Gerson Castellano, petroquímico, integrante da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e um dos operários demitidos no ano passado, critica a tomada de decisão da empresa, que revelou despreparo e falta de visão sobre o papel do poder público. No fundo, como alerta, o aumento de preços vai impactar a população mais pobre.
Brasil de Fato Paraná. Em fevereiro de 2020, a Petrobras, durante o governo Bolsonaro, fechou a principal planta produtora de fertilizantes nitrogenados do Brasil. Após o país se tornar dependente do insumo, agora Bolsonaro sinaliza risco de desabastecimento. Como vocês miram essa situação?
Gerson Castellano. Foi uma opção que fez a Petrobras, por meio do governo federal, e sua gestão indicada, de que deveria sair deste ramo. Nós avisamos, em audiência pública, avisamos via imprensa. Eles já haviam arrendado as unidades de Bahia e Sergipe. Não conseguiram vender Araucária e Mato Grosso do Sul e optaram por fechar Araucária. Então, nós denunciamos a todo momento sobre o risco que a gente correria, uma vez que todos os países que importamos são países que ficam no hemisfério norte e que, evidentemente, eles fazem essa ureia a base de gás, o que é usado para mover veículos e aquecer as casas. Com um impacto energético como esse agora, nós sofreríamos impactos sobre isso, com importação mais cara e mais difícil, uma vez que esses países priorizariam o consumo interno do gás para aquecimento e para fazer fertilizantes para eles.
O que fundamentou as decisões da empresa e do governo para fechar mais de mil postos de trabalho e passar a importar fertilizantes de outros países?
O prejuízo de produzir fertilizantes a base do resíduo asfáltico de Araucária. Como eles não tinham incorporado a empresa ainda, eles faziam uma transação comercial que prejudicava esse valor do resíduo asfáltico. Cotado a preço internacional, mas o governo leva em conta unicamente a questão econômica e não a questão estratégica, em relação a não termos produto ou ficarmos dependentes desse mercado externo, o que sempre alegamos é que uma estatal tem uma função estratégica, que extrapola mercado e lucro. A estatal pode ter prejuízo se a sociedade como um todo estiver ganhando. Este é o papel do Estado, fazer com que a sociedade tenha o que precisa e seja atendida, e neste caso é comida. Na live, Bolsonaro fala sobre a questão da China reduzir a produção pela crise energética, dizendo que se pode reverter isso explorando fosfato e potássio em regiões indígenas. Primeiro, mostra a má-fé dele, segundo: a China deixar de produzir fertilizantes, evidente que deixará de produzir nitrogenados de mineração e não o petroquímico. Bolsonaro agrega todas as qualidades de um grande imbecil, ele confunde as coisas e fala mentiras a todo momento. O que estamos falando hoje é de redução de produção de nitrogenados.
Sem abastecimento desse insumo, quais podem ser as consequências previstas para o país? E para a agricultura?
Difícil mensurar quais são os impactos, até porque a agronegócio vai repassar esses preços para a sociedade. Muitas culturas que dependem de ureia, caso do milho feijão, batata e trigo. Você tem as commodities internacionais, falo de milho e soja, que não dependem tanto da ureia, vão sofrer com isso. Não acredito que vamos ficar sem, mas os preços vão subir e muito, aumento de preços na ponta para o consumidor.
Como a FUP e os sindicalistas da antiga Fafen pensam em retomar o tema e a campanha contra o fechamento da Fafen?
Tensionamos para que a Fafen volte a funcionar. E não só. Que concluam a construção da Fafen Mato Grosso do Sul. Que a gente consiga retomar a produção, recontratando quem foi demitido de forma injusta, a FUP continua em cima, o Sindiquímica também, para que essa unidade continue a funcionar, referência internacional, que produz ureia a base de resíduo asfáltico, sofrendo menos impacto por conta do preço do gás. Evidente que tem um preço atrelado ao mercado internacional, o que só vai ocorrer caso a Petrobras queira, então ainda temos resíduo asfáltico, que pode ajudar a produção. Evidentemente precisa voltar a fábrica no Mato Grosso do Sul, mão de obra ainda disponível, porque desempregada em empregos e subempregos.