Categoria terá cenário difícil e precisará de muita mobilização e luta para avançar nas negociações do Acordo Coletivo

Delegados e delegadas discutiram, em mesa com enfoque econômico e social, durante o 21° Congrenf (Congresso dos Petroleiros do Norte Fluminense), como avançar em conquistas em meio à precarização. O economista Carlos Takashi, do Dieese, e o advogado Carlos Eduardo Pimenta, que assessoram o Sindipetro-NF, contribuíram com os debates com a apresentação de elementos de conjuntura do país e da Petrobrás. A mesa foi mediada pela diretora sindical Jancileide Morgado e pelo diretor sindical Guilherme Cordeiro.

“A minha contribuição traz vários elementos para tentar ajudar na negociação coletiva. Nesse grupo, o principal são as pautas que vão ser levadas para a negociação do Acordo Coletivo do Sistema Petrobrás, e essas pautas vão ser levadas para a Plenária da FUP, ainda tem que passar pela Plenafup até virar realmente uma pauta que vai virar pauta de reivindicações”, explica Takashi.

O economista pontuou ainda que há também as “pautas importantes que passam por fora do ACT, por exemplo: o pessoal de Cabiúnas, sempre fala da questão da incorporação, que não é uma questão de Acordo Coletivo. É bom distinguir isso”.

Takashi apresentou dados que apontam para uma conjuntura difícil nas negociações com a Petrobrás, que traz elementos como uma tendência de aumento global da produção de petróleo, maior do que a demanda, o que provoca um viés de baixa do preço do barril do petróleo. Companhias petroleiras e prestadoras de serviço devem ter lucros menores.

Outro dado conjuntural é o de que, no Brasil, com o terceiro governo Lula, a tendência é de continuidade e até de elevação nos investimentos no setor em 2025, o que levará as empresas a argumentarem que estão com menos recursos em caixa para atender às demandas dos trabalhadores.

O governo também enfrenta a questão do cumprimento do arcabouço fiscal, o que manterá importantes o pagamento de dividendos da empresa ao próprio governo, seu maior acionista. Além disso, a inflação deve se manter entre 5% e 6%, e as negociações em cursos, acompanhadas pelo Dieese, já demonstram uma tendência de resistência das empresas a conceder reajustes com ganhos reais.

Por outro lado, de modo positivo para a luta dos trabalhadores, o mercado de trabalho petroleiro continua aquecido no estado do Rio de Janeiro, o que confere um maior poder de pressão da categoria por mais valorização, especialmente nas empresas do Setor Privado.

Carlos Eduardo destacou que, na discussão das reivindicações dos trabalhadores, “a ideia não é mais quantidade, é mais qualidade, para defendê-las na atual conjuntura no Acordo Coletivo”.

Ele deu como exemplos algumas das pautas que vão continuar a exigir grande empenho e mobilização da categoria: “a gente vem recentemente da discussão do teletrabalho, que ainda vai gerar repercussão no Acordo Coletivo, eu acho que esse é um grande foco. E a gente tem uma demanda muito reprimida do pessoal que é a questão do banco de horas, além da recente do saldo AF”.

O advogado também pontuou que o assessoramento jurídico vai até um certo ponto, mas a luta é feita essencialmente com a mobilização. Esse aspecto também foi lembrado pelo diretor do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, que lembrou a importância do cenário político a cada negociação.

“A gente tem uma missão muito importante esse ano. Temos um desafio porque ano que vem é eleição, e eleição é isso: se está favorável para os trabalhadores, o jogo é um, se não está, o jogo é outro. A gente vai ter que refletir sobre essa questão, porque se formou um discurso dentro da Petrobrás, na alta gestão da empresa, de que nós precisamos cortar, chegou também às subsidiárias, e naturalmente a gente não está fora dos cortes, só que não dá para aceitar corte para o trabalhador e o acionista estar lá faturando R$ 70 bilhões”.

A mobilização e a pressão política serão essenciais para enfrentar, internamente, na Petrobrás, uma gestão que não tem demonstrado abertura satisfatória para o diálogo com o movimento sindical e ainda preserva uma visão de austeridade que pune, preferencialmente, os empregados e empregadas.