Coletivo de Mulheres da FUP cobra apuração de denúncias de assédio contra o ministro Silvio Almeida e acolhimento das vítimas

“A reconstrução do Brasil passa pela desconstrução de todas as formas de opressão”, afirmam as mulheres petroleiras em nota divulgada nesta sexta (06/09).

Leia a íntegra:

Nota do Coletivo de Mulheres Petroleiras da FUP

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade sindical que representa cerca de 100 mil trabalhadores e trabalhadoras da categoria petroleira de todo o país, vem manifestar-se acerca das denúncias de assédio sexual contra mulheres perpetradas pelo Ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Nossa Federação, que este ano completa 30 anos, ao longo de sua existência, vem aprimorando suas estruturas internas para fortalecer a luta contra todas as formas de opressão e a favor da valorização da diversidade e dos direitos humanos.

No início de 2023, primeiro ano da reconstrução do Brasil, no contexto de disputa constante com valores fascistas em nosso país e no mundo, atuamos prontamente frente à gestão da Petrobrás perante as denúncias de assédio sexual ocorridos dentro na nossa empresa.

Cobramos, naquele momento, aprimoramento das medidas de acolhimento e de atendimento às vítimas, bem como um processo célere de investigação que garantisse o direito à defesa e a proteção das denunciantes. Atuamos para que, caso comprovada a denúncia, houvesse medidas disciplinares contra os assediadores, mas também de desconstrução de comportamentos de masculinidade tóxica, com reeducação dos agressores e campanhas gerais na companhia.

Sabemos que a sociedade segue em uma polarização política nefasta, que se baseia em mentiras e ódio, e que mulheres e pessoas negras sofrem mais ataques por serem precursores de uma mudança na sociedade e de ocupação de espaços de poder no Brasil.

A imposição de critérios culturais machistas relega às mulheres uma identidade histórica marcada pela invisibilidade, pela exclusão e pela violência, agravada quando se conjugam identidades de gênero e racial, ou seja, quando as vítimas são mulheres negras.

Portanto, tentativas de invalidar as denúncias, tentando descredibilizar os denunciantes, só aumentam a violência contra as mulheres e a dificuldade em vencer a barreira para efetuar a denúncia.

Nos solidarizamos com todas as vítimas de violência sexual que rompem o silêncio, mesmo quando o ato da denúncia possa ser realizado por terceiros e de forma anônima.

Pelo histórico de culpabilização da vítima, perseguições e até atos de violências contra as denunciantes, jamais podemos descredibilizar denúncias que são altamente difíceis de serem realizadas e de terem evidências concretas no sentido de provas materiais.

Cobramos que sejam tomadas todas as medidas de acolhimento às vítimas e que seja realizada uma investigação isenta, com garantia do direito de defesa e de proteção das vítimas, denunciantes e possíveis testemunhas.

A reconstrução do Brasil passa pela desconstrução de todas as formas de opressão. Esperamos que o governo federal tome medidas que possam servir de exemplo de como tratar e apurar denúncias de desrespeito aos direitos humanos, seja contra quem for, garantindo o direito de defesa, mas tomando as medidas imediatas necessárias para proteção e acolhimento da vítima, inclusive durante o processo de investigação.

Rio de Janeiro, 06 de setembro de 2024