Paralisação da construção de complexo petroquímico Comperj arruína a vida de milhares de trabalhadores e Itaboraí se torna palco de violência
Imprensa da CUT – Assim que o governo Lula iniciou o processo de investir pesadamente na construção do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), trabalhadores de vários estados, como Minas Gerais, Bahia e do próprio Rio de Janeiro, começaram a chegar ao município de Itajaí atrás de oportunidades de emprego. E a cidade, que tinha apenas 20 mil habitantes, recebeu de imediato mais 12 mil pessoas – 3 mil eram motoristas de ônibus contratados para atender a necessidade das empresas de levar e trazer seus funcionários que trabalhavam na construção da Comperj e na expansão do comércio local, que apostava em novas lojas, shoppings, escolas, hotéis, entre outras atividades.
Mas isso tudo começou a ruir há 4 anos, quando a Operação Lava Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, passou a interferir nos negócios da Petrobras e afetou toda a cadeira produtiva do petróleo e gás, incluindo construtoras. A construção da Comperj foi uma das obras mais afetadas e parou totalmente, em especial na gestão do atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, colocado no cargo pelo golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP).
Diferentemente de países da Europa, dos Estados Unidos, Canadá e Japão, que punem as pessoas que praticam ilegalidades, mas preservam as empresas, a economia de seus países e, consequentemente os empregos nas operações contra corrupção; no Brasil, pune-se o CNPJ, sem preocupações com o impacto econômico que isso representa.
A Lava Jato é um exemplo de operação contra corrupção que atua diretamente em oposição ao que ocorre nesses países, diz Adhemar Mineiro, técnico do Dieese e assessor da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip).
“Nesses países quem sofre penalidade é o executivo, a figura física que praticou o ato de corrupção, e não a empresa, que aqui no Brasil, fica impedida de participar de licitações e tem uma série de sanções, o que pode prejudicar suas operações e levar até a demissão de funcionários”.
Segundo Adhemar, essa confusão entre pessoa física e jurídica acaba por prejudicar ainda mais os negócios, especialmente no caso das estatais.
“Punindo a empresa, e poupando quem praticou o crime, você deixa todo o corpo funcional inibido para seguir adiante nas operações da empresa”, explica o técnico do Dieese.
“Todo mundo fica com medo de assinar documentos e tomar decisões. Só o fato de saber que seus atos são policiados leva as pessoas a não querer se envolver em processos decisórios. Isso é muito ruim”, diz Adhemar Mineiro.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos dos Municípios de Niterói, Itaboraí e Tangá e secretário de Administração e Finanças da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM /CUT), Edson Carlos Rocha da Silva, acrescenta mais um dado a essa reflexão sobre os efeitos da Lava Jato na economia. Segundo ele, essa é uma operação liderada por empresas internacionais que querem acabar com a independência da produção do petróleo no Brasil.
“A refinaria da Comperj não era só para refinar combustível, era também para fornecer produtos essenciais às indústrias de plástico e cosméticos, o que tornaria o Brasil autossuficiente no setor”, denuncia o dirigente.
“As consequências da Operação Lava Jato ainda vão demorar a desaparecer”, diz o técnico do Dieese, Adhemar Mineiro.
E a pequena Itaboraí é um exemplo do desastre que a operação comandada por Moro representa para as empresas, a economia e o desenvolvimento do país.
Somente no Comperj foram demitidos 14 mil trabalhadores e trabalhadoras, e com a quebra do comércio local, o número de desempregados subiu para 25 mil, um número maior do que o total de habitantes da cidade quando as obras tiveram início.
Hoje, a cidade é quase fantasma, com salas comerciais, casas, pousadas e hotéis fechados, com tapumes e abandonados. São pelo menos quatro mil salas comerciais fechadas e, segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), o comércio da cidade encolheu mais de 40%.
Itaboraí: do auge no governo Lula à ruína com Temer
Edson Carlos conta que o sonho de milhares de trabalhadores era apoiado pelo sindicato dos metalúrgicos, debatendo e propondo alternativas para criar uma infraestrutura adequada aos novos habitantes da Região.
Junto com o Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Leste Fluminense (Conleste) – formado entre cidades vizinhas, começaram a pensar em questões como empregabilidade, moradia e dignidade para os trabalhadores. O objetivo do sindicato e do consórcio era evitar que na cidade ocorresse o mesmo que Duque de Caxias (RJ), onde há uma grande favela ao redor da refinaria ali instalada.
Com isso, o Conleste começou a dotar o centro urbano de Itaboraí, além das cidades vizinhas, como Cachoeiras do Macuco e Majé, com infraestrutura para atender a futura demanda de trabalhadores.
Já os sitiantes e produtores de laranjas locais passaram a alugar suas casas e terrenos para festas e churrascos para que os trabalhadores de outras cidades e estados pudessem receber suas famílias, nos finais de semana.
“O que se vê agora são ruínas”, lamenta Edson Carlos Rocha da Silva.
“A Comperj nunca funcionou. Hoje há um monte de ferro sem produzir nada. Se a construção tivesse continuidade a refinaria estaria funcionando a pleno vapor, em três anos”.
A esperança agora é a instalação de uma unidade de processamento de gás natural (UPGN) na cidade, cuja licitação foi ganha por um consórcio chinês e brasileiro. Mas, o total de vagas de trabalho que a UPGN vai gerar será muito menor do que o necessário para toda a mão de obra desempregada.
“Creio que a nova refinaria absorverá apenas 5 mil trabalhadores, o que é pouco diante do número de desempregados na cidade”, diz Paulo Cesar dos Santos Quintanilha, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Empregados nas Indústrias de Montagem e Manutenção do Município de Itaboraí, (Sintramon).
Além disso, lembra Quintanilha, a operação da refinaria – a partir do consórcio entre a empresa chinesa Kerui e a brasileira Método – só entrará em funcionamento em 2021. Até lá os desempregados de Itaboraí lutarão para sobreviver e conseguir uma recolocação no mercado de trabalho.
Violência
A violência também toma conta de Itaboraí. As milícias chegam a cobrar o dobro do preço por um botijão de gás ao trabalhador desempregado.
“Isto é um reflexo do desemprego e abandono dos trabalhadores à própria sorte. Agora criticam a violência, mas tiram o pão nosso de cada dia. As autoridades deveriam estar preocupadas com a estrutura do país e a empregabilidade do povo brasileiro”, critica Edson Carlos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos local.
Segundo ele, Itaboraí é apenas uma mostra do que pode vir a acontecer em outras cidades do país com o desmonte da indústria brasileira provocada por Temer.
“Só lamento que pessoas como Pedro Parente, Temer e alguns políticos não pensem no Brasil como Nação. Eles vêem como meio de ganhar dinheiro e se perpetuarem no poder”, diz.
“A elite retomou a luta de classes no Brasil porque não se conforma de ter tido um trabalhador na presidência da República que tenha mudado o país. Foi preciso prender o Lula, sem provas, para colocar o país aos pés do agronegócio“.
Impeachment de Dilma e Lava Jato tiraram o protagonismo internacional do Brasil
Ante de iniciar o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita com o voto de 54 milhões de eleitores, e a consumação do golpe de 2016, o Brasil vivia o auge de seu protagonismo político e econômico no cenário mundial.
As empresas brasileiras se aproveitaram do respeito internacional adquirido pelo país, junto ao G20 e na Brics -, e da atuação do BNDES no exterior, para alavancar seus negócios, especialmente, empresas como Odebrecht, OAS, Vale do Rio Doce e a Petrobras.
Segundo Adhemar Mineiro, do Dieese, a derrocada do protagonismo brasileiro se concretizou com a operação Lava Jato, o fechamento dos escritórios do BNDES no exterior e o impeachment de Dilma.
“Após o impeachment, Temer decidiu fechar os escritórios do BNDES em Montevidéu (Uruguai), Londres (Inglaterra) e Johanesburgo ( África do Sul), as operações dessas empresas no exterior começaram a passar por mais dificuldades”, explica.
Fonte: Rosely Rocha (Portal CUT)