeira na Casa. Como é o caso de Rosangela Moro (União Brasil), mulher do ex-juiz e ex-ministro bolsonarista Sergio Moro. Em sua primeira disputa eleitoral, ela registrou 217 mil votos em São Paulo. Moro também foi eleito senador pelo Paraná. O ex-chefe da força-tarefa da operação, Deltan Dallagnol também recebeu 344 mil votos para assumir o próximo mandato da Câmara.
MST conquista duas cadeiras
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também conseguiu eleger seis candidaturas para cargos no Legislativo neste domingo. Duas delas, Valmir Assunção (PT-BA) e Marcon (PT-RS) ocuparão as cadeiras na Câmara dos Deputados em 2023. Essa é a primeira vez que o movimento postula candidaturas coordenadas pela direção nacional do MST.
Filho de agricultores familiares, Valmir foi reeleito com mais de 90 mil votos. Na militância desde a juventude, o deputado federal participou das primeiras lutas do MST na Bahia e é um dos responsáveis pelo trabalho de base, organização das famílias e ocupação de latifúndios na região. Já Marcon assumirá pela segunda vez o cargo, com apoio de mais de 122 mil eleitores. O primeiro mandato do sem-terra foi em 2010 em Brasília, onde apresentou mais de 180 projetos, além de implementar o Orçamento Participativo nas Emendas Parlamentares. Novamente no cargo, ele promete atuar em prol dos trabalhadores do país.
[Com informações dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo e Agência Câmara de Notícias – Foto: Agência Brasil / Antônio Cruz]