O terceiro dia de Congrenf iniciou com uma palestra da Doutora em Ciência Política e Professora na UFABC – Universidade Federal do ABC, Tatiana Berringuer, sobre o papel do Brasil na atual conjuntura internacional, que tem seu auge com a pandemia, mas que se inicia com as transformações na política internacional que o século XXI apresenta.
Sobre o papel do Estado, Berringuer afirma que o estado Brasileiro se coloca na escala mundial entre os cinco maiores, entretanto sua posição na estrutura de poder internacional, na divisão internacional do trabalho, é de um estado dependente do imperialismo, leia-se aí os Estados Unidos.
Ela conta que o Brasil em alguns momentos enfrenta o neoliberalismo em outros, acaba abandonando o desenvolvimento interno em prol de políticas neoliberais. Berringuer frisa que essa política de subserviência é vista nos anos 90 e replicada atualmente pelo Governo Bolsonaro.
Na análise de Berringuer, nos governos Lula, as relações foram de maior enfrentamento por parte do governo brasileiro ao imperialismo com protecionismo seletivo, através da política de conteúdo local, compras governamentais e financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), exportação de manufaturas e comoditties. Nesse período houve um reposicionamento do Brasil no mercado internacional com a negociação com estados dependentes, por exemplo com os Brics (China, Índia e Rússia).
Tatiana Berringer afirma que a descoberta do pré-sal colocou o Brasil numa posição de destaque no mercado internacional e visto como uma ameaça para os EUA.
A partir do Golpe com o Governo Temer e agora com Bolsonaro há um retrocesso para a política neoliberal, com ameaça inclusive à soberania nacional, ao assumir uma postura passiva e submissa em relação aos Estados Unidos, leia-se governo Trump. Como exemplo Tatiana cita a cessão da base de Alcântara no Rio Grande do Norte aos americanos.
Lembra também a postura do Ministério das Relações Exteriores que questiona inclusive as organizações mundiais como a ONU e os acordos internacionais nas áreas ambiental e de direitos humanos utilizando o argumento que ferem a soberania nacional e a independência dos países.
Comenta que o atual governo defende aliança pautada numa visão chamada ocidentalismo baseada na fé, Deus e na família. “O neofascismo, ao invés de um nacionalismo que defende a soberania do Estado, passa a defender um nacionalismo transnacional com o governo Trump, Israel e etc” – explica.
Com a China o atual governo assume uma relação racista, vista na origem da epidemia, e uma tendência à ruptura, mas por conta da dependência econômica sofre pressão da burguesia interna e tende a não romper esses laços. Esse quadro se trona complexo, quando os EUA coloca inclusive impedimentos tecnológicos ao Brasil, como o acesso à tecnologia do 5G.
Tudo isso acontece no meio de uma pandemia, onde a saída para essa crise se baseia em acordos multilaterais pelo fortalecimento da Organização Mundial da Saúde, da quebra da patente das vacinas e o Brasil se coloca numa posição de enfrentamento a tudo isso.
Na visão de Berringuer, diante da ameaça à soberania, passividade e dependência econômica externa que está colocada se faz necessário pensar qual é o projeto das classes populares no sentido de reorganizar a esuerda, que deve ser pautado na política externa de Cooperação com os estados latinoamericanos e de enfrentamento ao imperialismo.