Em exposição aos delegados e delegadas do XVI Congrenf, nesta tarde, o economista e técnico do Dieese na FUP, Cloviomar Cararine, fez uma análise do comportamento atual da gestão da Petrobrás em relação ao negócio do petróleo e aos trabalhadores. Os apontamentos feitos pelo palestrante subsidiam a organização da categoria para a Campanha Reivindicatória.
Cloviomar mostrou como a política da empresa está assentada em gerar riqueza por meio do retorno máximo, e em curto prazo, do capital investido. Por isso, fez opções por focar na produção do pré-sal — “colocando todos os ovos em apenas uma cesta” —, na exportação de óleo cru, aproveitamento do que ainda resta do parque de refino para atender a um mercado mais próximo de derivados do petróleo, e venda de ativos.
Ainda nesta política de obtenção de lucro máximo em tempo mínimo, a empresa tem realizado uma tentativa infrutífera de redução de custos com dívidas, revisão para baixo dos valores dos contratos com terceirizadas (o que tem provocado queda de salários entre os trabalhadores destas empresas), redução de custo com pessoal próprio, promoção de uma “transformação cultural” entre os petroleiros (com a adoção, por exemplo, do conceito de “colaborador” e mudanças na política de remuneração, cada vez mais individualizadas e punitivas, baseadas na “meritocracia”), e reduzido o seu investimento em meio ambiente e produção de energia com fontes renováveis.
Este lado da moeda, que mostra como a Petrobrás tem procurado gerar lucro, confirma a perversidade do outro, sobre como ela distribui esse lucro. De acordo com Cararini, 48% da riqueza gerada pela companhia vai para governos federal, estaduais e municipais; 19% vai para fornecedores e para o sistema financeiro; 12% vai para os salários dos trabalhadores (do mais alto, na presidência, aos mais baixos); e 11% para os acionistas.
“A força de trabalho, que é quem produz a riqueza da Petrobrás, fica com percentual muito semelhante aos acionistas, que nada produzem”, provoca o expositor.
Organização dos trabalhadores
Cloviomar também analisou o cenário para a organização dos trabalhadores e os desafios impostos pela pandemia da covid-19 e por mudanças na produção. Ele lembra, por exemplo, que neste momento cerca de 21 mil trabalhadores administrativos estão em home office, e que uma grande parcela poderá continuar, gerando impactos no modo como se veem como trabalhadores e como poderão ser mobilizados.
A pandemia também provocou incertezas em relação ao preço internacional do barril de petróleo. Por outro lado, a inflação brasileira está baixa, o que permite uma negociação mais tranquila em relação a reajustes e abre caminho para outras pautas. Cararine adverte, no entanto, que o histórico recente da empresa tem sido marcado pelo quase inexistente espaço para negociações — tanto que, em 2019, o acordo coletivo precisou ser mediado pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho) e ainda há várias pendências sendo cobradas em comissões.
O palestrante também destacou que, além das mudanças nas áreas administrativas, as áreas operacionais estão passando por grandes transformações, com a chamada “indústria 4.0”, que vão impor a necessidade de que os trabalhadores pensem em novas formas de organização e mobilização.
As mudanças pelas quais passa a Petrobrás, nesta política de maximização do lucro a curto prazo, como se fosse uma empresa qualquer, e de comportamento distanciado de compromissos estratégicos do País, tem se refletido até mesmo nas relações internas. A própria gestão admite que, na sua ouvidoria, a maioria das reclamações (37%) passou a ser de casos de violência no ambiente de trabalho, refletindo a truculência de chefias chamadas a entregar resultados dentro deste modelo predatório.